Capítulo 03

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Nos dias que se seguiram ao segundo encontro com Adrien, Marinette fez o possível para evitar cruzar com ele. Suas caminhadas matinais foram reduzidas, e até mesmo as visitas ao mercado se tornaram menos frequentes. Ela sabia que estava fugindo, mas não queria admitir isso. Adrien era diferente, sim, mas sua abertura sobre a fé a incomodava. Marinette havia jurado, depois do último relacionamento, que nunca mais deixaria alguém se aproximar o suficiente para machucá-la novamente. E Adrien, com seu sorriso gentil e palavras cheias de propósito, representava uma ameaça clara a essa promessa.

Certa manhã, Marinette estava sentada em sua mesa de café, folheando uma revista sem muito interesse. Sua mente, no entanto, estava longe dali. Ela não conseguia parar de pensar em como Adrien parecia tão calmo, como se soubesse algo que ela não sabia. Ele acreditava que Deus tinha um plano, enquanto ela se sentia presa a uma vida sem sentido, tentando fazer as pazes com o passado.

Enquanto tomava um gole de café, seus pensamentos invadiram sua mente como uma enchente incontrolável. Relacionamentos passados voltavam com força. Promessas vazias, mentiras sutis, traições. Marinette acreditou em muitos homens que juraram estar ao seu lado, mas todos, de alguma forma, a abandonaram. Cada abandono a afastava mais da fé. Se Deus realmente se importava, por que permitia que ela passasse por tantas desilusões?

Marinette raramente compartilhava essa dor com alguém. Com o tempo, aprendeu a mascarar seus sentimentos com um sorriso frio e distante. A fé, para ela, era uma memória distante de algo que um dia a confortou, mas agora parecia irrelevante. Ou, pelo menos, era o que tentava acreditar.

Enquanto isso, Adrien se adaptava cada vez mais à nova rotina no bairro. Continuava cultivando seu pequeno jardim e já havia feito amizade com alguns vizinhos, mas seu pensamento voltava frequentemente a Marinette. Ele sentia um forte desejo de orar por ela, algo que não conseguia explicar completamente. Não era apenas curiosidade sobre a mulher triste que vivia do outro lado da rua; era algo mais profundo. Sentia que Deus o colocara ali com um propósito maior.

Numa tarde de domingo, enquanto organizava alguns livros, ele decidiu fazer uma pausa. Sentou-se em sua poltrona favorita, pegou a Bíblia que estava sobre a mesa e orou silenciosamente: “Senhor, mostra-me como posso ser uma bênção para Marinette. Não sei o que ela carrega no coração, mas sei que o Senhor sabe. Se há algo que eu possa fazer, que eu ouça a Tua voz e siga os Teus passos.”

Após a oração, uma paz encheu seu coração. Ele sabia que não precisava apressar nada. Deus trabalhava no tempo certo, e seu papel era apenas estar disponível.

[...]

A distância que Marinette tentava manter estava prestes a ser encurtada, por mais que ela resistisse.

Na tarde de segunda-feira, ao voltar do trabalho, Marinette viu Adrien na frente de sua casa, carregando uma caixa pesada de ferramentas para o jardim. Mesmo que tivesse decidido se manter afastada, não pôde evitar uma pontada de consciência ao vê-lo lutando para carregar o peso sozinho.

— Precisa de ajuda? — perguntou, antes que pudesse se conter.

Adrien, surpreso, virou-se e sorriu ao vê-la parada na calçada.

— Ah, oi, Marinette! Eu aceitaria a ajuda, mas não quero te incomodar — disse ele, gentil como sempre.

— Não é incômodo — murmurou ela, cruzando os braços, um pouco desconcertada com sua própria oferta.

Ela caminhou até ele e pegou uma das extremidades da caixa, sentindo o peso considerável. Juntos, levaram a caixa para dentro da garagem, e Adrien a agradeceu sinceramente.

— Obrigado. Eu estava precisando dessa força extra — disse ele com uma risada suave.

— Não foi nada — respondeu Marinette, já se preparando para ir embora.

Adrien, percebendo a rara oportunidade, decidiu tentar uma abordagem leve.

— Já que estamos falando de ajuda, você teria alguma dica de onde encontrar boas lojas de jardinagem? Ainda estou tentando descobrir os melhores lugares para conseguir plantas e sementes.

Marinette pensou por um momento. Ela sempre tentava manter distância, mas agora se via envolvida numa conversa casual. Talvez fosse o tom descontraído de Adrien ou o jeito genuíno com que ele parecia valorizar o que ela dizia, mas, por um breve instante, ela se permitiu relaxar.

— Há uma loja pequena na rua principal. Eu costumava passar por lá, mas nunca comprei nada...

— Parece um bom lugar para começar! Obrigado pela dica — respondeu Adrien, com aquele sorriso que parecia derreter qualquer resistência.

Marinette, querendo encerrar a conversa antes que ficasse desconfortável, deu um aceno rápido.

— Bem, preciso ir. Foi... bom ajudar.

— Foi ótimo falar com você, Marinette. E, lembre-se, minha oferta continua de pé. Se precisar de algo, é só chamar.

Enquanto Marinette voltava para casa, sentia uma mistura de alívio e frustração. Alívio pela interação ter sido breve, mas frustração por não conseguir tirar Adrien da cabeça. Ele era diferente, e isso a assustava.

[...]

Os dias se passaram, e Marinette continuou a manter distância, mas parecia que, a cada vez que tentava evitar Adrien, acabava se aproximando mais dele. Ora ele estava no jardim quando ela passava, ora se encontravam no mercado. Com o tempo, esses encontros breves começaram a se tornar menos incômodos, embora Marinette mantivesse suas defesas erguidas.

Certa tarde, enquanto fazia compras, Adrien apareceu no mesmo corredor do mercado. Quando a viu, acenou com aquele sorriso já familiar.

— Marinette! Que coincidência! — disse ele, aproximando-se com sua habitual leveza. — Parece que estamos sempre nos encontrando.

— É, parece — respondeu ela, sem saber exatamente o que dizer.

— Como estão indo as coisas? — perguntou Adrien, colocando algumas maçãs na cesta.

— Bem, eu acho. Nada de muito novo.

Adrien assentiu, atento ao tom de voz dela. Ele sentia que havia algo mais profundo ali, algo que Marinette não estava pronta para compartilhar. Mesmo assim, não pôde deixar de fazer uma pergunta que estava em sua mente há algum tempo.

— Sei que não nos conhecemos muito bem, mas... você aceitaria um convite para tomar um café comigo um dia desses?

Marinette congelou. A última coisa que queria era dar margem a qualquer tipo de aproximação mais pessoal. Sua regra era clara: não se envolver.

— Eu... — hesitou.

Ela olhou nos olhos de Adrien e viu sinceridade. Ele não estava forçando nada, nem parecia ter segundas intenções. Era só um café. E, por alguma razão, isso a fez repensar.

— Talvez — disse ela, sem se comprometer, mas também sem negar.

Adrien sorriu, respeitando sua reserva.

— Quando você estiver pronta, é só avisar. Sem pressa.

Enquanto Marinette se afastava, sentia uma confusão crescente em seu coração. Adrien era diferente, mas isso não significava que ela estava pronta para deixá-lo entrar em sua vida. Mesmo assim, algo dentro dela a fazia se perguntar se, talvez, só talvez, fosse possível haver algo além da dor.

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