VIII

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Era uma manhã fria de inverno, quando Amy morreu. Ela estava doente já haviam dois meses e sofreu muito. Claro que Alan e Samara sofreram com ela. E quando Luna, banhada por suas lágrimas, anunciou que Amy havia falecido, o mundo de Alan desabou. Ele abraçou a filha e a segurava firme, ambos chorando e consolando o outro. A perca de Amy era dolorosa demais para ser vista. Eu, se pudesse, tomaria todo o sofrimento dos dois, para mim. Mas não era possível, então o que me restou, foi homenagea-la. Amy era uma mulher formidável, excelente esposa, mãe e amiga. Era terrível saber que ela havia partido.

Petatom, meu irmão, acabou vindo, para ficar ao lado de seu filho e sua neta, ficando para mim e Moira, a organização do funeral. Ela entrou no quarto e pediu para retirar o corpo sem vida de Amy, para os rituais de sepultamento, junto de Akoi e Alf. Eu, como o Deus da morte, fui junto deles para o quarto, dizendo que eu fazia questão de preparar o corpo dela. Já era de conhecimento geral aos pagãos, bruxas e bruxos, que aquele que tivesse seu corpo preparado por Akela, em sua morte, era um ser que alcançou o máximo de sua honra. Amy havia alcançado isso. Eu não poderia, jamais, deixar que outro preparasse o corpo de uma amiga, mãe e esposa tão leal quanto ela.

A primeira coisa foi umidecer um pano em um unguento e passar por seu corpo, o limpando, enquanto incensos queimavam ao nosso redor. Lágrimas saíam de meus olhos, mas eu iria fazer aquilo, precisava fazer, por mais que doesse. Tendo passado o unguento, passamos um creme e depois um perfume de rosas. Mandei que Alf fizesse a pira da qual iríamos carrega-la e ele saiu do cômodo. Akoi ficou responsável pelas flores que ficariam ao redor do corpo e Jade, do lado de fora, com a porta fechada, disse que iria fazer a coroa de flores, que iria no cabelo de Amy. Já limpa e perfumada, pedi que Moira pegasse o vestido favorito de Amy, um cordão com amuleto e uma joia precisosa. Moira retornou com um lindo vestido azul, que Amy adorava, o cordão de pérolas, com seu amuleto de pingente e brincos de lapis lazulli.

O cordão eu enrolei entorno de suas mãos e as juntei, por cima de seu corpo, na altura do estômago. Moira trançou o cabelo longo e grisalho de Amy, em uma trança única, caída por seu ombro. Alf e Akoi retornaram e eu coloquei o corpo dela na pira, enchendo de flores ao redor dela. Akoi cantava uma canção sobre a morte, que chamava por minha filha, para levar o espírito de Amy em paz. Eu então apliquei uma cera perfumada, tapando seu nariz e ouvidos, em seguida coloquei em seus pés, o par de sapatos que ela usou antes de falecer e coloquei minhas mãos por sobre seus olhos.

- Que ela tenha o melhor descanso e seja recebida com honra. Espero que seu espírito e o de Nemesis se encontrem, minha amiga.

Fizemos uma breve oração, juntos, sobre a morte e um pedido de que ela estivesse em paz.

"Oh Guardiã das Almas e do Além,
Venho até ti com o coração em reverência,
Para pedir que cuides com ternura da alma de Amy,
Que agora repousa além dos véus do mundo terreno.

Que tua luz suave envolva Amy,
E que sua jornada para o descanso eterno seja tranquila.
Dissipa qualquer dor que ainda possa perturbar seu espírito,
E concede-lhe paz, serenidade e um lugar de repouso entre os mortos.

Que a memória de Amy seja preservada com amor,
E que sua alma encontre a paz que buscamos em nossas orações.
Que sua jornada ao além seja guiada com graça e segurança,
E que em teu reino, ela encontre a verdadeira tranquilidade.

Agradeço-te, Oh Deusa, por receber Amy em teu abraço acolhedor,
E confio que tua sabedoria e misericórdia guiarão sua eternidade. Até que ela retorne.

Que assim seja. Pois assim será."

Terminamos a oração e saímos do quarto, a deixando ali. Eu tomei um bom banho, vesti uma boa roupa e encontrei com Jade, pegando a coroa, para colocar em Amy. Esse momento, era sagrado e quem a colocasse, deveria ser quem preparou seu corpo, mas deveria estar limpo e bem vestido. Feito isso, sai do quarto e fui até a Alan. Havia uma coisa da qual ele deveria escolher: quem carregaria o corpo de Amy para a sala do trono, onde seria velada. Os dois escolhidos, seriam quem iriam carrega-la para o túmulo. Alan escolheu seu pai e seu genro. Ambos tomaram banho, vestiram uma boa roupa e depois, juntos de mim, me seguiram.

Moira foi quem levou Sarah e Alan para a sala do trono. Todos estavam lá e Alf avisou que quando o sol se posse, deveriam tocar o sino por quinze minutos, que era o tempo exato de saírem com Amy. Os sinos tocaram e eu fui a frente deles, com uma guirlanda de rosas brancas, que seria colocada no túmulo de Amy. Atrás de mim, vinha o corpo de Amy. A colocamos por sobre uma mesa própria para a ocasião e a velamos por duas horas, antes de sair com seu corpo, para ser enterrado. Eu ia a frente, com a guirlanda. Alan e Samara atrás de mim e depois deles, o corpo de Amy e então todos que foram prestar homenagens a ela. Os sinos tocaram, até que seu corpo fosse enterrado. A guirlanda foi colocada e então o foco se tornou cuidar de Alan e Samara.

Foram dias difíceis que se seguiram. Ambos estavam tristes, mas Alan estava pior, ao ponto de me dizer que não entendia como eu estava suportando estar sem Nemesis. "Ao menos eu tive tempo com Amy", me dizia ele, em meio ao choro. Mas ele estava determinado a ser forte, seguir adiante e esperar por ela, cuidando de sua filha e netos.

- Eu não suportaria isso que ele, Sasa e você passam. - Disse Jade para mim, em um momento. - Tenho medo de perder os que eu amo. Preferiria ir primeiro!

- Quando Nemesis morreu, eu perdi minha mulher e meu filho. Perdi uma mãe, já que Martha morreu no mesmo dia e infelizmente por minhas mãos. Alan perdeu sua amiga, sua irmã. Agora eu perdi minha amiga e ele perdeu a esposa. Está doendo mais o sofrimento dele, do que o meu em relação a Amy.

- Que encontrem conforto. Sabe, eu acho que eu nunca vou viver o que o Alan viveu? Um amor lindo. Meu irmão se apaixonou, acredita?

- É você! - Disse eu, olhando para Jade. Coloquei minhas mãos em seu rosto e sorri. - É você! Ah, por Halvegen... seu irmão se apaixonou, isso significa que é com você que o meu bebê iria se casar. - Uma lágrima caiu de meus olhos. - Oh Jade! É como ter parte do meu filho comigo agora!

Eu a abracei apertado e ela correspondeu. Era como ter ele aqui. Agora eu entendia a atração. Não era a atração sexual que o Alan achava que eu sentia, nunca foi. Até teria dito isso a ele, se ele não tivesse me irritado. A atração era de ter que estar sempre perto dela, junto dela, cuidando de Jade e a protegendo. Era como se ela fosse parte de mim, como meu filho era. Doce Jade, minha adorada menina. Eu estava feliz em saber disso, o que me fez ter ainda mais carinho e amor por Jade, do que se poderia imaginar.

Seis meses depois, James já estava cortejando a moça por quem havia se apaixonado. Ele queria comprar um presente para ela, queria viajar e trazer algo novo, para a pedir em casamento. Jade se propôs a ir com ele e eu concordei com isso, lhes dando todo auxílio necessário para que a viagem ocorresse bem. Ambos partiram felizes juntos, dizendo que trariam algo para Alan, Samara e eu.

- Meus adorados netos... - Disse Luna.

- Jade seria esposa do meu filho. - Falei a ela, enquanto de uma sacada, víamos a carruagem deles, partindo.

- Eu adoraria ver isso. - Luna me respondeu, com um enorme sorriso. - Nossas famílias se juntando. E pensar que um dia eu fui completamente apaixonada por você.

- E agora sua neta seria parte da minha família, se isso não tivesse sido tirado de nós. Numa próxima vida, veremos isso. E eu irei adorar vê-los juntos. Espero que ele tenha os olhos de Nemesis.

- Sabe, Akela, eu prefiro o ver assim, pensando no futuro, sonhando com ele, do que chorando pelo passado. Uma vida mais feliz para você.

- Jade me deu esperança.

E era fato. Saber que Jade era a destinada ao meu filho, me encheu de alegria e esperança. Em breve Nemesis estaria comigo, era nisso que tinha de pensar. Os dias irão passar rápido, logo eu a terei em meus braços novamente. E que louvada seja ela, minha amada esposa. Louvada seja sua beleza e bondade.

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