08 - "Do que você está falando?"

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~Pov Amanda~

Ver Richard diante de mim foi como um soco no estômago.

Aquele homem, que eu não via há seis anos, estava parado ali, na minha loja, como se o tempo não tivesse passado. Como se não tivesse sido o pivô de um dos momentos mais difíceis da minha vida. Meu coração acelerou, mas não por causa de saudade ou alegria ao vê-lo. Não.

O que eu senti foi um peso esmagador de mágoa, como se cada célula do meu corpo gritasse em lembrança da dor que ele me causou quando resolveu não assumir Luna.

Respirei fundo, lutando para manter uma fachada profissional, enquanto a minha cabeça rodava em uma espiral de emoções. Não podia deixar transparecer o que sentia. Precisava me manter no controle, fria, distante.

- Em que posso te ajudar? - perguntei, minha voz calculadamente neutra, tentando não deixar o tremor que sentia no corpo escapar para as palavras.

Ele hesitou por um momento.

Eu vi seus olhos fixarem nos meus, e por um segundo, percebi uma sombra de algo. Será que ele também sente peso desse reencontro? Será que ele se sente minimamente culpado por ter me abandonado quando eu mais precisei dele? Mas, tão rápido quanto veio, a hesitação desapareceu, e ele sorriu, um sorriso que parecia descontraído, que respondeu todas as minhas dúvidas.

- Minha pulseira quebrou, eu quero saber se vocês podem consertar. - Richard falou com uma tranquilidade quase irritante, como se aquilo fosse apenas um encontro casual entre duas pessoas que se conhecem há muito tempo, mas que nunca compartilharam nada mais profundo.

A pulseira. Claro que era a pulseira. A mesma que eu havia dado a ele, na época em que éramos jovens e cheios de sonhos. Em que eu acreditava que ele seria a pessoa que estaria ao meu lado para sempre. Olhar para aquela peça trouxe de volta memórias que eu queria manter enterradas, memórias de uma garota apaixonada e ingênua, que acreditava que o amor bastava para enfrentar o mundo.

Meus dedos tocaram o acessório com cuidado, mas eles tremiam. O metal frio contrastava com o calor que subia pelo meu corpo. O toque breve de nossas mãos, quando ele me entregou o objeto, foi o suficiente para me trazer de volta para aquela época... para o dia em que tudo desmoronou.

Engoli em seco, tentando manter minha voz firme e profissional, enquanto a mágoa parecia querer transbordar a cada segundo.

- Dá pra consertar, sim. Só vai precisar de uma solda. Fica pronto no fim do dia. - as palavras saíram rápidas e diretas. Eu não queria prolongar aquilo mais do que o necessário.

É como se estivesse andando na beira de um precipício, e qualquer deslize me faria cair em um abismo do qual eu não sabia se conseguiria voltar.

Richard assentiu, o sorriso dele diminuindo um pouco, mas ainda assim, parecendo indiferente ao turbilhão que passava dentro de mim. Observei-o pagar, os dedos ágeis na máquina de cartão. Cada segundo uma eternidade. Eu só queria que ele fosse embora, que desaparecesse de novo, que saísse da minha vida pela segunda vez e me deixasse lidar com os pedaços que ele deixou da primeira.

Quando terminou, levantou os olhos para mim, tentando um outro sorriso, dessa vez mais suave, quase tímido.

- Volte no fim do dia. - disse eu, seca, mal disfarçando o tom de impaciência.

Ele assentiu de novo, como se não desse a mínima para o quanto aquilo era difícil pra mim. Como se fosse apenas mais um dia qualquer.

E então, para minha surpresa, Ríos deu meia-volta e começou a caminhar em direção à porta. Meu corpo quase relaxou ao vê-lo ir, mas algo nele parou, hesitou no meio do caminho.

Richard virou-se para mim outra vez, com um semblante mais sério. Meus olhos se estreitaram.

O que ele quer agora? Por que simplesmente não pode deixar as coisas do jeito que estão? Eu mal conseguindo respirar com a presença dele, e ele insisti em ficar, estendendo o sofrimento.

- Mandy... - me chamou como antigamente, e aquele simples apelido me fez querer chorar - Eu estava pensando... - continuou, o tom de voz casual, mas com uma nota de hesitação, parecendo saber que estava pisando em terreno delicado - Você está livre no sábado? Talvez a gente possa tomar um café, colocar a conversa em dia...

Por um segundo, o mundo pareceu parar.

No que diabos ele está pensando? Ele realmente me convidou para tomar um café? Depois de seis anos? Depois de tudo o que ele fez?

As palavras saíram da boca dele tão despreocupadas, como se o tempo tivesse parado naquela quadra, no último momento em que nos vimos. Ele está agindo como se não tivesse me descartado e deixado um buraco na minha vida. O rancor, que eu havia tentado esconder durante toda a conversa, começou a subir como lava de um vulcão.

Soltei uma risada amarga, tão inesperada que até eu mesma me surpreendi com o som. Um riso que misturava dor, incredulidade e exaustão.

Ele realmente acha que pode simplesmente voltar e que tudo estará bem. Que podemos, quem sabe, ser amigos, ou até mais do que isso.

- Você tá falando sério? - perguntei, e minha voz saiu tão baixa e carregada de ódio que ele pareceu ficar surpreso por um momento - Você acha mesmo que tem o direito de aparecer aqui, depois de seis anos, e me convidar pra um café como se nada tivesse acontecido?

O sorriso em seu rosto desapareceu imediatamente. Richard estava sendo um cínico, agindo como se não entedesse o que eu queria dizer, e aquilo me irritou ainda mais. O fato de ele não ter a menor ideia do tamanho da ferida que deixou em mim, só mostra o quanto ele é alheio à dor que causou.

- Amanda... - começou, mas eu o interrompi. Não ia deixar ele continuar com aquela fachada.

- Não, Richard. - eu disse, com mais força do que planejava - Eu não quero nada de você. Não depois de tudo que você me fez passar.

Minha voz começou a falhar, traindo a raiva e a dor que eu estava tentando sufocar. Mas era impossível segurar. Seis anos sozinha. Aqueles sentimentos guardados não iriam desaparecer com um simples café. E agora, vendo-o ali, depois de tanto tempo, fingindo ser o inocente, o bom garoto, o herói da história... não não. Eu não podia deixar aquilo barato.

Richard ficou em silêncio, os olhos com uma máscara de confusão.

- Achei que... você quisesse que eu ficasse longe. - ele disse, quase num sussurro. Sua voz cheia de incerteza, como se nem ele mesmo acreditasse no que estava falando.

As palavras dele caíram sobre mim como um balde de água gelada.

"Achei que você quisesse que eu ficasse longe."

Como ele pode pensar isso? Como ele pode ter interpretado desse jeito o que aconteceu?

- Como é? - perguntei, a raiva agora evidente no meu tom - Que merda você tem na cabeça, Richard?! Eu tinha dezessete anos! Estava grávida, sozinha, apavorada, e você... você me deixou. Me descartou sem sequer olhar para trás! Foi embora sem se importar comigo ou com a minha filha! E agora acha que um simples café vai resolver tudo?!

As palavras saíram com uma força que eu nem sabia que ainda existia em mim.

É como se todos aqueles anos de silêncio estivessem explodindo agora, cada pedaço de mágoa, cada momento de sofrimento solitário. Eu vi a expressão de Richard mudar lentamente, seus olhos se arregalando de surpresa, como se ele estivesse ouvindo aquelas palavras pela primeira vez, como se fosse impossível.

- Grávida? - ele murmurou, a voz quase inaudível, incrédulo - Amanda... do que você está falando? Como assim grávida?

3/3 para vocês! Agora é amanhã.
com soninho, vou dormir kskssk.

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Broken Heart | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora