Capítulo 3

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Diego Carvalho

Tive a semana mais fudida desse ano e ele mal começou. Carga atrasada, vários confrontos e tem um X9 tentando me derrubar.

Entrei na minha sala e mal me sentei o meu radinho apitou.

- Dá o papo.- Falo.

- Chefe, tem um engravatado aqui na entrada dizendo que é conhecido da dona Lulu. Falou que ela deu o papo que ele ia subir, procede?

- Libera.- Falo e desligo.

Dou uma olhada nos caderninhos que o Sabiá trouxe das lojinhas e comparo com o do mês passado.

Faço isso a manhã inteira e na hora do almoço subo pro mirante onde almoço todo dia!

Sento em uma mesa do lado de fora, tá um vento maneiro e o céu nublado.

- Aí Kakau, trás uma breja pra nós.- Peço pra mandada. Essa guria é foda, se diz minha amiga mas tava me queimado outro dia pras novinha que vem do pistão.

- Qual a boa?- Pergunta sentando comigo e servindo cerveja pra mim e pra ela.

- Tô cada dia mais rico e mais gostoso.- Ela solta aquela risada escandalosa e eu dou um bico na cerveja.

Fico trocando ideia com ela por um tempo e depois que meu almoço chega ela volta pro trampo.

Tô numa boa comendo meu rango quando vejo a dona Lulu chegar no restaurante acompanhada de uma baixinha gata pra caralho. Essa é novidade, nunca vi por aqui.

Elas entram e a dona Lulu apresenta o restaurante pra menina. Quando me nota, ela vem sorrindo com a guria no encalço dela.

- Karla, esse é o Diego! Ele é o dono do morro e...- Dona Lulu tava falando mas foi interrompida por alguém chamando ela na cozinha.- Me espera aqui, eu já volto.- Fala e sai quase correndo.

A menina bufa, me olha e cruza os braços.

- Diego, né?- Confirmo com a cabeça.- Posso?- Pergunta apontando pra cadeira vazia.

- Fica à vontade branquinha.- Ela revira os olhos e senta.

- Você é o dono do morro mesmo?

- Sou!- Falo e dou um bico na cerveja.

- E como é?- Encaro ela de semblante frio.

- Tá perguntando de mais.- Ela bufa.

- Aff, até fazer perguntas é contra as diretrizes desse lugar.- Dou um meio sorriso sem deixar ela notar.

- É complicado.- Respondo a pergunta dela.

- Imagino.- Diz batendo a unhas grandes contra a mesa.

- Tu é de onde? Tá aqui por que?- Ela sorri de canto.

- Uma longa história! Digamos que eu estou sendo castigada por ser uma menina má.- Diz pensativa e eu não entendo nada, decido deixar pra lá e mudar de assunto.

- Tem quantos anos?-

- 20, e você?

- 26 no sábado que vem.- Ela sorri.

- Me convida pra festa!- Diz brincalhona.

- As festas daqui não são bem a tua cara.- Ela arqueira uma sobrancelha.

- E como sabe disso? Nem me conhece.

- Tu fala difícil, é toda marrenta, tem jeito de paty. Com certeza não é cria de favela.- Falo e a guria gargalha.

- Ótima percepção senhor gelo.- Nego e termino a cerveja do copo.

- Vou nessa.- Levanto e jogo uma nota de cinquenta reais na mesa.

- Espera, eu vou te ver por aí?- Ela fica vermelha e eu acho graça mas não sorrio.

- Se for no baile, vai me ver sim.- Pisco pra ela e meto marcha.

A guria é gata, tem um papo maneiro! Com certeza vou provar o mel dela.

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