Capítulo 08

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De volta à cidade, Marinette não conseguia tirar da mente o momento que tinha vivido na montanha. O nascer do sol, a simplicidade das palavras de Adrien, e a maneira como aquela luz suave iluminou tanto a natureza quanto seus próprios pensamentos. Desde então, algo dentro dela parecia diferente, como se uma leve fissura tivesse sido aberta no muro que ela construiu ao longo dos anos para se proteger.

Enquanto andava pela sala de seu pequeno apartamento, com uma xícara de chá nas mãos, Marinette refletia sobre tudo o que tinha acontecido. A experiência na montanha a tocara mais profundamente do que ela esperava. Aquela conversa com Adrien sobre como Deus queria trazer luz para a vida das pessoas havia plantado uma semente. Ela não podia mais ignorar o fato de que algo havia mudado em seu coração.

Sentou-se no sofá, deixando o chá de lado e cruzando as pernas, de frente para a janela. Lá fora, o céu nublado e a brisa suave criavam uma atmosfera calma, perfeita para o que ela sentia naquele momento. Respirou fundo, lutando contra o impulso de manter suas barreiras intactas.

Será que está na hora de tentar de novo? Mas não como antes... não do meu jeito. Talvez, desta vez, eu possa tentar algo diferente. Algo mais profundo.

Por um breve momento, Marinette hesitou. Nunca havia sido fácil para ela admitir que precisava de ajuda, muito menos se render a algo que não estava sob seu controle. Mas algo dentro dela dizia que esse era o momento. Fechou os olhos, respirando fundo e, pela primeira vez em muitos anos, sentiu-se disposta a conversar com Deus, mesmo sem saber ao certo como ou o que esperar.

Com os olhos ainda fechados e as mãos repousadas em seu colo, Marinette começou a falar, em um sussurro quase imperceptível.

— Deus... — começou ela, com a voz baixa, hesitante. — Eu não sei se você está me ouvindo. Faz tanto tempo que eu parei de tentar falar com você. Eu pensei que poderia fazer tudo sozinha, do meu jeito, mas... acho que não funcionou. Não deu certo. Eu só... eu só quero tentar algo diferente agora.

Ela fez uma pausa, sentindo uma leve onda de emoção surgir, mas continuou, determinada.

— Eu já tentei tantas vezes fazer tudo do meu jeito, e só me machuquei. Mas agora... agora eu quero tentar fazer do seu jeito. Se você realmente tem um plano, se realmente está me ouvindo, me ensine a fazer a sua vontade. Mostre-me como eu posso viver de um jeito diferente, um jeito que traga paz e não mais dor.

Ela terminou a oração com um suspiro profundo, como se estivesse tirando um peso enorme de seus ombros. E, então, algo inesperado aconteceu. Uma sensação suave, quase imperceptível a princípio, começou a preencher seu peito. Uma paz indescritível começou a se espalhar por todo o seu ser, lenta, mas profundamente. Era como se aquela paz estivesse esperando por tanto tempo, apenas aguardando o momento em que Marinette estivesse disposta a abrir seu coração.

Com os olhos ainda fechados, Marinette permitiu-se sentir. Era uma sensação que ela não conhecia, algo além de qualquer tranquilidade que ela já tivesse experimentado. Pela primeira vez, em muito tempo, ela sentiu que não estava sozinha.

Ela não sabia exatamente o que o futuro reservava, mas naquele instante, soube que estava no caminho certo.

[...]

Na manhã seguinte, Marinette acordou com uma leveza que há muito não sentia. O sol brilhava suavemente através das cortinas, e ela sabia que aquele seria um dia especial — seu aniversário. Ao invés de sentir a habitual melancolia que costumava acompanhá-la em datas comemorativas, ela sentia-se grata por mais um ano de vida. Algo havia mudado dentro dela.

Pouco depois do café da manhã, Ayla apareceu em sua porta, animada e sorridente.

— Feliz aniversário, amiga! — exclamou, abraçando Marinette calorosamente. — Hoje é um dia especial, e tenho certeza de que você vai adorar o que está por vir.

Marinette sorriu, apreciando a energia vibrante de Ayla, mas também curiosa sobre o que ela estava tramando.

— O que você está aprontando, Ayla? — perguntou Marinette, com uma risada desconfiada.

— Ah, nada demais... Só algumas surpresinhas — respondeu Ayla, com um brilho nos olhos que denunciava suas intenções.

Ayla a convenceu a sair de casa por algumas horas, sugerindo que elas fossem tomar um café juntas e dar uma volta pela cidade. Marinette aceitou, aproveitando o tempo para relaxar e conversar com a amiga. Durante o passeio, ela não podia deixar de pensar em como sua vida estava mudando aos poucos. A oração da noite anterior ainda estava fresca em sua mente, e a paz que sentira continuava a envolvê-la.

Quando voltaram ao apartamento, Marinette abriu a porta e foi imediatamente recebida por um coro de vozes alegres.

— Surpresa! — gritaram Adrien e alguns amigos, incluindo Ayla, que obviamente havia sido a cúmplice na organização do evento.

Marinette ficou boquiaberta, completamente surpresa. O apartamento estava decorado com balões coloridos e uma mesa cheia de doces e salgados. O sorriso de Adrien era contagiante, e Marinette não conseguia acreditar que ele havia organizado tudo aquilo para ela.

— Adrien, você... fez isso por mim? — perguntou ela, ainda em choque, mas com um sorriso sincero no rosto.

— Claro — respondeu ele, com o olhar carinhoso que ela já começava a reconhecer tão bem. — Achei que você merecia uma festa para celebrar o quão especial você é, não só para mim, mas para todos que estão aqui.

Marinette sentiu seus olhos se encherem de lágrimas, mas eram lágrimas de felicidade. Ela nunca havia se sentido tão amada e apreciada. Ao olhar ao redor, percebeu que, apesar de todas as dificuldades e do seu passado, ela tinha pessoas que se importavam com ela — e isso incluía Adrien.

A festa seguiu animada, com risadas e conversas. Marinette se divertiu muito mais do que esperava, sentindo-se cada vez mais conectada às pessoas ao seu redor. Adrien, como sempre, era uma presença tranquila, mas cheia de significado. Ele não monopolizava sua atenção, mas sempre estava por perto, com um sorriso ou uma palavra gentil.

No final da festa, quando os convidados começaram a se despedir, Adrien se aproximou de Marinette com um presente nas mãos. Era uma caixa pequena, embrulhada com cuidado.

— Tenho algo especial para você — disse ele, entregando-lhe o pacote.

Marinette pegou o presente, um pouco nervosa e ao mesmo tempo curiosa. Quando abriu a caixa, encontrou uma Bíblia de capa simples, mas linda, com seu nome gravado em dourado.

— Adrien... — sussurrou ela, emocionada. — Não precisava...

— Eu quis te dar algo que fosse significativo — disse Adrien, olhando-a nos olhos. — Esta Bíblia é mais do que um presente. É um convite. Um convite para continuar aquela conversa que começamos na montanha. Sei que você está começando uma nova jornada, e acho que isso pode te ajudar a encontrar as respostas que você busca. Quando estiver pronta, sei que Deus vai falar com você através dessas palavras.

Marinette sentiu uma onda de emoção tomar conta de si. O gesto de Adrien era mais do que ela poderia esperar. Aquele presente não era apenas um livro; era um símbolo do novo começo que ela estava disposta a buscar. Segurando a Bíblia nas mãos, ela sentiu que, finalmente, estava pronta para dar mais um passo em sua jornada.

— Obrigada, Adrien — disse ela, com a voz embargada. — Esse é o melhor presente que eu poderia ter recebido.

Adrien sorriu, aquele sorriso tranquilo e cheio de fé que sempre lhe trazia paz.

— Fico feliz que você tenha gostado. Mas lembre-se, Marinette: essa é uma jornada entre você e Deus. Eu estarei aqui, claro, mas o mais importante é que você saiba que Ele sempre estará ao seu lado, guiando cada passo.

Marinette assentiu, sentindo-se grata por Adrien e por tudo o que ele havia feito por ela. Ela sabia que aquele presente marcava o início de uma nova fase em sua vida. A paz que havia sentido na noite anterior continuava a encher seu coração, e ela finalmente se permitiu acreditar que, talvez, Deus estivesse realmente ouvindo suas orações.

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