Capítulo 06

4 1 0
                                    

Após o café com Adrien, Marinette sentia uma mistura peculiar de alívio e incerteza. A conversa havia sido leve, talvez até demais, considerando o peso emocional que ela ainda carregava. Adrien fora gentil e atencioso, e a maneira como ele falava sobre a vida e sua fé não a deixava pressionada, mas sim instigada. Pela primeira vez em anos, Marinette considerou a possibilidade de confiar em alguém novamente.

Naquela noite, deitada na cama, ela revivia o encontro em sua mente. Havia algo no jeito de Adrien que a fazia sentir-se em paz, uma tranquilidade que ela quase não reconhecia. No entanto, essa serenidade também a assustava. Ela ainda temia se abrir completamente, deixar alguém conhecer as cicatrizes que mantinha tão bem escondidas.

No domingo, como de costume, Ayla apareceu na casa de Marinette para tomar chá e conversar.

— E então, como foi o café com o Adrien? — perguntou Ayla, sentando-se com um sorriso curioso no rosto.

Marinette suspirou, refletindo sobre a tarde anterior.

— Foi... bom. Melhor do que eu esperava, na verdade. Ele é tão calmo, Ayla, tão tranquilo. Eu me senti bem ao lado dele, mas... não consigo evitar de ficar com o pé atrás. Tenho medo de que tudo mude de repente.

Ayla, sempre sensível às emoções de Marinette, sorriu de maneira compreensiva.

— Eu entendo, Mari. É normal ter medo, principalmente depois de tudo o que você passou. Mas sabe, nem todas as pessoas vão te machucar como antes. Às vezes, quem nos faz sentir tranquilos são aqueles que precisamos manter por perto.

Marinette balançou a cabeça lentamente, ponderando.

— Talvez você tenha razão. Mas é difícil, sabe? Adrien parece ser tão confiante na fé dele, tão seguro sobre o plano de Deus para a vida. E eu... eu não estou nesse lugar. Parece que estamos em mundos diferentes, espiritualmente falando.

Ayla pousou sua xícara de chá sobre a mesa e olhou diretamente para Marinette.

— Você está com medo de quê, exatamente? Que ele vá te julgar pelas suas dúvidas? Marinette, pelo que você me contou, Adrien não parece ser do tipo que pressiona. Ele não está tentando te convencer de nada, certo?

— Não, não está — admitiu Marinette, um pouco mais relaxada. — Mas às vezes me sinto como se ele estivesse esperando que eu mude. Que eu volte a acreditar como antes. E isso me assusta.

Ayla riu suavemente.

— Amiga, ninguém está te pedindo para mudar de uma hora para outra. Nem você precisa voltar a acreditar em tudo que acreditava antes. Se for para acontecer, vai ser no seu tempo. E, pelo que você disse, Adrien parece respeitar isso, né?

— Sim, acho que sim — respondeu Marinette, pensativa. — Talvez o problema seja mais meu. Eu estou com tantas barreiras levantadas que nem sei por onde começar a derrubá-las.

— Confie em você mesma, Mari. Não se trata apenas de confiar nos outros, mas de acreditar que você merece coisas boas, de novo. Porque, sinceramente, você merece — Ayla disse, com aquela confiança que sempre fortalecia Marinette, mesmo nos dias mais sombrios.

[...]

Nos dias seguintes, Marinette e Adrien continuaram se encontrando de forma casual. Era tudo tão natural que, em muitos momentos, Marinette se pegava sorrindo ao pensar nele. Estar ao lado de Adrien era diferente, e ela começou a perceber que essa diferença estava na ausência de expectativas sufocantes. Ele não esperava que ela mudasse, apenas compartilhava seu tempo e suas histórias.

Em uma dessas conversas, Adrien a convidou para uma caminhada no parque.

— O que acha de irmos caminhar no sábado? — perguntou ele, sorrindo durante um encontro por acaso na padaria.

Marinette hesitou, mas a simplicidade do convite a fez relaxar.

— Acho que pode ser uma boa ideia — respondeu, com um sorriso leve. — Caminhar faz bem para a mente, né?

— Faz sim — concordou Adrien. — E também é uma ótima maneira de colocarmos a conversa em dia.

No sábado, Marinette se preparou para a caminhada, vestindo algo confortável. O dia estava nublado, mas agradável. Ao chegar ao parque, encontrou Adrien já esperando, sorrindo como sempre. Conforme caminhavam, a conversa fluía com a mesma leveza de sempre, mas, em algum momento, Marinette decidiu abrir mais uma pequena porta de sua mente.

— Sabe, Adrien, estive pensando no que você disse sobre acreditar que Deus tem um plano para todos nós — começou Marinette, escolhendo suas palavras com cuidado. — Ainda não sei se acredito nisso, mas... estou começando a achar que talvez exista algo que eu ainda não estou enxergando.

Adrien a ouviu com atenção, sem interromper. Ele sabia que aquele era um momento significativo.

— Não acho que você precise ter todas as respostas agora, Marinette — disse ele, com sua calma habitual. — A fé é um processo. Não é sobre onde você está, mas sobre continuar caminhando, mesmo sem saber exatamente onde o caminho leva.

Marinette sorriu suavemente. As palavras de Adrien sempre a faziam sentir-se mais leve, como se ele tirasse um pouco do peso de seus ombros.

— Acho que meu maior medo é me machucar de novo — admitiu ela. — Não só em relacionamentos, mas na vida, em geral. Tenho medo de dar um passo e me deparar com a mesma dor de antes.

— Esse medo é real, e todos nós o sentimos — respondeu Adrien, com gentileza. — Mas confiar, seja em alguém ou na vida, também envolve correr esse risco. A fé é sobre caminhar, mesmo sabendo que pode doer. E você não precisa saber onde vai dar, só precisa estar disposta a dar o próximo passo.

As palavras de Adrien ecoaram dentro de Marinette. Talvez a confiança que ela tanto precisava não fosse sobre acreditar cegamente em um plano divino, mas sobre se permitir viver, mesmo com os riscos. Aos poucos, ela percebia que podia confiar nele, não porque ele fosse perfeito, mas porque ele era autêntico.

— Talvez eu possa tentar — disse Marinette, olhando para Adrien com um brilho novo em seus olhos. — Tentar caminhar, um passo de cada vez.

Adrien sorriu, e Marinette sentiu que aquele pequeno ato de confiança poderia ser o início de algo maior.

Iluminados pelo AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora