IV

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Eram quatro e meia da tarde e eu ainda estava em minha mesa trabalhando, depois daquele acontecido que Angie foi conversar sobre algo na sala da chefe.

Eu, como sou bisbilhoteira, fui tentar ouvir um pouco da conversa. Mas as únicas coisas que eu soube foi o nome da chefe e uma frase que ela disse, alguma coisa com "Ela é minha"

Ela quem?

Eu me recostei na cadeira, tentando ignorar a curiosidade que insistia em me distrair. O nome "Alondra" e aquela frase ecoavam na minha mente, mas forcei um sorriso enquanto focava novamente na tela do computador.

— Concentração, Rai — murmurei para mim mesma, clicando para abrir o próximo relatório que precisava revisar. Tinha mais coisas importantes para pensar. A última coisa que eu precisava era me meter nos dramas alheios, especialmente se envolviam minha nova chefe e Angie.

Mas algo naquela frase "Ela é minha" não saía da minha cabeça. Me obriguei a olhar para o relógio, contando os minutos para o fim do expediente.

Eu tentei me concentrar no trabalho, mas minha mente continuava a divagar. Algo naquela frase mexia comigo, talvez pelo tom possessivo. Suspirei, empurrando os pensamentos para longe. Precisava manter o foco, ou o tempo ia passar mais devagar ainda.

Levantei para ir pegar um café, esperando que isso me ajudasse a acordar de vez. No caminho, passei perto da sala de Alondra. A porta estava entreaberta, e não pude evitar uma olhada rápida lá dentro. Ela estava de costas, olhando para fora da janela, parecendo completamente alheia a tudo ao redor. Algo na postura dela parecia... pesado, como se estivesse carregando o peso do mundo.

Eu quase parei, mas me forcei a continuar andando.

"Café, Rai. Você só veio pegar um café", pensei, tentando me convencer a não me meter.

No final do expediente, me levantei para pegar um documento e, no caminho, passei novamente pela sala da chefe. A porta estava entreaberta, e dessa vez, consegui ver Alondra sentada à mesa, olhando para algum documento, com uma expressão de concentração.

— Ei, Rai — Angie me chamou, surgindo de repente ao meu lado. — Parece que você está olhando muito para a chefe, interessada?

— Que? Não. Eu só estava indo pegar um... documento. — respondi, tentando disfarçar o nervosismo.

— Hmm, claro — Angie respondeu com um sorriso malicioso. — Só cuidado para não deixar as coisas óbvias. A Alondra não costuma gostar de ser o centro das atenções... a não ser quando ela quer.

Meu rosto esquentou, e eu me virei rapidamente, pegando o documento que precisava. Angie me deixou com a sensação de que sabia mais do que estava deixando transparecer, e isso me incomodava.

— Bom, vou deixar você com seus... documentos. — Angie piscou antes de se afastar, rindo.

Voltei para minha mesa, tentando focar no trabalho. Mas agora, além da frase misteriosa de Alondra, tinha que lidar com as provocações de Angie.

Antes de sair, dei uma última olhada para a sala de Alondra.

Mas, de repente quando eu fui me virar para o caminho do elevador, ouvi uma voz.

— Rainelis. — Disse, a voz com um tom sério.

Congelei por um segundo, reconhecendo imediatamente a voz. Era Alondra, e ela estava me chamando. Virei-me lentamente, tentando parecer calma, embora meu coração estivesse batendo forte no peito.

— Sim? — respondi, encarando-a, percebendo que ela estava de pé agora, me olhando com um olhar firme.

Ela fez um gesto para que eu me aproximasse. Caminhei até sua sala, tentando controlar o nervosismo, sem saber exatamente o que esperar.

— Fecha a porta, por favor — disse ela, sua voz baixa, mas firme. Fiz o que ela pediu, e o clique da porta se fechando parecia mais alto do que deveria.

— Preciso conversar com você — continuou ela, cruzando os braços, os olhos fixos nos meus.

Senti um arrepio percorrer minha espinha enquanto fechava a porta, me perguntando o que ela queria falar comigo. Ao me virar, percebi que Alondra não tirava os olhos de mim, o que só aumentava meu nervosismo.

— Sobre o que você queria falar? — perguntei, tentando manter a voz firme, embora meu coração estivesse acelerado.

Ela se aproximou lentamente, mantendo aquele olhar penetrante, como se estivesse estudando cada movimento meu.

— Eu percebi que você tem prestado bastante atenção em mim ultimamente — disse ela, com um leve sorriso nos lábios. — Não que eu me importe... Só me pergunto o porquê.

Engoli em seco, tentando formular uma resposta.

— Eu... não foi intencional, eu só... — comecei a gaguejar, mas ela me interrompeu, se aproximando ainda mais, a poucos passos de mim.

— Não precisa ficar nervosa, Rainelis. Eu só estou curiosa — continuou ela, sua voz mais suave agora, mas ainda com aquele tom firme. — Tem algo que você quer me dizer?

Eu sentia o peso da pergunta, e embora quisesse negar, algo me impedia de mentir descaradamente. Eu sabia que havia algo mais por trás dessa conversa, mas não tinha certeza do que ela estava realmente pensando.

— Nada, Srta López — Fechei as mãos e coloquei para trás do meu corpo.

Alondra levantou uma sobrancelha, claramente não convencida pela minha resposta. Ela deu mais um passo em minha direção, ficando tão perto que eu podia sentir o cheiro do perfume suave que ela usava.

— Tem certeza? — perguntou, inclinando levemente a cabeça, os olhos ainda fixos nos meus.

Eu sentia meu coração batendo forte contra o peito, tentando não demonstrar o quão desconfortável eu estava.

— Absoluta — respondi, minha voz soando um pouco mais baixa do que eu queria.

Ela soltou um suspiro, mas não se afastou. Ao invés disso, deu um meio sorriso, como se estivesse satisfeita com algo que apenas ela sabia.

— Certo. Eu acredito em você... por enquanto — disse, voltando para a mesa e pegando um documento qualquer. — Pode ir agora.

Sem esperar mais nada, me virei rapidamente e saí da sala, o rosto queimando de vergonha e confusão. O que tinha acabado de acontecer?

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