Capítulo 6 - Convite para lutar

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Ia fazer uma semana que eu estava naquele mundo. Pela minha segurança, não pisei novamente em Rheyk, sendo quase uma refém nesta versão da Terra e só saindo acompanhada de alguém do grupo. Vinha me adaptando às pessoas daquele mundo e até às anormalidades que notava comigo. Tipo, minha velocidade estava maior, minha agilidade também e eu tinha desenvolvido meus reflexos. Seriam meus dias de glória?

– Amanhã vamos no bazar garimpar umas roupas? – Tracy estava empolgada, tirando-me compulsoriamente dos meus pensamentos.

– Não posso. Dona Lúcia... Quer dizer, Tia Lúcia pediu para eu dar uma ajuda atendendo amanhã. – A senhora pediu que eu a chamasse daquela forma. – Reservaram o restaurante para uma festa em família ou algo do gênero... Minha primeira vez atendendo, não posso falta. Desculpa. 

– Relaxa, Enny. – Luna sorriu, trazendo da cozinha uma porção de salgadinhos e se sentando entre eu e Tracy. – Do jeito que ela é maníaca por compras, não vai faltar oportunidade.

Sorri, sabendo da verdade daquela frase. A loirinha tinha como seu passatempo favorito ir ao shopping. Em sete dias, eu já tinha sido arrastada até lá três vezes com Luna, onde nós duas fugíamos para a livraria e nos escondíamos entre os livros quando Tracy falava que queria ir ver uma roupa. A caçula do quinteto tinha me assumido como seu mais novo projeto de sucesso estético, decidida a mudar meu estilo mais despojado para algo feminino e refinado. Seja lá o que isso significasse.

Sei que parece controlador e até pode ser visto com maus olhos aquele comportamento. Mas, genuinamente, eu via que era uma forma dela me fazer sentir parte do grupo, me acolher, e era grata por isso. O sexteto era dividido em três pares de proximidade. Angel e Jane. Nathan e Aline. Luna e Tracy. As duas mais novas, sabendo que eu seria a nova caçula, se aproximaram mais do que os demais. E eu, notando o quanto Tracy tinha a personalidade parecida com Tayane, me vi instintivamente criando um laço mais forte com ela.

O celular de Luna tocou e ela atendeu de imediato, respondendo docemente a quem falava do outro lado da linha. Não conseguia conceber a ideia da ruivinha com raiva. Ela passava paz em cada trejeito dela.

– Mamãe chegou. Vamos, Tracy? Até amanhã, Enny. – Luna deu um beijo no topo da minha cabeça e acabou vendo o caderno rosa ao meu lado. Nos encaminhamos até a porta. – Que bom que tá usando nosso legado, amiga. Oficialmente, parte do grupo. Liga depois que sair do serviço, talvez possamos comer algo. Bons sonhos e fica com Deus.

Concordei, me despedindo enquanto apertava o caderno rosa contra o peito. Ele tinha sido um presente das cinco garotas. Meio que funcionava como um totem de passagem na entrada de cada nova integrante. Nas páginas, havia uma mensagem de boas-vindas que elas davam a cada novata. Eu, todavia, decidi o transformar em um diário. Era uma forma que encontrei de processar tanto meus sonhos quanto toda essa loucura que estava vivendo. Especialmente os últimos três dias, onde as garotas vinham tentando me forçar a "exprimir" – seria essa a palavra adequada? – meus poderes. Ou melhor, os poderes do anel.

Estava morta de cansada e queria me deitar logo. Mas uma sensação incômoda no meu peito me dizia que esquecia algo... Ah, lembrei! Eu e Nathan brigamos hoje de manhã e ainda nenhum de nós tinha pedido desculpa para o outro. Esse ritual de briga e perdão se tornou diário entre nós, era meio que uma coisa nossa e que vinha forjando os limites da crescente amizade. Porém, hoje, só houve a primeira parte. Como sabia que estava errada, me dirigi ao seu quarto. Antes de entrar, bati à porta e fiquei esperando.

– Pode entrar, Enny. – Nathan ofegava. O que poderia estar fazendo para estar assim a uma hora destas?

Obedeci com receio, mas não contive o riso de alívio quando o vi treinando boxe com seu saco de areia. Ele estava dando socos ferozes nele. Passei por Nathan e me sentei em sua cama. Lembrei-me de quando ia para a casa do meu pai e o via fazendo a mesma coisa. Aprendi a técnica acho que para o impressionar. Uma tentativa miseravelmente falha, diga-se de passagem. Para tirar essa droga de pensamento ruminante, foquei no que via a minha frente. Pude perceber que Nathan estava errando na posição do pulso.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora