8.

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Mariah e Apollo se afastaram do abraço, ambos com um sorriso discreto, mas carregado de uma certeza dolorosa: o que haviam decidido era o certo. Por mais que fosse difícil, eles sabiam que continuar tentando resgatar o que existia entre eles só traria mais dor. Havia sido uma noite intensa, cheia de conversas que eles haviam evitado por tanto tempo, e agora, apesar do peso emocional, estavam finalmente livres.

— Cuida de você, Mariah — disse Apollo, com um tom gentil, como se aquelas palavras carregassem todo o cuidado que ele não pôde expressar antes.

— Você também, Apollo — respondeu ela, enquanto caminhava em direção ao carro, sem olhar para trás.

Assim que entrou no carro, Mariah respirou fundo, tentando afastar os sentimentos que a dominavam. Ela precisava ir embora, se afastar daquele lugar, daquela energia, de Apollo. Ligou o carro e deixou que sua playlist tomasse conta do silêncio sufocante que se formava. A primeira música que começou a tocar foi "Amor I Love You", a mesma que ela escutava repetidamente quando eles terminaram, há tanto tempo. Quando a canção alcançou o verso "Hoje contei pras paredes
Coisas do meu coração
Passeei no tempo, caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão", o coração de Mariah apertou ainda mais.

Ela pensou em tudo o que eles haviam construído e que, agora, parecia tão distante. Casar na praia era um dos sonhos que eles sempre compartilhavam, brincavam sobre o destino perfeito de uma cerimônia íntima, com amigos próximos e o som das ondas ao fundo. Mas agora, esse sonho tinha acabado. A ideia de ter um filho chamado Lorenzo, um nome que ambos adoravam e que sempre aparecia em conversas sobre o futuro, também havia se dissipado como fumaça. Era tudo parte de um passado que não voltaria mais.

As lágrimas começaram a descer, silenciosas, enquanto Mariah dirigia pelas ruas vazias da cidade. Cada quilômetro a afastava de Apollo, mas, ao mesmo tempo, parecia que cada segundo trazia uma lembrança nova. Era estranho pensar que, depois de tanto tempo, ela ainda chorava por ele. Por eles. Mas desta vez era diferente. Não era um choro de revolta ou de raiva, mas de aceitação. Aceitar que algumas coisas simplesmente não são para ser. Aceitar que o que eles tinham acabou, por mais bonito que fosse.

Apollo, por sua vez, havia ficado em silêncio na sala, observando Mariah se afastar. Quando a porta se fechou e o som dos passos dela desapareceu, ele sentiu o vazio que ela deixou para trás. Ele sempre soube que perder Mariah foi a maior falha de sua vida, mas agora essa falha parecia irreversível. Sabendo que a noite não traria mais nada, ele caminhou em direção ao quarto e foi direto para o armário, onde guardava uma pequena caixa.

Dentro daquela caixa, estavam todas as memórias que ele havia acumulado ao longo dos anos com Mariah. Fotos, bilhetes, pequenos presentes que só faziam sentido para eles dois. Era sua cápsula do tempo, e naquele momento, a caixa parecia pesar o dobro do normal. Ao abrir, a primeira coisa que ele viu foi uma polaroid de quando ele havia se classificado para o estadual. Mariah estava ao lado dele na foto, sorrindo de forma radiante. Aquela tarde tinha sido um marco para ele, não apenas por ter alcançado um dos maiores momentos de sua carreira nas batalhas de rap, mas porque ela estava lá, ao lado dele, o apoiando com todo o amor do mundo.

A visão daquela polaroid fez as lágrimas começarem a descer sem controle. Apollo sempre havia sido o tipo de cara que acreditava que precisava ser forte o tempo todo, que não poderia mostrar fraqueza. Mas naquele momento, não havia força que pudesse conter a dor. A dor de perceber que, com todos os sucessos que ele havia alcançado, a única coisa que ele queria de verdade, ele havia perdido.

Ele se sentou na beira da cama, olhando para a foto, enquanto as lágrimas caíam silenciosamente. "Homem não chora" era o que ele sempre ouviu, mas naquele momento, não havia nada mais falso. A realidade era que ele estava chorando, chorando pela mulher que ele sempre amou e pela chance que ele havia deixado escapar.

O que mais o doía era a certeza de que ele nunca havia deixado de amá-la. Ele só havia ficado cego pela fama, pelas oportunidades, pelos compromissos que começaram a tomar mais tempo e mais espaço na sua vida. E, de repente, ele percebeu que havia deixado a mulher da vida dele esperando por algo que nunca viria. Ele acreditava, na época, que estava fazendo a coisa certa, que estava dando a Mariah o espaço que ela precisava. Mas, no fundo, ele sabia que o erro foi não lutar por ela. O erro foi pensar que ela estaria sempre ali, esperando.

Apollo olhou para a polaroid por mais um longo tempo, antes de guardá-la de volta na caixa. Ele sabia que precisava seguir em frente, mas as memórias estavam impregnadas em cada parte da sua vida. O cheiro dela ainda estava nos lençóis. As piadas que eles compartilhavam ainda ecoavam na sua mente quando ele assistia filmes. Até as batalhas de rap, onde ele encontrava sua maior paixão, pareciam vazias sem ela ali, torcendo por ele.

Deitado na cama, Apollo encarou o teto, com o peso das suas decisões e arrependimentos o sufocando. Ele tinha construído uma carreira incrível, tinha amigos leais e fãs que o admiravam, mas tudo parecia vazio sem Mariah ao seu lado. Agora, ele sabia que ela não voltaria, e a realidade dessa perda era difícil de aceitar. O tempo havia passado, e ele percebeu tarde demais que, às vezes, o que você realmente quer não é a fama, o sucesso ou o reconhecimento, mas sim alguém para dividir esses momentos com você.

E para Apollo, essa pessoa sempre foi Mariah.

Entre Ódio e Saudade - Apollo MCOnde histórias criam vida. Descubra agora