06 - Brasil, 2024

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~Pov Amanda~

É estranho pensar em como o tempo passa rápido.

Quando cheguei ao Brasil, a vida parecia um caos absoluto. Eu estava grávida, sem rumo, com o coração apertado por incertezas e medos. Minha tia Júlia foi minha salvação naquela época, me recebendo de braços abertos. Logo ela conseguiu um emprego para mim em sua loja de joias recém aberta.

Os primeiros meses foram difíceis. A gravidez exigiu de mim muito mais do que eu estava preparada para dar.

Além das mudanças físicas, tiveram as emocionais: o medo constante de falhar, de não ser uma boa mãe, de não conseguir sustentar minha filha. Lembro das noites sem dormir, pensando em como seria criar uma criança sozinha. Mesmo com a ajuda da minha tia, sentia um peso imenso sobre meus ombros, afinal, não era justo depender dela para sempre.

Quando Luna nasceu, a vida mudou de novo.

No começo, foi um turbilhão: o choro constante, as fraldas, as madrugadas intermináveis. Mas, com o tempo, fui aprendendo. Ela se tornou minha força, meu motivo para lutar mais a cada dia. Porém, eu sabia que não podia continuar vivendo na casa da minha tia.

Quando minha licença maternidade terminou, voltei a trabalhar na loja, e ainda consegui um segundo emprego para complementar a renda.

Foi a fase mais desgastante da minha vida: solteira, dois empregos e uma filha pequena. Muitas vezes, mal tinha tempo para respirar, mas sabia que precisava persistir.

Depois de oito meses de muito trabalho duro, economizando cada centavo possível, consegui comprar um pequeno apartamento. Modesto, simples, mas nosso. Cada canto desse lugar é fruto do meu esforço, e para mim e Luna, é mais do que suficiente.

Agora, seis anos depois, estou diante de outro grande marco: o primeiro dia de aula da minha menina.

Ela cresceu tão rápido, e cada dia ao lado dela me lembra de como vale a pena cada sacrifício. Estava nervosa, claro, mas é mais por mim do que por ela. Luna é destemida, cheia de vida, sempre enfrenta as novidades com uma curiosidade e entusiasmo que eu invejo.

Entrei em seu quarto, com o coração apertado e orgulhoso ao mesmo tempo. A luz do sol passando pelas frestas da cortina, iluminando os cachos escuros que se espalhados sobre o travesseiro. Fiquei ali por um momento, apenas observando-a.

Como é possível que essa garotinha, tão cheia de energia e alegria, seja minha filha? Às vezes, eu me pergunto se estou fazendo tudo certo. Ser mãe solteira tem suas dores e desafios, mas Luna é a prova viva de que, de algum modo, eu estou conseguindo.

Aproximei-me da cama, acariciando seu rosto delicadamente, a pele macia dela me trazendo uma sensação de paz.

- Luna... Está na hora de acordar. - sussurrei, buscando não assustá-la.

Ela piscou lentamente, ajustando os olhos à luz que invadia o quarto, e então abriu um sorriso enorme ao se lembrar do que o dia traria.

- Mamãe, é hoje! Meu primeiro dia de aula! - ela praticamente pulou da cama, animada.

Eu ri de sua excitação, incapaz de esconder meu orgulho.

- Sim, é hoje, mas se não se apressar, vai acabar se atrasando, mocinha. - falei, divertida, vendo-a correr para o banheiro.

Enquanto ela tomava banho, fui para a cozinha preparar o café da manhã.

Cada detalhe feito com cuidado: o pão quentinho, o leite com chocolate que ela tanto adora, e, claro, o lanche para a escola. Eu sempre me esforcei para que minha menininha sentisse o quanto é amada, mesmo nas coisas mais simples do dia a dia. Preparar o lanche dela é um desses pequenos gestos que carregam tanto significado.

Broken Heart | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora