Capítulo 5

136 16 15
                                    


Maeve Pembroke

Eu estava rindo de alguma coisa, o sol brilhava em um céu azul sem nuvens, o vento de veraneio balançava meu cabelo, nada parecia errado naquele cenário, até tudo desaparecer, as árvores já não pareciam tão verdes, o vento não parecia tão agradável e o calor do verão havia se esvaído, restava apenas dor, a maior e mais latente dor.

Uma freada brusca, um carro derrapando, gritos, e tudo começou a girar. Tinha sangue ao meu lado, e acho que ainda havia muito sangue quando ouvi as sirenes ao longe como uma alucinação, ele ainda estava respirando, tinha que estar, tentei chegar perto, mas era como se uma força me prendesse ao chão, os paramédicos começaram a tentar reanimá-lo, eu vi, eu chorei, gritei, mesmo que mal pudesse ouvir minha própria voz.

Foi quando meu cérebro se ligou e eu despertei, suada e apavorada como tantas outras vezes. Sentei na cama passando as mãos no cabelo, meu coração retumbando em meus ouvidos, meu rosto parecia molhado, eu realmente chorei durante o sono. Lá no fundo pensei que os pesadelos haviam me abandonado, que parariam de atormentar minhas noites, minha mãe dizia que com o tempo tudo passaria, mas os anos passaram e nada mudou de fato. Nem com toda a correria do estágio ou com meus turnos noturnos no bar, as memórias não iam embora.

Peguei meu celular na mesinha de cabeceira, eram quatro da manhã. Dormir já não era uma opção, então levantei as cobertas e decidi fazer a única coisa que tirava meu foco de qualquer outro pensamento, correr.

Fiz uma rota longa de corrida, quando saí de casa o dia estava longe de clarear, fiquei um momento sentada no parque, não havia quase ninguém por ali, o ar ainda gelado com o previsto fim do inverno, inspirei e expirei, com o objetivo de regular minha respiração e também meus pensamentos, as ondas do luto eram como as do mar, às vezes levavam os castelos de areia e a muralha construída com sacrifício para barrar a água, tudo era levado como se nada que eu fizesse mantivesse longe.

Quando voltei para o apartamento, Aiden já estava acordado, mesmo nos dias de folga ele sempre levantava cedo.

Joguei a chave no pote ao lado da porta.

— Saiu cedo? — perguntou meu cunhado ao me ver chegando.

— Sim, queria correr um pouco.

Ele balançou a cabeça entendendo toda a situação enquanto enchia uma xícara de café.

— Os pesadelos voltaram?

Claro que ele entraria no assunto, todo mundo sabia que meus problemas de insônia eram relacionados a isso. Incluindo algumas crises de pânico.

— Não sei o motivo, pensei que tivessem desaparecido. — respondi, sentando em um dos bancos da ilha.

Aiden tomou um gole do café e segurou a caneca entre os dedos.

— Talvez esteja muito sobrecarregada.

— Talvez.

Ele soltou a xícara na bancada inclinando o corpo para alcançar minhas mãos. Conhecia muito bem sua expressão, a vi no rosto dos meus pais e também no da minha irmã, a boca formando uma linha, a testa enrugada, os olhos solidários.

— Sabe que sempre pode conversar comigo, não sabe? Sobre os pesadelos ou qualquer outro assunto. Eu considero você minha irmã, Maeve.

Um nó se formou em minha garganta, apesar da minha essência positiva e alegre, nunca fui do tipo aberta com minhas emoções, meus sentimentos sempre ficavam enclausurados e se algum dia estourar a bolha uma explosão em grande escala poderia acontecer.

O Caos do Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora