Levantei mais cedo pela manhã, tomei meu café e fui direto ao quarto de Maria Madalena. No corredor do mesmo, me deparei com Moira, que chegava com algum tipo de poção curativa para Maria. Perguntei a ela se eu poderia entrar, mas ela me disse que ainda estavam trocando as roupas de Maria, logo eu teria que esperar. Me disse que Maria ainda estava tomando seu café da manhã, e que a poção era para ajudar com que suas feridas cicatrizassem um pouco mais rápido, que não lhe deixassem cicatrizes.
Pedi a ela que não dissesse a Maria que eu estava ali fora. Esperei ansiosamente por cerca de meia hora, andando em círculos de um lado para o outro na frente da porta do quarto. Depois de tanto esperar e quase enlouquecer por isso, Samara abriu a porta e logo eu lhe perguntei se eu poderia entrar. Ela me disse que Maria já havia terminado de se trocar, então sim, eu poderia entrar.
Passei pela porta com um certo sorriso, pois depois de tanta espera, eu finalmente havia entrado. Desejei um bom dia a todas elas, que me responderam educadamente. A diferença das outras para Maria, era de que a jovem não sorriu para mim. Seus olhos ainda tinham aquela tristeza, que me dava a sensação de que ela passava por uma espécie de tormento interno.
- Maria - disse me aproximando dela - por favor, me conte o que aconteceu naquela noite e o que seu irmão lhe fez!
- Somente o dele ou o de todos? - Falou irritada, contendo mágoa profunda em sua voz.
- Me conte tudo. - Supliquei.
Samara logo saiu acompanhada de Moira. Apenas Jade ficou conosco naquele quarto. Afinal de contas, Maria e eu ainda não éramos casados, então não era correto que ficássemos sozinhos no mesmo quarto. Óbvio que eu jamais faria algo com ela que ela não quisesse. Óbvio que para mim não havia problema termos relações antes de nos casarmos. Mas também é óbvio que se ela não quisesse ter tais relações eu esperaria o casamento. E na realidade, mesmo depois que casarmos, eu hei de esperar que ela queira ter relações comigo, mesmo que demore cinco anos.
- Você me comprou. - Falou chateada. - Eu esperava isso de qualquer pessoa menos de você. Senti que com você tudo seria diferente. Naquela mesma noite do jantar, onde eu soube que havia sido comprada por você, minha ideia era te contar que queria fugir com você. Se você não quisesse fugir e quisesse pedir a permissão para se casar comigo ao meu pai, eu concordaria tranquilamente. Mas ao invés de conversar comigo, de tentar saber o que eu queria ou não, você simplesmente tomou as decisões por si mesmo, não se importando nem sequer se eu sentia ou não algo por você, no lugar de conversar comigo. Poxa, eu havia me apaixonado por você! Era apenas conversar comigo e me perguntar se eu queria me casar com você! Mas ao contrário disso você preferiu fazer o que queria! E achou mesmo que eu ficaria feliz com isso?
Maria claramente estava com raiva e ela tinha razão. Porém eu tinha tanta certeza de que ela havia se apaixonado por mim, que nem sequer me dei o trabalho de pensar em perguntar a ela se ela queria se casar comigo. Logo eu não tirava dela a razão de estar com raiva de mim.
- Me desculpe. - Falei sincero e triste.
- Desculpar? Quer saber o que houve de fato naquela noite? - Ela agora falava irritada comigo, muito irritada! E junto de sua irritação, ela continha tristeza e decepção. - Meu pai, quer dizer, aquele que acha que é meu pai, contou no jantar extremamente contente, que havia fechado um acordo com você e que eu me casaria com você. Ele estava ridiculamente feliz, porque se tornaria um homem nobre e parte da realeza. Não se importou em momento algum que havia me vendido, por uma quantia de dinheiro que funcionasse bem para ele e por um título. O que importava era a sua ganância. Isso me deixou em choque, me deixou chateada. Eu estava feliz porque você havia dito que também estava apaixonado por mim. Estava feliz porque você também me queria. A minha ideia sobre você, era que você se importaria comigo mais do que com qualquer um. Que faria das minhas vontades as suas vontades, e a minha felicidade seria a sua felicidade. Mas ao contrário do que eu achei por todo esse tempo, você não pediu minha opinião, não quis saber do que eu queria ou qual era a minha vontade, Apenas me comprou de meu pai como se eu fosse um objeto caro.
"Achou mesmo que eu ficaria feliz e satisfeita com isso? Akela, você só partiu meu coração em dois, me fazendo pensar que para você eu não seria nada mais que um objeto caro e de estima alta para você. E sabe o que aconteceu depois de meu pai noticiar que eu estaria noiva de Vossa Alteza? Meu irmão, Isaacs, enlouqueceu. Ficou furioso, irritado, dizendo e bradando ao meu pai que ele estava completamente errado em me tirar da igreja para me casar com um homem. Naquele momento, a opinião de Isaacs, ao menos o que parecia ser a opinião verdadeira dele, era de que eu deveria me tornar freira."
"Mas não, não era essa a opinião verdadeira dele. Meu irmão não me queria como freira, muito menos como esposa de alguém. O que eu não sabia e que só soube ontem à noite, quando fui deixada por ele aqui, era de que ele me queria para ele. Meu pai havia ordenado que ele e outro irmão me trouxessem aqui, acompanhada de mercenários. Porém na hora de resolver tudo, Isaacs convenceu o meu pai de que apenas ele bastava para me trazer aqui. Meu pai concordou e deixou tudo nas mãos dele. Mas não pense que ele contratou os mercenários, porque ele não fez isso."
"Eu estava com um certo tipo de medo. Algo em mim e também em minha mãe, nos avisava de que havia algum problema. Meu verdadeiro pai, me deu de presente, me dizendo que era um presente de noivado, uma adaga. Minha mãe me arrumou, colocou em mim um vestido que era dela, fez em mim um penteado e me ajudou a esconder a adaga em minha bota. Eu sei usar uma agada, uma espada, ou qualquer objeto cortante que poderia me ajudar em minha defesa. Logo eu sabia que se houvesse algum problema, eu iria conseguir me virar."
"Na partida, haviam alguns homens, amigos de Isaacs, que diziam ser os tais mercenários que ele havia contratado. Porém, quando estávamos saindo da cidade, notei esses homens indo para outra direção. Questionei ao meu irmão o porquê, e ele me disse que não era necessário e que ele daria conta de me proteger caso alguém me atacasse. O que eu não sabia, é que quem iria me atacar, era ele mesmo."
O tom de voz dela mudou então neste momento, de uma voz raivosa e irritada, para uma voz chorosa e triste. Imediatamente eu temi pelo pior.
- Isaacs, quando estávamos na floresta (no momento ambos não sabíamos em que parte estávamos, mas já estávamos próximos ao castelo, no pé do morro), ele me atacou. Ele me dizia que eu deveria ser mulher dele e não de outro homem. Dizia que me amava mais do que como uma irmã, me amava como mulher. Ele queria me possuir para si. Por isso havia ficado com tanta raiva quando soube que eu iria me casar com alguém! Porque ele queria que eu me casasse com ele! Senti tanto medo e fiquei tão desesperada e triste! Porém imediatamente tirei a adaga que estava em minha bota e o ataquei. Consegui feri-lo e saltei depressa para fora da carruagem. Machuquei minhas mãos tanto quando atacava, quanto quando cai."
"Ele até pensou em sair para fora da carruagem e quase fez isso. Porém ele estava ferido demais para isso e desistiu, dizendo que eu seria atacada por lobos e morreria ali. Dizendo que era melhor que eu morresse, do que pertencesse a outro homem que não fosse ele. Eu estava chorando e sai correndo, subindo morro a fora. Por mais que eu estivesse extremamente chateada e magoada com você, eu sabia que iria me proteger dele, então eu apenas corri, fugi. Corri tão rápido, pois achei que ele estaria vindo atrás de mim. Mas quando tropecei e cai no chão, olhei para trás e notei que estava sozinha. Foi aí que os lobos vieram e me atacaram. O resto você já sabe."
- Meu amor, eu sinto muito! Sinto muito por ter te magoado, sinto muito por ter falhado com você nessa parte. Você está certa a respeito de que eu realmente deveria ter te consultado. E quanto ao seu irmão, não se preocupe com isso, a justiça há de ser feita.
- Não o mate, por favor. Ele pode ter me deixado para morrer, mas a morte dele partiria o coração de minha mãe e eu não quero isso.
- Uma prisão perpétua está de bom tamanho?
- Sim!
- Bem meu amor, eu te juro que de hoje em diante, eu vou lhe perguntar tudo, antes que eu tome uma decisão. E quanto aos eventos que ocorreram nos últimos dias, eu irei resolvê-los.
Maria olhou para mim ainda com os olhos tristes. Porém eu acariciei seu rosto e limpei as lágrimas que rolavam nele causada pelo assunto triste relacionada a seu irmão. A dor que ela sentia não era só física mas também sentimental. Porém eu faria o impossível para que ela ficasse feliz.
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Tormenta
FantasyLivro 2 da saga de Halvegen Primeiro livro: Vingança Akela havia perdido sua esposa grávida, queimada como bruxa. Em vingança, destruiu toda aquela cidade e amaldiçoou o lugar, também castigando toda a humanidade com uma doença, chamada de peste n...