Capítulo 01

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• Era uma manhã de sol e céu claro. O calor do verão era suportável graças à brisa suave que soprava pelas ruas, trazendo consigo uma sensação de renovação e novas possibilidades. Adrien dirigia sua velha caminhonete, carregada de caixas e móveis, com um sorriso sereno no rosto. Ele sabia que aquela mudança não era um simples acaso. Tudo estava sendo cuidadosamente orquestrado pelo plano divino — ou, ao menos, era nisso que ele acreditava profundamente.

O bairro parecia acolhedor. Casas pequenas, com jardins coloridos e crianças brincando nas calçadas, criavam uma atmosfera amigável. Adrien, sempre alegre e grato a Deus, sentia seu coração cheio de expectativa. Ele havia passado os últimos meses orando, pedindo direção. E agora, ali estava ele, pronto para começar um novo capítulo de sua vida.

— Senhor, obrigado por mais essa oportunidade — murmurou, enquanto estacionava a caminhonete em frente à sua nova casa. — Não sei o que o futuro me reserva, mas sei que será bom, porque o Senhor é bom o tempo todo.

Ao sair do carro, Adrien deu uma longa olhada ao redor. O bairro era modesto, mas acolhedor, exatamente o que ele procurava. Era um lugar tranquilo, longe do barulho e da agitação da cidade grande — perfeito para começar a construir algo sólido.

Do outro lado da rua, atrás da janela da casa de número 37, Marinette observava tudo. Ela não sabia por que estava tão atenta àquele homem que acabara de chegar, mas algo em sua expressão serena lhe chamava a atenção. "Mais um otimista...", ela pensou com um suspiro, virando-se para o espelho da sala. Seus cabelos castanhos caíam desarrumados sobre os ombros, e seus olhos azuis mostravam traços de cansaço que nenhuma maquiagem conseguia disfarçar.

Marinette já não era a mesma mulher sonhadora de anos atrás. Depois de tantos relacionamentos fracassados e promessas quebradas, ela havia aprendido uma verdade dolorosa: o amor não existia. Pelo menos, não para ela. A vida lhe mostrara o lado cruel do que as pessoas chamavam de amor. Ela acreditara tantas vezes nas palavras doces, nas promessas de "para sempre", mas sempre acabava machucada. E se já não acreditava no amor, acreditar em Deus era ainda mais difícil.

— O que Ele tem feito por mim? — murmurou para si mesma, enquanto afastava uma mecha de cabelo do rosto. A fé, que um dia fora parte de sua vida, agora parecia distante, como o eco de uma canção que ela já não ouvia.

Tentando afastar esses pensamentos, Marinette olhou novamente para a janela, dessa vez sem se preocupar em ser discreta. Observou Adrien descarregar algumas caixas da caminhonete. Ele parecia organizado e forte, movendo tudo com facilidade e concentração. Houve um momento em que seus olhares se cruzaram, mas ela desviou rapidamente. "Ele vai se enturmar rápido com os outros vizinhos otimistas", pensou com sarcasmo.

Adrien, por outro lado, sentiu uma pequena faísca quando seus olhos encontraram os de Marinette. Ela estava na janela por apenas um segundo, mas aquele breve instante foi o suficiente para ele perceber a tristeza em seu olhar. "Interessante", pensou. "Parece que essa vizinha tem uma história para contar."

Ele voltou sua atenção para a tarefa de descarregar a caminhonete. Ainda havia muito o que fazer, mas algo dentro dele o impelia a orar por aquela mulher, mesmo sem conhecê-la. Era quase como se Deus estivesse pedindo para ele interceder por ela, como se houvesse uma batalha interna acontecendo naquele coração.

Adrien não sabia muito sobre ela, nem sobre o bairro, mas já tinha aprendido a ouvir aquele sussurro suave de Deus em seu espírito. Enquanto carregava outra caixa para dentro de casa, orou silenciosamente: "Senhor, abençoe meus novos vizinhos. Que eu possa ser uma luz neste lugar, conforme Tua vontade."

Dentro de sua nova casa, que ainda cheirava a tinta fresca e móveis novos, Adrien começou a organizar tudo. Ele sempre gostou de ordem e sabia que, com o tempo, tudo ficaria exatamente como ele queria. Enquanto arrumava seus livros de fé e objetos pessoais, não conseguia deixar de pensar em Marinette, a mulher da janela.

Mas logo espantou esse pensamento, lembrando-se de que deveria ser paciente. Se Deus tivesse algum plano para ele em relação àquela mulher, Ele revelaria na hora certa. "Ainda tenho tempo", pensou, sorrindo para si mesmo. Afinal, ele era novo ali, e os planos de Deus eram perfeitos. Tudo tinha o seu tempo.

No fim da tarde, Marinette decidiu sair para uma caminhada pelo bairro. Era sua maneira de espairecer, de lidar com os pensamentos e sentimentos confusos que às vezes insistiam em ressurgir. Enquanto caminhava, acabou passando pela casa de Adrien. Ele estava no jardim, aparentemente cuidando de algumas plantas, e sorriu ao vê-la se aproximar.

— Olá! — disse ele, com um entusiasmo natural, como se conhecê-la fosse o momento mais esperado do dia. — Eu sou Adrien, seu novo vizinho. Prazer em conhecê-la!

Marinette hesitou por um segundo, não acostumada com aquele tipo de interação. Havia algo estranho na maneira como ele a encarava, como se já tivesse orado por ela ou soubesse de algo que ela mesma ignorava.

— Oi... Marinette — disse ela, mais por educação do que por vontade. Como sempre, estava desconfiada. As pessoas não eram o que pareciam. Ele, como todos os outros, certamente tinha suas intenções ocultas.

— Marinette, um nome bonito — comentou Adrien, sorrindo. — Se precisar de alguma coisa, não hesite em pedir. Estou me mudando agora, mas pretendo ficar por aqui por um bom tempo.

Ela assentiu, sem saber exatamente o que dizer. Tudo o que queria era sair dali o mais rápido possível, sem mais conversas, sem mais aproximações. No entanto, antes de ir, olhou para ele mais uma vez. Havia algo diferente em Adrien, algo que ela não conseguia definir.

Mal sabia Marinette que aquele seria apenas o primeiro de muitos encontros. Deus já estava tecendo os fios que ligariam suas histórias, mesmo que ela ainda não estivesse pronta para acreditar nisso.

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