Capítulo 26

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KARLA

Hoje o dia tá uma loucura sem fim. A festa das crianças começa as duas horas e desde cedo eu estou correndo atrás de tudo. Alugamos brinquedos infláveis, compramos muita comida e ainda daremos brinquedos pras crianças e uma cesta básica para as mamães.

- Tia Karla, olha que roupa maneira.- Kauê fala correndo na minha direção.

- Meu Deus, você tá um gatão.- Ele sorri animado.

- A tia Lulu me deu dinheiro pra comprar doce e eu comprei isso pra senhora...- Ele tira do bolso uma trufa de brigadeiro.

- Haaa meu amor, muito obrigado.- Recebo e tiro logo da embalagem.- Vamos dividir?-Ele assente. Dou uma mordida e dou o restante pra ele.- Uma delícia.

- É mesmo, eu vou levar uma pra Valentina.- Fala e sai correndo. Sorrio encantada com a doçura dessa criança. Quebrei minha dieta, mas valeu muito apena.

Volto a amarrar os balões nos cordões. Um tempo depois o Lorin entra no pátio meio ofegante.

-Cleberson, você tá bem?- Pergunto preocupada.

- Eu tó de boa Karlinha. Depois nois se fala.- Me dá um beijo na bochecha e vai em direção a cozinha.

- O que deu nesses meninos hoje?- Pergunto pramim mesma, dou de ombros e volto a fazer o que estava fazendo.

Depois que acabamos tudo, eu fui pra casa me arrumar bem rápido. O Diego veio comigo, ele está calado e inquieto.

- Diego, qual o problema?- Pergunto tirando a blusa.

- Nada não.- Fala sem me olhar.

- Olha, você ta inquieto desde que saiu da cozinha lá na ong. O Lorin também tá muito estranho. E o meu pai, nem se fala.- Diego me olha.- Que quê tá pegando?- Uso a gíria dele.

- Na hora certa tu vai saber branquinha.- Fala serio.

Tomo banho e logo depois o Diego vai. Visto uma roupa bonita e quentinha porque está bem frio hoje. O Diego tá lindo usando uma calça jeans e uma camisa preta e um casaco igual o meu. Suas correntes de ouro envoltas do pescoço e seu óculos de sol habitual.

Voltamos pra ONG e lá já haviam muitas pessoas. Cumprimentei algumas mãezinhas que me agradeceram. Falei com os nosso colaboradores junto do Diego e depois demos uma pausa nas musicas infantis para fazer os discursos.

- Salve família, queria agradecer a todos pela presença e agradecer aos nossos colaboradores por tornar isso possível. Graças a vocês nois tá podendo livrar muito menó de viver na vida loka que é o crime. Nois tá alimentando essa garotada, ensinando a ler e escrever, mas acima de tudo a ter caráter e amor pelo próximo. E quero agradecer também a minha fiel, Karla, por se dedicar tanto a esse projeto e fazer os dias dessas crianças e os meus, mais felizes.- Ele joga beijo pra mim enquanto todos aplaudem. Eu sorrio toda boba e vou pro palco.

- Hoje é um daqueles dias que a gente lembra por muito, muito tempo. É uma honra pra mim poder fazer parte disso e saber que uma atitude feita hoje pode mudar a vida de um ser humano pra melhor futuramente é muito gratificante. O meu namorado, Diego, teve essa iniciativa e eu fico feliz de poder contarmos com a ajuda de todos os professores, cozinheiras, nossos colaboradores, amigos e familiares pra fazer esse projeto dar certo. E quanto a isso, eu queria chamar o meu pai, senhor Roberto, que doou pra nossa ong uma quantia generosa, fazendo com que essa festa pra nossas crianças hoje, fosse possível.- Todos aplaudem enquanto meu pai sobe no palco. Ele me dá um beijo na bochecha e eu deixo ele lá.

- Eu não nasci aqui no complexo da penha, mas durante a minha juventude eu vim muito pra cá. Conheci a mulher da minha vida aqui. Essa favela é liderada por um homem justo e que consegue pensar nas necessidade do outro. Cuidamos daquilo que amamos! E eu vou cuidar dessa favela porque aqui vivem as pessoas que mais importam pra mim. Minha neta, Valentina e meus filhos Karla e... CLEBERSON.- Eu comecei a aplaudir e só segundos depois processei o que ele tinha dito.

- Diego...- Olhei pra ele que está ao meu lado.- DIEGO, O QUE FOI QUE ELE FALOU? EU ACHO QUE ENTENDI ERRADO.- Pergunto eufórica.

Meu pai aparece na minha frente junto como Cleberson. Olho pra eles esperando uma resposta.

- É um longa historia, Karla.- Meu pai fala.- Mas você tem um irmão mais velho.

- É algum tipo de brincadeira?- Pergunto sem acreditar.

- Não amor. É verdade.- Diego fala.

- Mas como...?

- Eu explico depois meu amor. -Papai fala. Eu encaro o Cleberson e involuntariamente abraço o meu irmão. Ele retribui o abraço e depois de acalmar os ânimos, fomos aproveitar a festa. Sarah e Kakau quase enlouqueceram com a noticia e a tia Luiza nem se fala.

Foi um dia cheio de emoções e eu ainda não me acostumei com a Ideia de ter um irmão. Mas confesso que estou muito empolgada com isso.

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                                                                                 Kauê Aruda

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                                                                                 Kauê Aruda.

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