Capítulo 1

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POV. Enid

O som das rodas de skate deslizando sobre o concreto reverberava pela pista.
Era um daqueles dias em que o sol de Los Angeles queimava a pele e aquecia a alma.

Aos 17 anos o que me movia era a adrenalina. Sem pensar demais no futuro, o presente me absorvia completamente quando eu estava na pista.

A brisa quente balançava mechas do meu cabelo loiro, agora tingido em um azul pastel que cintilava sob o sol. Eu me sentia viva em cada impulso, em cada movimento. Aquele era um refúgio de liberdade, onde ninguém podia me dizer o que fazer ou quem ser. Aqui, eu podia ser Enid Sinclair a garota vibrante, cheia de energia e sede de vida.

– Vai, Enid! Mostra pra gente o que você sabe!

O eco da voz de Yoko parecia uma trilha sonora para o momento e o sorriso de Bianca, sempre carregado de um toque de sarcasmo, brilhava à distância, e eu sabia que ela estava só esperando o momento certo para fazer algum comentário espirituoso.

Eu balancei a cabeça, sorrindo com a provocação de Yoko, e deslizei pela rampa com confiança. Senti o skate ganhar velocidade e o vento começar a soprar mais forte contra meu rosto. O mundo ao meu redor parecia desacelerar à medida que me preparava para a manobra que já havia praticado mil vezes na minha cabeça. Um "kickflip". Nada muito complicado para alguém com minha experiência. Ou pelo menos era o que eu pensava.

Enquanto eu voava pelo ar, por um breve instante tudo parecia perfeito. O sol brilhou mais intensamente, o vento parecia mais suave. E então, como se a realidade me puxasse de volta, o chão veio rápido demais. O skate não respondeu da maneira que eu esperava, e antes que eu pudesse reagir, me vi deitada no concreto, o impacto reverberando pelo meu corpo.

– Merda! – murmurei entre dentes, sentindo a dor irradiar do quadril. Meus dedos se fecharam em torno do skate, e eu me forcei a sentar, ainda meio zonza.

Eu estava pronta para rir de mim mesma, talvez fazer uma piada para disfarçar o incômodo, quando uma risada baixa, quase imperceptível, chamou minha atenção.

Levantando a cabeça, meus olhos se fixaram em uma figura que eu não havia notado antes.

Encostada contra a cerca da pista, havia uma garota. Seus cabelos negros lisos caíam em cascata sobre os ombros, e sua pele pálida contrastava de forma dramática com suas roupas completamente pretas.

Ela parecia deslocada, como se tivesse sido arrancada de algum filme de terror gótico e jogada ali, no calor da tarde ensolarada.

Por um instante, fiquei ali, apenas observando. Havia algo nela... algo que me intrigava profundamente. Não era apenas o contraste de sua aparência com o ambiente ao redor. Era o olhar dela. A maneira como seus olhos escuros pareciam ver através de tudo e todos, como se estivessem analisando o mundo de uma perspectiva que ninguém mais conseguia alcançar.

Me levantei devagar, sentindo o calor do sol misturado à dor no quadril. Puxei o skate para perto, mais por hábito do que por necessidade, e comecei a andar em direção a ela, sem saber exatamente o que iria dizer. Talvez fosse a adrenalina, talvez fosse a curiosidade insaciável que eu sempre senti por pessoas que pareciam diferentes, mas havia algo naquela garota que me chamava.

– Pelo menos a vista daqui é bonita – provoquei, deixando escapar um sorriso atrevido. 

A garota de preto ergueu uma sobrancelha, sem sorrir. Ela parecia inabalável, quase como se estivesse entediada com minha tentativa de humor. Depois de uma pausa que pareceu durar uma eternidade, ela finalmente respondeu com uma voz baixa e fria. 

– Diria o mesmo se você tivesse batido a cabeça.

O tom dela me pegou de surpresa, mas de uma maneira boa. Aquelas palavras, cheias de sarcasmo, me divertiram. Eu adoro quando alguém me desafia, e essa garota... bem, ela definitivamente sabia como provocar.

– Calma, princesa – retruquei, ainda sorrindo – Foi só um elogio.

Por um momento, o silêncio se instalou entre nós, mas eu podia ver, na ligeira curva que se formou em seus lábios, que ela não estava tão indiferente quanto parecia. Havia algo ali, algo que talvez ela estivesse tentando esconder, mas que eu podia perceber. 

– Você tem nome ou prefere manter o mistério? – perguntei, inclinando a cabeça para o lado, esperando uma resposta. 

Ela hesitou, mas então, com um meio sorriso que mal levantou o canto de seus lábios, respondeu com uma piscadela: –Pra você, vou manter o mistério."

E, sem mais uma palavra, ela se afastou, caminhando lentamente até desaparecer de vista.

Fiquei ali parada, observando-a se distanciar, um sorriso mais amplo tomando conta do meu rosto. Aquela garota tinha algo especial, algo que eu não conseguia explicar, mas que definitivamente queria descobrir. 

Voltei para a rampa, tentando me concentrar nas manobras, mas minha mente continuava voltando àquela figura sombria e misteriosa. Quem era ela? O que estava fazendo ali? E, mais importante, por que eu sentia essa vontade incontrolável de conhecê-la?

A tarde passou sem mais surpresas. Yoko e Bianca continuaram rindo e comentando sobre minhas quedas, mas meus pensamentos estavam longe.

Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de tons alaranjados, me despedi das meninas e comecei a caminhar de volta para casa, o skate debaixo do braço.

No fundo, eu sabia que provavelmente nunca veria aquela garota de novo. Afinal, quantas chances há de encontrar alguém como ela duas vezes em Los Angeles?

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Mais chances do que você imagina Enid 😉

Nos vemos em breve pessoal.

_Débzzz

Skater Girl - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora