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O final de semana foi completamente no modo robótico. Ainda estava digerindo o término do meu relacionamento e principalmente a grande confusão que eu havia montado. Acabei contando para o chefe das saidinhas da sua filha com Toji, ambos foram advertidos e o rapaz virou carta marcada.

Não queria ter apelado para esse tipo de confronto, mas estava exausta de toda noite ouvi-la gemer como se fosse uma gralha. Tentei ser educada, tentei colocar fones de ouvido para abafar, mas nada era o suficiente. E agora, eu estou frente a frente com ele enquanto faço a análise do seu pagamento da semana.

Porque permaneço nesse lugar? Poderia facilmente ir para o meu apartamento reserva e não precisar atura-lo, mas sei que isso vai contra o meu orgulho e também não me sentiria confortável em estar em um lugar que não foi comprado com o meu próprio dinheiro.

Balanço a cabeça negativamente atraindo o olhar dele em minha direção e terminando de realizar a transferência. Assim que entreguei o comprovante, nossos dedos se tocaram rapidamente e então nossos olhos se encontraram.

Eu estava acabada, destruída, tinha chorado durante a noite passada e essa madrugada. Queria entender o que tem de errado comigo, não era para estar sofrendo por um cara como ele, mas às vezes esqueço que não sou um robô. As olheiras evidenciando meu cansaço e as noites mal dormidas não passaram despercebidas pelo Zenin.

— Você está bem? — Seu tom de voz não era carregado de malícia ou deboche como de costume. Era apenas uma pergunta comum de alguém que aparentava realmente estar preocupado com meu estado. Eu devo estar realmente horrível para até ele estar perguntando.

Mas eu não consigo me abrir facilmente. Não consigo dizer que estou tendo um péssimo dia quando está na cara que eu estou tendo. Não sei o que dizer quando fazem essa pergunta e muito menos como disfarçar meu constrangimento, então, apenas dei de ombro e virei o rosto para que não pudesse ser analisada.

— Sempre estou bem — Fui firme — Precisa de mais alguma coisa, Zenin?

— Você poderia parar de me chamar dessa forma? — O olhei por cima do ombro vendo que sua expressão havia mudado, estava sombria. Pelo jeito eu não sou a única em não gostar de ser lembrada pelo clã.

— Porque eu deveria? — Me agachei de costas para ele enquanto procurava uma pasta para guardar os recibos do mês — Eu te pedi para que procurasse um lugar para foder e você permanece atrapalhando meu sono. Respeito não é o seu forte pelo jeito.

— O que foi hein? Está querendo foder comigo e com isso estou proibido de usufruir do meu quarto?

— Não, você pode usufruir, mas esquece que eu estou no quarto ao lado escutando tudo contra a minha vontade e posso também reclamar.

— Apenas vá para outro quarto — Deu de ombro

— Beleza, Zenin. — Dei um sorriso enorme cansada dessa discussão — Eu irei procurar outro quarto, mas com certeza avisarei ao meu chefe do motivo.

O rosto do rapaz que antes tinha um sorriso convencido, se fechou. Eu não falei mais nada, apenas continuei com as minhas tarefas até ele me levantar como se fosse a coisa mais fácil do mundo, bom, para ele era. Me virou fazendo ficar de frente para ele e tocou meu queixo para que levantasse meu olhar.

— Eu paro de levar as garotas para o meu quarto se você parar de me chamar dessa forma, que tal ?

— O seu sobrenome te incomoda tanto assim? — Arqueei a sobrancelha mas ele não disse nada — Ta, tanto faz, temos um acordo.

— Ótimo, não precisa mais dar uma de x9 para o seu chefe.

— Nosso chefe — Ele foi se afastando até fechar a porta.

Sinto minha respiração voltar ao normal, nem ao menos tinha percebido que havia prendido, O toque dele em meu queixo formigava, era estranha aquela sensação mas ao mesmo tempo... confortável.

— Que porra é essa? Virei leitora de dark romance? Só falta daqui a pouco eu colocar minha vida em risco e achar excitante ele explodindo todo mundo só para me salvar — Pensei alto balançando a cabeça negativamente e voltando ao que fazia.

Suspirei pesado enquanto organizava todas as coisas e olhava para um porta retrato escondido no fundo da gaveta. Como eu queria detestar meu ex, mas algo dentro de mim me impede isso, era óbvio demais que no momento que ele soubesse meu sobrenome iria me largar, mas no fundo eu só queria que tivesse sido diferente.

Sinto algumas gotas caírem e molharem o porta retrato em minhas mãos, aquela sala pequena parecia fria demais, me fazendo recordar dos anos de orfanato e de famílias que me rejeitaram. Talvez eu não tenha nascido para ser amada, fui um erro desde o momento que nasci, nada que meus pais tenham dito naquele testamento irá apagar o sentimento de abandono.

— Oh insuportável, você esqueceu de me entregar a cópia do contrato que ... — Toji havia entrado na sala novamente sem se dar o trabalho de bater, me pegando em um momento vulnerável e completamente assustada — Você está ocupada?

Eu estava olhando para foto, de costas para ele e agachada, o mesmo ainda não tinha notado o estado que eu me encontrava e muito menos sei como sair dessa sem que ele repare em algo. Passo a mão pelo meu rosto guardando tudo rapidamente e me levantando, pego o contrato que estava em minha mesa e vou até a copiadora. Nenhum momento olhei em seus olhos e espero que continuasse assim até ele se retirar de vez.

— Mais alguma coisa?

— Não... — Seus olhos estavam fixos em mim, enquanto eu desviava a cada segundo. Qual é a dele, afinal? Não precisa bancar o detetive e muito menos fingir que se preocupa.

— Então aqui está a cópia do seu contrato — Ele tocou no papel mas permaneceu ali parado, de frente para mim — Se me der licença, tenho outros assuntos a resolver.

— Eu não ligo para o seu clã — Murmurou num tom baixo para que somente eu ouvisse — Tô pouco me fodendo para a rixa que existe a mais de sei lá quantos anos. E pode acreditar que o sentimento é recíproco deles em relação a mim.

— Não sei porque você está falando isso — Finalmente o encarei e ele me analisou

— Estou justificando o porquê de eu não querer que você e nem ninguém me chame pelo sobrenome Zenin — Fez um estalo com a língua antes de suspirar — Quando você não nasce com um talento, sua vida tende a ser um inferno. E tudo que você mais almeja é sair das garras daqueles que só te machucam.

Ouvi-lo em silêncio me fez recordar das manhãs torturosas e dos treinamentos incansáveis. Respiro fundo como se as feridas ainda fossem recentes e tacassem sal nelas, um gosto amargo mas que se misturava com o doce de não ter sido a única a ter passado por isso.

— Você nasceu dia 31 de Dezembro — Olhei sua ficha rapidamente que estava em cima da mesa.

— Algum problema com isso? — Franziu o cenho

— Nasci dia 23 de Abril ... Alguns meses depois. — Dei um sorriso sarcástico antes de balançar a cabeça negativamente.

O moreno demorou a entender, mas logo seu olhar mudou para uma surpresa. Que grande ironia do destino. Toji Zenin foi o motivo de eu ter vindo ao mundo, a concorrente não perfeita que foi jogada de lado por um clã e que agora está de frente para ele.

— Só pode ser brincadeira — Foi a única coisa que ele disse.

— Só pode ser brincadeira — Foi a única coisa que ele disse

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𝐅𝐈𝐑𝐄 𝐌𝐄𝐄𝐓 𝐆𝐀𝐒𝐎𝐋𝐈𝐍𝐄 | 𝐓𝐎𝐉𝐈 𝐅𝐔𝐒𝐇𝐈𝐆𝐔𝐑𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora