Capítulo 12

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Maeve Pembroke

A foto de bloqueio do meu celular não era trocada desde os meus dezesseis anos, o celular mudou, mas a foto era sempre a mesma. O aviso surgiu na tela como em todos os outros anos. Cliquei na parte superior, onde dizia: ver lembrança.

O vídeo surgiu, como se os anos não tivessem passado, como se não o tivesse perdido. Essa era a beleza da tecnologia, nos permitia ver as pessoas que amamos mais uma vez, mesmo sem elas estarem aqui.

— O que vai pedir de presente? — a minha voz sai pelos alto falantes. Tyler sorri para mim enquanto eu o gravo.

Reconhecia o cenário, estávamos na casa da árvore no quintal da casa dele, o meu pai e o pai dele levaram quatro finais de semana para deixá-la pronta.

— Acho que vou querer uma moto. — Tyler respondeu com o sorriso travesso.

— Sua mãe vai enlouquecer, você vai fazer dezessete anos, isso só se pede aos dezoito.

Ele deu de ombros, como se não se importasse e antes que eu pudesse me proteger Tyler veio até mim fazendo cócegas em minha barriga, o vídeo ficou embaçado, mas os gritos e risadas eram nítidas.

O vídeo termina e com isso deixa um buraco em meu peito. Minha irmã entrou na cozinha e na mesma hora limpei o rosto das lágrimas que escaparam, por sorte estava de costas esperando a água ferver para colocar em meu chá.

Guardei o celular no bolso do meu moletom e com ele a foto de bloqueio, onde meu amigo e eu ainda fazemos parte do mesmo mundo, onde eu e Tyler ainda tínhamos dezesseis anos, onde lá ele não era uma saudade constante.

— Acordou cedo, foi correr? — perguntou Grace, enchendo um copo de água.

— Sim, acordei disposta. — respondi desligando o fogão.

Grace bebia sua água e me observava como gostava de fazer, ela sempre dizia que eu era a melhor em esconder as coisas dela, que esperava que sua filha não puxasse esse lado da família, minha mãe e eu éramos as melhores mentirosas, uma vez quando eu tinha oito anos ela me fez acreditar que meu porquinho da Índia tinha tirado férias, mas na verdade tinha morrido. Minha mãe falava que tudo bem contar uma mentira para quem amamos, desde que seja para o bem dela. Verdades amargas, mentiras doces, era fácil escolher.

Completei meu chá com água quente, o vapor se dispersando para fora da xícara.

— Hoje é um dia difícil, tudo bem se não estiver bem. — disse Grace em seu tom compassivo, daqueles que uma mãe usava para acalmar a filha depois de um tombo de bicicleta.

Um nó se formou em minha garganta.

— O Tyler não ia querer que eu ficasse choramingando pelos cantos no aniversário dele. — minha voz saiu baixa, estrangulada.

Funguei e limpei a garganta.

— Eu estou bem, Grace. Não se preocupe.

Peguei meu chá, andando até minha irmã, deixando um beijo em seu rosto e saindo em direção ao corredor.

Eu entendia a dor do Jake, a perda de alguém que se amava deixava uma lacuna no seu coração. Ele perdeu a esposa há dois anos, era compreensivo que ainda doesse. Tyler se foi há muito mais tempo e ainda doía tanto quanto antes. Mas seguir em frente era a única maneira de curar um pouco dessa angústia.

♡♡♡♡♡

Naquela tarde Louise tinha uma apresentação, o que significava que teria que encarar Jake. Desde que pedi demissão há quase uma semana, não houve outra troca de palavras entre nós, no almoço de domingo o silêncio foi tão cortante que Aiden perguntou se estava acontecendo alguma coisa, pelo menos foi discreto ao ponto de não comentar nada perto de Grace. Na minha opinião meu cunhado estava na profissão errada, ele seria ótimo em uma emissora sendo repórter investigativo em vez de médico.

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