Capítulo 5 - Memórias Juvenis

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Não sabia como tinha chegado lá, mas supunha, pela escuridão, que estivesse em um sonho. O que chamava a minha atenção era aquele vídeo que passava, era a única coisa que existia naquele lugar escuro e frio. Andei em direção ao local onde as cenas eram reproduzidas. Parei quando pude ver o que se passava na tela. Minha boca se abriu em surpresa, e parei de sentir minhas extremidades.

Era como se eu estivesse vendo o que aconteceu depois que caí na inconsciência, quando ataquei Petrik lá em Rheyk, após perder a consciência. Meu corpo estava iluminado e, de repente, a quimera de lagarto e lobo foi empurrado para longe de mim, como se o vento o tivesse jogado a uns quinze metros. Porém, mesmo sem suas mãos me erguendo, eu ainda continuava no ar, como se algo me suspendesse. Corri para mais perto da minha imagem flutuante que atacava a aberração de Victor sem pena. Só que, quando tentei me aproximar, bati contra algo e caí ao chão. Olhei para o que havia colidido, porém não havia nada além da escuridão.

– Desculpe-me. – Escutei uma voz calma falar através do riso.

A mulher que falou se virou. A princípio, achei que era uma cabeça flutuante, porém, depois, pude perceber que ela apenas usava um vestido preto – que cobria todo o seu corpo e possuía um capuz –, fazendo-a parecer invisível naquele lugar tenebrosamente escuro. Ela me estendeu sua mão fina e delicada. Tive a estranha impressão de que já a vi em algum momento da minha vida. Mas onde?

– Vamos. – Ela sorriu pra mim. – Deixe-me lhe ajudar.

Estendi a minha mão e ela segurou com mais força do que esperava, puxando-me até me deixar em pé. A mulher se virou e continuou olhando aquela reprodução do meu ataque. Fiz a mesma coisa, até na mesma posição – ereta, com as mãos cruzadas delicadamente na frente do corpo. Olhei para o chão – um sinal claro de embaraço e reflexão – e, pela primeira vez, vi que estava vestindo o mesmo vestido que a outra, entretanto, o meu era branco e um pouco mais delicado. Ela se virou para mim, seus olhos demonstravam um afeto sem justificativa, o que me foi de enorme estranhamento.

– Desculpe-me. – A mulher falou, sorrindo.

– Por quê? 

– Por... – Ela fechou os olhos e balançou a cabeça, negando algo em seus pensamentos. – Nada. Melhor não dizer nada, você não entenderia. Não agora.

Fiz uma careta que era a mistura de descrença e irritação 

– Como se eu entendesse alguma coisa do que aconteceu. 

– É realmente complicado. – A mulher olhou para baixo, parecia triste. – Mas há tempo para tudo

Ao vê-la com o semblante tão triste, não pude evitar de uma lembrança invadir minha mente, e então a reconheci. Era a moça da última visão que eu tive antes de tudo isso acontecer. A mãe do bebê. Arfei em surpresa

– Eu conheço você. – Comentei quase sem voz. O semblante dela se iluminou, trazendo traços de esperança. Contudo, notando meu assombro, sua excitação foi contida e ela assumiu uma postura cautelosa. – Era você fugindo com um bebê. Eu te vi. Quem é você? Qual seu nome? O que aconteceu com o bebê? Você tem algo a ver com eu estar aqui?

– Pela segurança de Rheyk, ainda não é a hora. – Aquela voz era firme, sensata... Tão única, tão familiar... 

Aos poucos, a sua pele e seu cabelo foram ficando cada vez mais claros, até que começaram a desaparecer. Quando voltei a vista ao lugar onde passava a minha cena e a de Petrik lutando, vi que esse não estava apenas em uma tela, porém do meu lado, esticando o braço para bater em mim. Pulei para esquivar, rolando na expectativa que eu não fosse atingida. Tive tanto medo que acordei daquele pesadelo.

Os Segredos de Rheyk - VERSÃO BETAOnde histórias criam vida. Descubra agora