A RECOMPENSA

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A RECOMPENSA

  O pensamento sobre o prêmio por ter "vencido" a caçada contra sua Lady não saia dos seus pensamentos. Depois daquele acontecimento, Rose pediu alguns dias pra colocar as ideias no lugar e pensar em algo que valesse a pena a se pedir. Ela não poderia ser tão abusada ao ponto de pedir as riquezas de sua senhora, talvez, não conseguiria nem sequer terminar o pedido antes de ser fatiada em dois pela Lady, mas se não fosse isso, o que seria?

  Já era noite, dois dias haviam se passado desde a caçada e os pensamentos vieram como um turbilhão, as lembranças do seu encontro a noite com sua senhora e todas as alfinetadas que pareciam ser de duplo sentido vieram à sua mente como um clarão. Rose ao invés de ignorar esses pensamentos como sempre fazia, resolveu dar a devida atenção. O que sua senhora estava querendo com tudo aquilo afinal? Essa caçada com a desculpa de demonstrar suas habilidades sendo que Rose havia sido contratada por ser competente o suficiente, não existia motivos pra demonstrar o que era de conhecimento de todos da região. Aquele encontro à noite com a Dimitrescu, as atitudes da mais alta foram totalmente estranhas, o banquete caprichoso que chegava até a ser exagerado. Rose poderia morrer aquela noite, mas tomou um gole na taça de loucura e levantou em um instante da sua cama, se dirigindo diretamente pra biblioteca, onde Lady Dimitrescu costumava ficar todas as noites antes de ir para os seus aposentos.

O clima do Castelo estava gelado e iluminado apenas pelos candelabros no teto e paredes, dando um ar assustadoramente silencioso. Chegando na biblioteca Rose percebeu que vinha uma pequena luminosidade de lá, adentrando mais, viu sua senhora sentada elegantemente na sua poltrona fazendo o de sempre, fumando seu bom e velho cigarro na sua longa piteira e degustando seu vinho.

Enquanto se aproximava da maior a passos lentos, Rose percebeu que estava até mesmo segurando o ar nos seus pulmões, tentando acalmar seu próprio nervosismo que era inevitável quando se aproximava daquela mulher e principalmente agora, pelo que estava prestes a pedir.
Logo, as batidas altas do coração de Rose foram ouvidas pela vampira, aquele silêncio ensurdecedor entregava o nervosismo da menor com facilidade, mas Dimitrescu apenas continuou degustando seu vinho. Dando uma última tragada no cigarro, proferiu:
—Perambulando pelo castelo novamente a essa hora? Acho que não aprendeu nada da última vez, querida.

Rose parou na metade do caminho no mesmo momento, paralisada igual uma rocha, tomando coragem para formular uma frase. Em dias normais ela provocaria a mais velha, alfinetando ou simplesmente ignorando, mas naquele instante, suas mãos suavam e ela estava ali parada encarando a vampira. A ficha finalmente caiu e o arrependimento por tomar uma ação tão imprudente tomou conta de Rose, mas já era tarde demais, ela já estava com a corda no pescoço e se não fosse punida pelo seu pedido da recompensa, seria punida por quebrar a regra do Castelo mais uma vez.

—Eu precisava falar com a senhora, não pude esperar. -Rose finalmente disse, se concentrando pra não gaguejar no meio da frase.

O olhar penetrante da vampira fixou na menor, os olhos amarelados pareciam atravessá-la, medindo-a de cima a baixo. O seu rosto era uma completa incógnita, era simplesmente impossível decifrar o que se passava na mente da Dimitrescu na maior parte do tempo e agora, isso deixava Rose ainda mais nervosa.

—Sente e sirva-se, espero que tenha uma boa explicação por desafiar minhas ordens mais uma vez.

Rose fez o que lhe foi pedido, tomou uma taça de vinho pra si enquanto sua senhora observava calmamente cada movimento que ela fazia. Foi quando ela colocou a taça em seus lábios que finalmente percebeu:

—A senhora não tem o costume de beber vinho tradicional, e esse aqui não é Sangue de Virgens.

—Gostos costumam mudar - a mais velha disfarçou um sorriso de canto enquanto tragava mais uma vez.

—A senhora por acaso estava me esperando? - Rose estava descrente com a sagacidade daquela mulher, ela sempre parecia ter uma carta na manga.

—Por favor querida, não se distraia com detalhes bobos e desfrute do vinho, essa safra é espetacular.

Rose, como da última vez não conseguia disfarçar seu nervosismo de certa forma, em outros aspectos ela fingia bem, mas as goladas no vinho entregavam muita coisa. As duas estavam em silêncio, com a maior distraída com seu cigarro, enquanto olhava entediada para seus próprios pés, como sempre, com uma expressão indecifrável no rosto.
Quando a mais velha viu que Rose já estava indo pra terceira taça, decidiu quebrar o silencio:

—E então, o que queria tanto falar comigo que não pôde nem esperar amanhecer o dia?

A hora tinha chegado e não dava mais pra adiar, o efeito do vinho anestesiou o corpo da menor por completo e ela se sentia muito mais leve, o clima que antes estava gelado ficou quente de uma hora pra outra e agora, os olhos estavam fixados em uma única mulher na sua frente.

—Eu vim aqui reivindicar minha recompensa, senhora. - a voz de Rose saiu estranhamente confiante e bendito seja o álcool que lhe deu coragem o suficiente, ou talvez, foi a sua maldição.

—Hmm... -os olhos amarelados da vampira grudaram nos da mais nova, observando cada detalhe - E o que seria? -disse, se desencostando do encosto da poltrona, demonstrando agora pela primeira vez uma emoção visível no rosto, uma mistura de interesse e desafio no olhar.

A boca da menor se abriu, respirando fundo e pensando bem no que iria dizer, hesitando por alguns instantes até que finalmente soltou de uma vez:

—Um beijo.

Um silêncio pesado se instaurou na biblioteca, as duas se encaravam sem proferir uma palavra sequer e o rosto de Lady Dimitrescu voltou a virar uma incógnita. Mais alguns segundos de silêncio foram o bastante pra Rose se arrepender e voltar atrás como um vislumbre de sobriedade, talvez se pedisse perdão por tal afronta seria perdoada pela sua senhora e talvez, só talvez não seria empalada por suas garras gigantes.

—Peço mil perdões minha Lady, e-eu realmente não sei onde que eu tava com a cabeça de falar algo assim. - disse enquanto se levantava nervosamente da poltrona, deixando sua taça com vinho ainda pela metade em cima da mesa.

O rosto da mais velha não mudou em nada, nenhum milímetro, ela apenas observava com atenção as lamentações da mais nova.

—Com sua licença, vou retornar pro meu quarto, senhora. Perdão pelo inconveniente mais uma vez, irei cumprir a punição que me for atribuída assim que for decidido.

Quando já estava de costas pronta pra sair, ela ouviu a mais velha finalmente quebrar o silêncio.

—Venha aqui.

Seu coração disparou a mil com aquelas simples palavras, mais uma vez não sabendo o que viria pela frente, talvez naquele instante seria o seu fim.
Ela caminhou e parou de frente à poltrona da sua senhora, esperando pela próxima ordem da mesma. As duas ficaram mais alguns segundos se encarando em silêncio.

—Se é um beijo que deseja, então, venha e pegue o seu prêmio.

O corpo da mais nova esquentou instantaneamente com as palavras da sua senhora, talvez, estava em um sonho e não conseguia acordar. Novamente se sentiu anestesiada, tirando coragem de onde não existia pra se sentar lentamente no colo da Dimitrescu. O olhar da mais velha reprimia uma certa surpresa com tal atitude, nem ela mesma sabia de onde surgiu tanta audácia, mas naquele momento não importava, de todas as coisas que ela poderia pedir, naquele momento ela só queria os lábios da mais velha.

Rose retirou o chapéu da sua Lady, o depositando em cima da mesa junto com o vinho inacabado, não desviando o olhar da sua senhora por um segundo sequer. As mãos da mais velha foram parar nas coxas de Rose, acariciando-as, enquanto se entreolhavam. Rose não conseguia esconder o olhar de desejo mais, naquela posição era impossível manter o autocontrole, foram quando suas mão tocaram o rosto da sua senhora que ela percebeu o quão macia era a sua pele, o contraste da mão quente com a pele gelada da mais velha deu um arrepio que percorreu seu corpo inteiro. As carícias desceram até o pescoço da sua senhora quando finalmente puxou-a e mergulhou no desejo que tinha desde que pisou naquele castelo, o desejo de beijar aquela boca.

A guarda costas da Condessa (Lady Dimitrescu)Onde histórias criam vida. Descubra agora