Capítulo 04

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Os dias passaram com uma estranha regularidade. Marinette e Adrien continuavam a se encontrar nos momentos mais inesperados: no mercado, enquanto ela esperava o ônibus, ou em uma padaria próxima. Embora Marinette mantivesse sua distância e resistisse a qualquer aproximação mais profunda, Adrien nunca insistia demais. Ele simplesmente estava lá, com seu sorriso gentil e uma oferta silenciosa de amizade. Isso a deixava desconfortável e confusa.

Ela não conseguia ignorar que Adrien não era como os outros homens que conhecera. Sua fé serena e a maneira calma como lidava com o mundo a desconcertavam. Ele não era invasivo, nem prometia coisas que não podia cumprir. Apenas confiava em Deus, e isso parecia ser suficiente para ele. Marinette, porém, havia perdido a capacidade de confiar assim.

Num sábado à tarde, Marinette decidiu sair para uma caminhada. O sol brilhava em um céu sem nuvens, e ela esperava que o ar fresco ajudasse a clarear seus pensamentos. Enquanto vagava pelo bairro, seus pés a levaram, sem que percebesse, até a pequena igreja local.

Ela parou em frente à igreja e ficou olhando para a entrada. Fazia anos desde que havia entrado em um templo religioso. Após seus relacionamentos fracassados, orar ou confiar em Deus parecia impossível. Ela se afastara da fé, e agora, aquele edifício representava algo que ela havia deixado para trás.

Enquanto refletia, ouviu uma voz familiar.

— Marinette?

Ela se virou e, claro, lá estava Adrien, a poucos metros de distância, com um olhar surpreso e o mesmo sorriso amável. Ele carregava uma sacola de compras e parecia estar voltando de alguma tarefa cotidiana. Mas o encontro parecia mais que uma coincidência.

— Oi, Adrien — disse Marinette, sentindo o desconforto familiar. — O que faz por aqui?

— Estava voltando do mercado — ele respondeu, aproximando-se. — E você? Pensando em entrar?

Ela olhou para a porta da igreja, hesitando.

— Não... só estava passando. Não tenho planos de entrar — respondeu, evasiva.

Adrien assentiu, notando a tensão no rosto dela. Ele não queria pressioná-la, mas percebeu que aquilo era significativo. Marinette estava parada ali, em frente à igreja que claramente evitava há anos. Algo dentro dela estava em conflito.

— Às vezes, não precisamos de planos para nos encontrarmos em certos lugares, sabe? — disse ele suavemente. — Talvez você esteja aqui por um motivo.

Marinette franziu a testa, desconfortável.

— Eu não sei se acredito nisso — retrucou, com um tom defensivo. — Não sou do tipo que acha que tudo acontece por um propósito.

Adrien sorriu, compreensivo.

— Eu entendo. Nem sempre é fácil acreditar, especialmente depois de passar por coisas difíceis. Mas, de qualquer forma, você está aqui agora.

Ela cruzou os braços, erguendo suas barreiras emocionais.

— Não acho que Deus tenha muita coisa a ver com o que acontece na minha vida. Faz tempo que não vejo sentido nisso tudo.

Adrien não parecia surpreso com a confissão.

— Eu entendo — disse ele, calmamente. — Imagino que muitas coisas te levaram a pensar assim. Mas, se me permite, Deus não deixou de te amar, mesmo que você não sinta a presença d'Ele.

Marinette bufou, tentando afastar a vulnerabilidade crescente.

— Você fala como se fosse fácil — retrucou, com amargura. — Como se bastasse acreditar, e tudo se resolveria. Mas não é assim. Pelo menos, não pra mim.

Adrien balançou a cabeça.

— Eu nunca disse que é fácil, Marinette. A fé nunca é simples. E seguir os planos de Deus não significa que tudo será fácil. Eu mesmo já passei por momentos de dúvida, momentos em que questionei por que certas coisas acontecem.

Ela o olhou, surpresa. Pela primeira vez, Marinette viu Adrien de uma forma diferente. Sempre o imaginara como alguém inabalável, cuja fé era incólume. Mas agora, ele estava admitindo suas próprias lutas.

— Você? — perguntou ela, surpresa. — Achei que você era o tipo que sempre acreditava, sem questionar.

Adrien riu suavemente.

— Ah, Marinette, todos nós temos nossas lutas. Eu confio em Deus, mas isso não significa que eu nunca tenha dúvidas ou medos. A diferença é que, nos momentos mais difíceis, eu escolho acreditar que Deus está comigo, mesmo quando não entendo o que está acontecendo. Às vezes, é um passo de cada vez.

Marinette ficou em silêncio. As palavras de Adrien a atingiram de maneira inesperada. Ela sempre o via como o homem perfeito, cheio de fé e convicção. Agora, saber que ele também tinha dúvidas tornava-o mais real.

— Eu... não sei se consigo acreditar de novo — admitiu, com a voz baixa. — Já tentei, e sempre acabo me machucando.

Adrien se aproximou um pouco mais, mantendo a voz suave.

— Você não precisa decidir tudo agora. A jornada da fé não acontece de uma vez. E não estou aqui para te convencer de nada. Só quero que saiba que Deus nunca desistiu de você, Marinette. E acredito que Ele está te chamando de volta, no tempo certo.

Marinette sentiu um nó na garganta. As palavras dele tocavam feridas profundas. Ela queria afastá-lo, dizer que ele estava errado. Mas, ao mesmo tempo, uma parte dela começava a se perguntar se ele poderia estar certo.

— Eu... preciso ir — disse ela, tentando controlar a emoção.

Adrien assentiu.

— Claro. Foi bom conversar com você. E lembre-se, sem pressa. Deus tem o tempo certo para tudo.

Ela acenou rapidamente e se afastou. Cada passo parecia mais pesado, como se algo dentro dela estivesse sendo desafiado a mudar. As palavras de Adrien ecoavam em sua mente, despertando emoções que ela tentava suprimir há muito tempo.

Ao chegar em casa, Marinette fechou a porta e encostou-se nela, respirando fundo. Pela primeira vez em muito tempo, ela se permitiu pensar: E se Adrien estiver certo?

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