XXIII

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O bispo chegou exatamente quatro dias depois. Eu o recebi, o levei para comer algo e mandei que chamassem Maria. Ela veio acompanhada de Samara e Jade, que ficaram ali, observando tudo. Nem eu ou Maria, comemos. Apenas observamos o bispo comer, enquanto ele falava conosco sobre a cerimônia.

Eram coisas simples e fúteis, que não tinham necessidade de serem discutidas pessoalmente. Parei de prestar atenção em tudo e apenas concordar, no quinto minuto de conversa. Porém, Maria estava animada em conversar com ele. Pediu sei lá qual música para a sua entrada e prestou atenção em cada detalhe dito pelo bispo. Só voltei a me concentrar, e parar de dizer "sim" ou "concordo", quando ele começou a falar sobre a coroação.

- Já mandei fazer minha coroa de... ham... homem casado? Enfim, mandei fazer a minha e a de Maria. A dela ficará com o rei, até o grande dia.

- Justo, Vossa Alteza. Seu pai entregará a coroa dela a mim, no momento certo, na cerimônia. Quando querem que seja a coroação?

- Pensei em ser antes de encerrar o casamento. Antes de nos declaramos marido e mulher, a declare princesa. Pois isso significa que seu compromisso com o reino é tão profundo quanto o que ela tem para comigo.

- Muito bem, Vossa Alteza! Estando assim de acordo, vos agradeço pela hospitalidade e pelo tempo. Vou apenas visitar a paróquia desta bela cidade e então partirei para darmos início aos preparativos para o casamento de Vossas Altezas. - O bispo se levantou. - Que a benção de Deus esteja com você, Maria Madalena. - Ela estava de olhos fechados. Logo o bispo fez o sinal da cruz, para Maria, dizendo: - Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

- Amém! - Respondeu ela.

E quando ele fez o mesmo comigo, imitei o comportamento de Maria. Assim, Alan acompanhou o homem, para a saída. E no momento em que ficamos livres, questionei a Maria se isso iria acontecer em nosso casamento e ela disse:

- Antes de entrar, faça isso. - E ela fez o mesmo sinal que o bispo havia feito para ela, em si mesma. - Todas as vezes que ele disser "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", faça isso.

- Obrigada. - Agradeci aliviado. Temia cometer um erro e fazer com que alguém notasse, achando estranho que alguém que "defende a fé católica", não soubesse nada sobre a mesma.

E então, me viro e saio dali. Estava mantendo distância dela, sim. Maria sempre adorou minha companhia, vivia me visitando na casa na cidade e sempre que me via, ia correndo para mim. Então eu sei que Maria sente minha falta, quando não estou lhe dando a mesma atenção desmedida de antes. Justamente por isso, me afasto. Minha intenção é que ela sofra com saudades e ciúmes, finalmente voltando a ser quem era.

Não era uma tarefa fácil. Eu queria estar constantemente ao lado dela. Mas eu estava lidando com todas as responsabilidades de um príncipe mortal e as responsabilidades de ser o soberano de Halvegen. Quando vim, cem anos antes, apenas para proteger as bruxas (algo que sigo fazendo, já que todos os dias, chegam bruxos e bruxas ao castelo, indo habitar a "vila" que fiz nele -terceiro clã-), me abstive de todas as responsabilidades de ser o rei. Mas agora, todas elas estavam sob meus ombros, dês de que minha amada morreu.

Justamente essas obrigações, me distraiam, me ajudando na difícil tarefa de ficar longe de Maria. Mesmo assim, ainda não era fácil. Eu ainda tinha de lutar contra a vontade esmagadora de estar perto dela, de falar com ela e vê-la olhando para mim. Eu queria, e muito, estar todos os dias e todo o tempo, ao lado de minha amada mulher. Mas justamente para que ela mudasse comigo e também evitando assim, pelo distanciamento, que eu fosse bruto ou grosseiro com ela, que eu estava distante e sentindo meu coração corroer.

Os dias foram se passando lentamente e de forma muito difícil, por estar afastado dela. Seu olhar ainda era de raiva, para comigo. Eu achava de extrema infantilidade seu comportamento, o que me irritava profundamente e me fazia entender que eu deveria estar afastado. Mas quem sabe com o casamento, ela se acalme um pouco? Era o que eu torcia para acontecer.

E nesses seis meses assim, me mantendo afastado, eu sentia que ia enlouquecer. A cada vez que via seu lindo rosto, tomado pelo ciúme, me dava uma vontade insana de beija-la, o que me fazia lutar desesperadamente contra essa vontade. Era um tormento estar assim e sinceramente, eu torcia para que ela também estivesse sendo atormentada pelo distanciamento entre nós. Ela é minha, não tem como ela mudar isso, ou contradizer. Ela era minha há cem anos, é minha hoje e sempre há de ser!

O que me dava certa paz era que agora, depois de seis meses (e só foi rápido assim, por ser uma ninfa na tarefa de fazer o vestido da noiva), estamos organizando tudo para o casamento. O vestido dela, foi enviado com muito cuidado, por Samara, a ninfa responsável por fazê-lo. A coroa dela estava nas mãos de Draco há mais ou menos uma semana. E hoje, seus parentes viriam para o castelo, para assim embarcamos juntos na caravana.

Todos os meus itens e os de Maria, já haviam sido levados, ficando apenas os necessários para os dois dias de viagem daqui até Targoviste. Estávamos todos prontos e Maria foi se despedir de Arthur, que por motivos óbvios, não estaria no casamento. No entanto, quando eu me despedi dele, recebi todo o carinho do amigo magnífico que ele se tornou. Arthur estava feliz, pois com o meu casamento, viria o dele e Quincey.

Por volta das duas da tarde, chegaram Abraham, seus filhos, com a exceção do que está preso, os pais de Maria, Laura (minha adorada Martha reencarnada), com seu marido, filhos, nora e um netinho. Mostrei a eles quais eram as carruagens deles, abracei firmemente Laura e então nos dividimos. Para todos estarem a postos, em suas carruagens, com suas bagagens guardadas na que levaria as da família da noiva, foi cerca de uma hora. Mas saímos.

Um grupo de soldados, formado por deuses e guardiões, nos acompanhavam pelo caminho. Eu e Alan, os observavamos rindo entre si e brincando, mas sempre atentos. Não que dentro da nossa carruagem, as coisas fossem diferentes. Alan e eu, ríamos juntos e conversamos sobre tudo. Era bom estar com um amigo, em uma viagem tão longa.

Perguntava-me o que Maria estaria fazendo nesse momento. Me questionava se estaria bem, se estaria distraída. Na carruagem dela, foram ela, a mãe, a tia, Jade e Samara. Já na de Abraham, foram ele e quatro filhos. Quincey foi em uma, onde seu verdadeiro pai (e também o verdadeiro pai de Maria), Laurent, estava com ele. O marido de Mart... Laura, foi com a maioria dos filhos, apenas o filho já casado, foi com sua família.

Nossa caravana era imensa, já que Moira (e filhos), Isabeth, Nianna, Kalidilos (e esposa), Petatom, dentre outros deuses, ninfas e algumas bruxas, estavam conosco. A família inteira de Jade, estava indo. A família de Ioana (Amy reencarnada), também estava indo. Era uma caravana extensa e que causaria alvoroço na cidade, ao chegar. Não só por seu tamanho, mas também porque todos sabiam que eram o príncipe, sua noiva, nobres e familiares, que estavam chegando.

E de fato causamos um alvoroço naquela cidade. Toda a Targoviste fez festa para a nossa chegada. Pessoas possuíam ramos e outras jogavam flores para a nossa passagem. Eles estavam em festa por conta de meu casamento. Tocavam músicas nas ruas e todo o percurso até o castelo, havia sido assim.

Pela primeira vez, a festa com que os suditos fazem, com a minha chegada, era válida, já que essa não era sobre mim e sim sobre meu casamento. E ansiava eu, que daqui a quinhentos anos, todos ainda se lembrassem do dia em que o povo comemorou o casamento de seu príncipe!

E ao chegarmos no castelo, saí depressa da carruagem e assim que me viu, Draco disse um "meu filho" e veio correndo até a mim, para me abraçar. Eu estava tão feliz que gritei um "papai", indo também em direção a ele. Fui abraçado e beijado pelo rei, que estava claramente feliz com a minha chegada. Ao ver Maria, ele foi apressado até a ela, lhe beijando as mãos e desejando a ela, boas vindas.

Maria sorriu para ele e disse que estava feliz em vê-lo outra vez. Logo então, fui apresentar toda a família de Maria, para Draco. Ele foi amigável e gentil com todos, nos chamando para entrar. Todos se acomodaram e descansaram. Porém, pela noite, após o jantar, Draco veio até a mim e me disse para chamar alguns homens para comemorarmos previamente, o meu casamento.

O fizemos, Alan, Petatom, Kalidilos, Quincey, Laurent, Draco e eu. Apenas nos assentamos no terraço, bebemos e jogamos conversa fora. Havia sido uma excelente noite para todos e ali eu vi que eu adoraria Quincey tanto quanto havia adorado Arthur.

Na manhã seguinte, acordei cedo, comi, tomei um longo e bom banho e comecei a me aprontar. Não demoraram a chegar com minhas roupas e a coroa. Hoje, eu iria me casar com Maria Madalena.

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