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De frente para a tela do notebook, eu solto um suspiro fraco antes de começar a escrever sobre o que venho sentindo. Um acúmulo de emoções que preciso de alguém para desabafar e nada melhor do que eu mesma sendo minha própria psicóloga. Mas, brincadeiras à parte, eu tenho o costume de escrever quando sinto que as coisas não andam tão bem quanto eu pensava, preciso organizar as ideias no lugar antes que seja tarde e eu entre em curto circuito.

Alguns toques na minha porta me chamam a atenção e dou permissão para quem quer que seja, eu havia escrevi apenas um paragrafo. Olhando por cima do ombro, vejo a visão de Toji segurando uma bacia de pipoca e me encarando.

— O que está fazendo?

— Escrevendo sobre minha vida — Dou de ombro e ele se aproxima em uma tentativa de espiar. Imediatamente fecho o notebook para que ele não possa ler.

— Porque está escondendo?

— Porque é algo pessoal?

— Tsc, quanta frescura. Nem parece que eu já te vi pelada.

— O que está fazendo aqui? — Tentei desconversar com tamanha vergonha.

— Vim perguntar se não quer ver um filme já que a boate não abre hoje e estamos de folga.

— Isso é um encontro?

— Não — Falou de forma seca — Vamos assistir aqui no seu quarto mesmo.

— Abusado — Revirei os olhos já me levantando e caminhando até a minha cama, talvez fosse bom fazer algo com ele — Não ache que estamos bem.

— Poxa, pensei que estivéssemos juntos novamente, estava até planejando nosso casamento — Falou ironicamente me entregando o balde de pipoca e indo ligar a tv.

— Como posso ficar com alguém igual a você? Sempre me imaginei com um cara romântico, um príncipe.

— Então acorda, princesa, vai ter que se contentar com um vagabundo — Sentou-se ao meu lado e deu um sorriso convencido — E sabe porque? porque você sabe que somente eu sou capaz de domar a fera que você é.

— Prefiro nem te responder depois disso — Peguei um pouco da pipoca e me aconcheguei na cama — Você esqueceu de fechar as cortinas e trancar a porta de chave.

— Que saco — Levantou-se a contragosto e foi fechar as cortinas para que o ambiente ficasse escuro, aproveitou para trancar a porta e se jogou na cama.

— Suas outras ficantes não reclamaram de você não dar atenção a elas hoje?

— Estou notando sinais de ciúmes? — Tocou meu queixo me fazendo encara-lo — Fica linda quando esta sendo ácida e mal humorada — Toji beijou meu pescoço várias vezes até eu ceder e dar uma risada.

— Vai se foder, Zenin — O moreno fez uma careta, mas no fundo ele sabia que eu estava o provocando e isso me fazia querer rir mais ainda.

— Acho que vou abrir uma pequena exceção às vezes para que você me chame assim — Fiz uma cara sem entender o que ele queria dizer com aquilo — É que você pronuncia de uma forma bonita e provocante, mas não se acostume, atrevida.

Me roubou um selinho tão de repente que me deixou sem reação e apertou o play no filme imediatamente. Fiquei alguns segundos olhando o rosto do rapaz que era inexpressivo e ao me recompor, comecei a assistir o filme. Ele havia colocado uma comédia romântica e era mais uma coisa que havia me deixado surpresa. Toji gostava disso?

Ficamos horas focados na tv sem dirigir a palavra um para o outro, em alguns momentos eu queria perguntar se ele realmente gostava ou se estava apenas tentando encontrar maneiras de que eu o desculpasse. Mas não queria ser a chata da situação, então apenas me mantive calada enquanto não acabava.

Quando os créditos apareceram, ele pausou e finalmente voltou a me encarar.

— Você gostou ?

— Do filme? — Ele assentiu — Achei legal, já tinha visto antes.

— Que merda, eu fiquei a madrugada toda procurando por um filme que você fosse gostar.

— Mas eu falei que gostei — Dei uma risada — Mas veja bem... o filme "Ela é demais" é antigo, dificilmente eu não teria assistido.

— Só se você não gostasse do gênero.

— Isso é verdade, mas o que me importa é se você gostou. — Devolvi a pergunta enquanto o mesmo desviou o olhar.

— O cara faz uma aposta para transformar a mulher considerada fora dos padrões em bonita, se apaixona e se arrepende quando a mesma descobre a verdade. O típico filme que faz uma mulher se iludir acreditando que pode mudar um homem pelo qual ela esta apaixonada.

— Toji...

— Ta, dou nota quatro. É um clichê patético, você precisa admitir isso.

— Você não sabe ser nenhum pouco romântico? Sério mesmo?

— Porque seria? Já falei que se apegar a alguém não está na minha lista de prioridades. Isso te deixa vulnerável, pronto para uma desgraça acontecer. E esse filme mostra que não devemos confiar em qualquer um tentando ser legal com você.

— Meu Deus, como pode ser tão...

— Sincero? Inteligente? Gostoso?

— Ogro — Vejo ele revirar os olhos e me puxar para os seus braços

— S/n, eu só sei que minha vida esta ótima dessa forma, eu gosto do que estamos tendo e da falta de cobrança. Então fale me olhando nos olhos agora, porque essas coisas te incomodam tanto? Porque o fato de eu não ser o último romântico da Terra parece te incomodar? você por acaso está apaixonada por mim?

Com a garganta seca e encarando aqueles olhos frios, o mesmo espera por uma resposta que não sei se sou capaz de responder. A forma que venho agindo não é de uma pessoa desencanada que não sente nada, mas também não consigo dizer se apaixonada é a palavra certa.

Toji pisaria em mim se eu falasse qualquer coisa que envolvesse a sentimento, isso não o atrai, é quase como se eu tentasse afasta-lo. E depois de ontem eu sei que ele tem interesse em mim, ou seja, até o momento em que ele encontrar outra... Continuará me seguindo, certo?

— Não, com certeza não estou apaixonada por você.

Um aperto na minha cintura antes de me soltar, o Fushiguro deu de ombro antes de pegar o celular e olhar as mensagens que havia recebido durante o filme. Tentei não ler, mas era como se ele fizesse de propósito.

Resolvi ficar encarando a tv enquanto ele digitava sem parar, deu uma risada baixa e colocou o aparelho no bolso. Ficamos alguns minutos em silêncio antes dele tocar minha mão e fazer um breve carinho e chamar minha atenção para ele.

— Vou precisar sair.

— Chegou a vez das outras?

— Que mulher complicada e ciumenta — Tocou nossas testas e ficou olhando meus lábios por alguns segundos — Fique você sabendo que eu mandei todas sumirem.

— Ser ficante monogâmico não parece ser do seu perfil.

— E não é, odeio ficar somente com uma pessoa — Revirou os olhos — Mas você já vale por muitas, marrentinha. Ter outra ficante além de você me deixaria com cabelo branco.

— Eu deveria ficar feliz com essa declaração? — Falei ironicamente

— Acabei de dizer que sou todo seu e é dessa forma que reage? — Se levantou da cama calçando seus chinelos — Eu deveria continuar sendo um ogro com você, Yamazaki.

— Que grande diferença... Fala como já não fosse...— Murmurei — Se for ao mercado, compra algum doce para mim quando voltar?

— Não sou seu namorado, não gastarei meu dinheiro com você — Abriu um sorriso irritante e se retirou do meu quarto, joguei um travesseiro na porta irritada como ele consegue ser tão irritante.

𝐅𝐈𝐑𝐄 𝐌𝐄𝐄𝐓 𝐆𝐀𝐒𝐎𝐋𝐈𝐍𝐄 | 𝐓𝐎𝐉𝐈 𝐅𝐔𝐒𝐇𝐈𝐆𝐔𝐑𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora