11 - Sem Espaço Para Vacilo

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~Pov Amanda~

O resto do dia estava passando como um borrão.

Cada vez que o sino da porta tocava anunciando a chegada de um cliente, eu sorria automaticamente, falava as palavras certas, mesmo estando despedaçada por dentro.

Não consegui afastar os pensamentos. Richard. Natália. Luna. É como se estivesse presa em um ciclo de imagens e lembranças que se repetiam sem parar.

A voz de Maria Clara soando como pano de fundo, seus esforços em me distrair com piadas ou conversas triviais não surtiram efeito. Mesmo assim, eu tentava responder, buscando ser educada, mas meu coração não estava ali. Cada segundo que passava parecia mais difícil de suportar.

Eu não consegui tirar da cabeça a foto de Richard e Natália juntos. Sei que, eventualmente, vou ter que enfrentar a realidade. Mas como? Como contar para Luna sobre Richard, quando nem eu mesma sei o que ele quer? 

- Manda, você tá bem? - Maria Clara perguntou, interrompendo meus devaneios mais uma vez. Havia uma preocupação genuína na voz dela.

- Estou... só... cansada. - minha voz saiu mais fraca do que eu esperava, e Ma franziu a testa, claramente não convencida.

- Tem certeza? - ela se inclinou um pouco sobre o balcão, seus olhos fixos em mim.

- Eu tô bem... Só... tentando processar tudo que aconteceu hoje.

Ela abriu a boca para dizer algo, mas o sino da porta tocou, e mais um cliente entrou. A distração foi bem-vinda.

Atendi a pessoa rapidamente, sem sequer me lembrar do que vendi logo depois. 

Quando olhei para o relógio novamente, percebi: hora de buscar Luna.

- Preciso ir. - avisei, tirando o avental e pegando minha bolsa.

- Quer que eu vá com você? - Maria Clara ofereceu, levantando-se da cadeira, mas eu balancei a cabeça.

- Não, obrigada. Acho que preciso de um tempo sozinha.

Ela me lançou um olhar de quem entendia, mas ainda estava preocupada. Sei que ela quer ajudar, mas existem coisas que eu preciso resolver por mim mesma.

- Tá bom... - suspirou, resignada - Mas, qualquer coisa, me chama, tá?

- Chamo sim, prometo. - dei um meio sorriso antes de sair pela porta, tentando me preparar mentalmente para o resto do dia.

~Pov Richard~

O treino começou, porém minha cabeça estava tão cheia que era impossível focar.

O campo parecia sufocante. Os gritos de Abel ao longe? Vindos de outro universo. Fiz alguns passes, uma ou duas assistências, mas nada parecia real. É como se eu estivesse assistindo a mim mesmo de fora, vendo um cara que tentava agir normalmente, mas com o coração esmagado.

Depois de errar um cruzamento fácil, senti uma mão pesada no meu ombro. Abel.

- Ríos, que porra tá acontecendo? - ele perguntou, a voz carregada de frustração.

Olhei para ele, entretanto não consegui formular uma resposta coerente. Minha boca abriu, mas não saiu nada além de um suspiro. O técnico bufou, claramente irritado.

- Se concentra, caralho! - gritou - Isso aqui é o Palmeiras, não tem espaço pra vacilo.

Assenti, sem realmente registrar as palavras. Continuei o treino, mas minha cabeça estava longe. Natália me traiu. A cada passe, cada chute, a imagem dela ficava mais clara. Ela tirou de mim seis anos da vida do meu filho. Eu nem sei como ele é, como é sua risada, sua voz... se é um menininho ou uma menininha.

Broken Heart | Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora