Gotas de chuva, ruas desertas e trovões anunciando o início de uma tempestade. Qualquer um em sã consciência correria imediatamente para casa afim de ficar bem longe do temporal que estava se formando no céu. Entretando, eu estava à espera de toda a água que se encontrava acumulada nas nuvens prontas para cair, porque parecia que tudo o que eu tentava buscar evaporava como gás assim que chegava em minhas mãos.
- Oi Alexa... - Falei ao atender o telefone que estava vibrando em meu bolso
- Não... Não me diga que não conseguiu? - A voz dela era de tristeza
- Acho que não preciso falar, já está bem escancarado.
A chuva começou a cair rapidamente, molhando cada parte da rua em que
eu caminhava lentamente. Gotas e mais gotas de água caiam sobre mim, começando a enxarcar cada centímetro do meu corpo. Eu me encontrava no fundo do poço.- Amiga, por favor não fique assim... Você com certeza terá outras oportunidades! Tente acreditar um pouco mais em si mesma.
Autoestima e autoconfiança... Dois sentimentos emocionais que não existiam mais dentro de mim e se existiam, não faziam mais efeito sobre mim. Não importava quem tentasse me fazer acreditar de novo em mim mesma, eu já me considerava um puro fracasso humano! Se é que a humanidade ainda residia dentro de meu ser.
- Alexa, não é fácil crer em mim mesma depois de ser demitida de mais de dez empregos e ser descartada em mais de trinta entrevistas... Acha que é tão fácil assim acreditar em mim mesma depois de tudo isso!?
- Calma Sophia... Por favor não se desespere!
- É inevitável não se desesperar Alexa!
Um barulho ensurdecedor de um trovão nos chamou atenção, me fazendo ficar com os olhos marejados e querendo ao mesmo tempo, sumir da face da Terra de uma vez por todas! O fracasso estava estampado em minha testa, avisando a todos o ser inútil e que com certeza não tinha mais serventia para realizar trabalho nenhum.
- Vá para casa, eu prometo que irei fazer de tudo para que você pare de se achar inútil. Confie em mim! - A voz dela tinha determinação
A chamada foi encerrada, a chuva me castigava de um jeito crítico! Todos os papéis que carregava dentro de uma pasta estavam encharcados de água, minhas roupas e bolsa já se encontravam sem condições. A escuridão não só tomava conta da cidade, mas de mim também.
Uma semana se passou. O dono do prédio sujo e acabado em que eu morava bateu em minha porta de um jeito totalmente amedrontador e ameaçador. Eu não gostava dele, pois era um bêbado aproveitador que ameaçava todos os inquilinos daquele prédio caído Lembro-me que certa vez correu um boato de que um dos vizinhos desapareceu após ficar uma semana sem conseguir pagar o aluguel. Chamamos a polícia naquela
época, porém nunca conseguiram localizar o vizinho. Mais tarde soubemos que ele havia sido morto por uma gangue, a mando do dono do prédio! O que nos deixou totalmente aflitos e apavorados.- Pirralha! - Exclamou ele ao bater mais uma vez na porta
- Estou indo senhor! - Meu coração já se encontrava em desespero
Fui até a porta e com a mão tremendo mais do que vara verde, abri a porta. Dando de cara com o dono do prédio de braços cruzados e me olhando com fúria nos olhos. Um pavor se instalou em mim naquele exato momento.
- Bom dia, senhor... - Falei receosa
- Seria um bom dia se você! Pirralha medíocre, fizesse a GENTILEZA de pagar seus três meses de aluguel! - Gritou ele
- Eu tenho metade do valor senhor.
- Metade do valor não é mesmo que todo o valor! Sinceramente, dentre todos esses inquilinos veacos, você é a mais problemática! Não se sente mal em dever aos outros!? Até a prostituta do andar de baixo paga o aluguel em dia e você não!
Baixei a cabeça me sentindo a pior pessoa do universo.
- Eu vou pagá-lo... Eu dou minha palavra, senhor.
- Você tem duas semanas para me pagar! Senão serei obrigado a tomar medidas drásticas! E acredite, você não irá gostar! Sabe que só tolero todo esse atraso porque tem um corpo bonito e é bonita, mas isso já está passando dos limites! Está avisada!
Dito tudo aquilo ele se foi xingando todos os tipos de palavrões que existem. Fechei a porta e desabei de chorar no chão, a angústia e a frustração havia atingido seu ponto máximo naquele momento. Chorei
tanto que as lágrimas secaram e as forças desapareceram do meu corpo.Naquele dia eu não consegui fazer nada. Apenas recapitulei tudo o que já tinha passado durante toda minha vida. Não possuía família, apenas um tio que era viciado em bebida, meus pais desapareceram depois que completei cinco anos, segundo esse meu tio, eles queriam viver a vida deles sem a minha presença. Uma dor insuportável a qual sempre
carreguei. Amigos, durante o ensino médio havia vários... Porém, sumiram como pó assim que me formei. Restando apenas a Alexa... A única que não me abandonou durante todos esses anos.A noite havia caído, fome e dores me cercavam! Mas infelizmente eu não
tinha mais dinheiro... E eu não podia mais pedir emprestado para a Alexa, pois já tinha pedido demais.- Por favor tio... Atende. - Apreensão e ansiedade me cercava
Eu sabia que poderia não ser atendida, mas a fome estava me rodando como um leão caçando um cervo. Depois de três tentativas ele havia atendido.
- Oi, minha sobrinha favorita! - Ele estava em um local muito barulhento e que claramente já se encontrava bêbado
- Tio, por favor... Poderia me emprestar algum dinheiro? Preciso me alimentar.
- Do que você está dizendo? O carro quebrou de novo e eu não vi?
- Não tio! Eu preciso de dinheiro para comer!
- Quer beber!? Não pode Sofi! Você ainda é menor de idade! Seus pais não autorizam. Não pode.
- Tio por favor! Eu não sou menor de idade, já tenho vinte e quatro anos! Por favor, estou implorando, me ajude! - O desespero reinava em minha voz
- Vou falar com seus pais que você está indo para um mau caminho.
A ligação foi encerrada bruscamente. Eu caí no chão, as forças já estavam começando a sumir do meu corpo! Fazia dias que não conseguia me alimentar direito, apenas comendo sobras que a dona de uma lanchonete próxima ao prédio me dava. Contudo, aquela situação a qual havia chegado era crítica. Sabia que se ficasse ali esperando algum milagre, com toda certeza iria desmaiar de fome e provavelmente não acordaria para contar a história. Vesti uma roupa mais adequada e saí com um pouco de dificuldade do prédio, minha visão já estava turva e a cabeça girava como se eu estivesse acabado de sair de um carrossel.
- Eu só preciso chegar em alguma praça... Com certeza eles podem me dar alguma coisa. - Falei para mim mesma
Andei por algum tempo, completamente desnorteada e com dores! Pois nem remédios eu conseguia comprar. Há tempos que estava sofrendo com dores terríveis no estômago, porém nunca consegui me tratar corretamente, os centros médicos da comunidade onde morava, não
funcionavam por falta de verbas públicas, o que não só dificultava para mim, mas para todos da comunidade! Fazendo com que os índices de pessoas doentes aumentassem drasticamente.Passei em frente a um restaurante chique que havia no centro da cidade, aquele lugar era um dos lugares em que eu mais sonhava em ir... Sempre deduzi que a comida de lá era a melhor de todas! Por que sempre via os garçons servindo lagostas, caviar, medalhões de carnes caras e vários outros tipos de alimentos que custavam um rim. Entretanto, sabia que esse desejo era impossível demais para alguém que não conseguia nem pagar o aluguel. Por isso, apenas passei por ele... Vendo todas aquelas pessoas comendo e sorrindo dentro do restaurante. A tristeza juntamente com a decepção tomava conta de mim, meus pés estavam errando os passos e o frio começava a envolver grosseiramente o meu corpo, aquela noite era prevista como a mais gelada daquele mês.
- Só mais um pouco Sophia... - Tentei me motivar
Abracei meu corpo com força, buscando desesperadamente algum calor. O vento brusco e gélido fazia meus cabelos dançarem descontrolados, enquanto a pele, exposta ao frio cortante, se arrepiava como se cada fio sentisse o impacto. Minha vista já estava escurecendo e todo o meu corpo parecia que tinha desistido de tentar prosseguir... Até que de repente, tudo escureceu de uma só vez.
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Encurralada Pelo Amor
RomanceSophia está no limite. Descartada em inúmeras entrevistas e vivendo em condições precárias em um prédio que ameaça desabar, ela enfrenta diariamente as cobranças agressivas do proprietário por não conseguir pagar o aluguel. Desesperada, ela vê uma l...