O quarto de hotel estava mergulhado em uma tensão sufocante, o som abafado da cidade lá fora contrastava com o silêncio pesado entre nós dois. Tyler estava parado em frente ao banheiro, segurando no ar os saquinhos completados por droga, com os ombros tensos e os punhos cerrados ao lado do corpo.
Eu posso sentir a raiva emanando dele, mesmo sem uma única palavra saindo da sua boca. E honestamente, não sei ao menos como começar. Agora não é só eu que sei que nunca estive sóbria, meu melhor amigo também sabe.
— Você voltou a usar essas porcarias. — iniciou em um tom baixo, quase um sussurro. Seus olhos negros se encheram de água rapidamente. — Me diga que é mentira, Billie. Diga que guardou de algum amigo, diga que se confundiu.
— Porra Ty, eu posso explicar. — engulo seco, a voz trêmula, tentando desesperadamente encontrar uma saída, uma desculpa, qualquer coisa. Sei que ele não vai acreditar porque nem eu acredito. A mala jogada no chão ao lado da cama, o olhar vazio no meu rosto – todos os sinais estão literalmente na sua frente.
— Pode explicar o caralho, Eilish! O que é que você vai explicar, hum? Me fala. Porque o que eu estou vendo é você se afundando nessas merdas de novo. O que ia fazer agora? Ia pegar um saquinho, ir no banheiro e cheirar tudo? — cerrou o maxilar, apertando com força as drogas em sua mão. Ele deu um passo na minha direção, franzindo a sobrancelha de pura incredulidade. — Você é patética.
— E se eu fosse cheirar, Tyler? O que faria? Isso não é da sua conta, nunca foi. Agora devolve a porcaria das minhas drogas e não se mete na merda da minha vida. — rebato, tentando manter a respiração calma e falhando miseravelmente.
— Ah, eu me meto sim! Você se reaproximou da Odessa, tenho certeza. Aquela drogada que vive fugindo da polícia, cheirando tudo que vê pela frente e abrindo as pernas sempre que você aparece. Porra, Billie. — aumentou o tom de voz, puxando os cachos para trás.
— Nunca nos afastamos caso queira saber. Diferente de todos vocês, a Odessa me entende, ela sabe que um vício não é tão fácil de lidar e que eu preciso enfrenta-lo do meu jeito, da minha maneira. — aponto o indicador na minha direcão.
— Da sua maneira? Oh, sim, vou cheirar duas carreiras e mentir para os meus amigos que estou sóbria, olha como estou lidando perfeitamente bem com o meu vício. — soltou uma risada sem humor algum. — Porra, qual é o seu problema?
Recuo um passo para trás, apertando e abrindo o punho várias vezes como uma tentativa de distrair meu cérebro das drogas em sua mão. Estou com tanta vontade de usar que por um momento não estou pensando, só quero socar a primeira coisa que vejo pela frente e aliviar toda essa tensão que está corroendo meu corpo.
— Você é egoísta pra caralho, Billie! Tão egoísta que tenho dó da Alyssa, ela não merece alguém que prefere morrer do que ficar sem usar essas merdas. — berrou, acertando um chute na mala jogada no chão. — Alyssa não merece alguém que ao invés de preferir ficar com ela, vai fugir e ir para os braços da fornecedora em troca de algumas gramas de heroína, cocaína, seja lá o que for.
— Não fala dela! — grito pela primeira vez, levanto o punho em direção ao seu rosto, parando no percurso. — Ela não tem nada a ver com isso e você sabe!
— Então agora vai me bater, huh? É a única coisa que consegue fazer, não é? Porque tenho certeza que está se culpando aí dentro. — apontou para mim. — Você sabe que está se afundando, mentindo para ela, mentindo para nós e acima de tudo, mentindo para você mesma.
Quero gritar, quero argumentar, dizer que eu exagerei mas continuo sendo eu mesma, continuo sendo a Billie que Tyler Davis conheceu há uns anos atrás. Mas isso não tira sua razão e muito menos justifica a merda onde me enfiei, e olha, estou realmente e verdadeiramente afundada.
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dopamina | billie eilish
FanfictionQuando se é um viciado, é difícil encontrar algo que te faça realmente se sentir vivo, além das drogas. Billie Eilish, vocalista de uma banda famosa, sabe bem como é ser viciada, como é buscar dopamina em um mundo completo de violência, fama e vício...