A escuridão se aproximava rápido, engolindo a pequena aldeia entre a floresta e as colinas. O vento frio soprava forte, balançando as árvores altas como se quisesse avisar sobre o que estava por vir. Eu sentia o peso de tudo aquilo em meus ombros. O balde de água parecia mais pesado do que nunca, e minhas mãos, calejadas do trabalho constante, doíam enquanto eu o carregava de volta para casa.
Desde que me lembro, essa era minha rotina. Acordar antes do amanhecer, cuidar de todos os afazeres da casa, e sempre me certificar de que minha irmã, Eliza, não passasse fome ou frio. Eu fazia o papel de mãe, irmã e empregada. Minha mãe, Helena, sempre foi distante, fria... como se cada palavra que dirigisse a mim fosse um fardo. Eu não sabia por quê. Desde que meu pai morreu, eu não conhecia outra coisa além da indiferença dela.
Então veio Gael. O homem que minha mãe trouxera para nossa casa como novo marido. Desde o início, havia algo de errado nele. Seus olhares demorados, o modo como seu sorriso nunca alcançava os olhos. Aos cinco anos, não compreendi o que estava acontecendo, mas conforme cresci, o desconforto se tornou insuportável. Agora, aos dezenove, seus toques furtivos, os comentários insidiosos, faziam meu estômago revirar. Minha mãe via, claro. Ela via tudo, mas nunca disse uma palavra. Na verdade, ela me culpava. Seu silêncio era um consentimento envenenado.
Naquela noite, depois de mais um comentário sinistro de Gael enquanto eu limpava a mesa, decidi fugir por um momento. A vila era pequena demais, sufocante demais. O ar dentro da nossa casa estava sempre carregado de algo podre, algo que me tirava o fôlego. Só as noites frias do lado de fora me davam algum alívio.
O poço ficava na borda da floresta. Era velho e rangia ao puxar a corda, mas era a única fonte de água. E era lá que eu podia me perder em meus pensamentos, mesmo que por poucos minutos, enquanto o mundo dormia.
"Por que você não corre?", pensei comigo mesma, olhando para a escuridão entre as árvores. As histórias sobre a senhora do castelo, Alcina, sempre foram contadas em voz baixa. Uma mulher cruel, que reinava sobre a floresta como uma sombra. Ela tinha o poder de desaparecer com quem ousasse adentrar suas terras. Ninguém jamais voltou de seu castelo, e a vila a temia mais que qualquer fera ou inverno, mas eu nunca acreditei nessas histórias.
Na quela noite, a ideia de desaparecer parecia menos assustadora do que ficar.
O vento soprou mais forte, e senti um arrepio na espinha. Uma figura alta emergiu das sombras da floresta. Por um momento, não acreditei no que estava vendo, senti minhas pernas bambearem diante da imagem, era Gael, que contia um sorriso malicioso em minha direção, em suas mãos ele segurava um faca afiada o que me fez engolir seco.
- Agora você será minha, por bem ou por mal.
O vento frio cortou meu rosto, e meu coração disparou. Eu sabia que precisava correr, mas meu corpo congelou no lugar, paralisado pelo medo. Os olhos de Gael brilhavam com uma crueldade que me dava náuseas, e a faca em sua mão parecia pulsar junto com meu coração.
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The Devil in Silk || Lady Dimitrescu
Historical FictionAbigail vive uma existência sufocante, marcada pelo desprezo implacável de sua mãe e os olhares abusivos de seu padrasto. Sobrecarregada por tarefas e sofrimento, ela anseia por liberdade, mas sua única fuga parece ser a densa floresta que cerca a v...