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Uma semana quase completa de treinamento foi o suficiente para Toji se adaptar ao lugar, entretanto quanto aos seus modos ele deixava a desejar. Um completo mal educado, ignorante, brutamontes e mulherengo. Não sei quantas vezes fui até o seu quarto para fazê-lo parar com as suas fodas no meio da madrugada, não ligava de atrapalhá-lo já que o mesmo não se incomodava em me acordar com tamanha gritaria.

Ele estava criando um campo de guerra e por mais que eu tenha falado com o meu chefe sobre a detestável presença do rapaz, o mesmo dizia que estava satisfeito com o trabalho dele e pedia para que eu relevasse. Então, nessas últimas duas noites eu coloquei meus fones de ouvido, apertei play na minha música favorita e a coloquei no último volume para abafar aqueles malditos gemidos.

Na manhã seguinte, enquanto eu tomava café na pequena cozinha improvisada no terceiro andar, sinto o mesmo passar pelas minhas costas e dar um leve empurrão com seus braços volumosos. Respirei fundo terminando de montar meu sanduíche e me direcionando com o prato até o meu quarto.

— Bom dia para você também, mal educada.

Toji estava querendo me provocar, com certeza estava, mas eu não daria esse gostinho a ele. Ignorando a presença dele, desci as escadas, entrei em meu quarto com meu café da manhã, sentei na cama e me alimentei, não queria saber do maldito Zenin que mora no quarto ao lado, com certeza ele foi o pior segurança contratado nesses últimos meses. Mas precisava relaxar, hoje era Sábado e teria a companhia do meu namorado finalmente.

Ele havia viajado a trabalho a um mês atrás, voltou recentemente e até o momento não conseguimos nos encontrar. Mando mensagens para ele constantemente me sentindo uma adolescente com borboletas no estômago e a cada resposta é um surto interno diferente.

Ainda era 10:00 da manhã quando recebi a mensagem dele após o meu 'Bom dia'; com um sorriso enorme fui lendo cada palavra e sentindo que as coisas começaram a desandar tão de repente. O sorriso desmanchado, o olhar que a todo instante procurava algum erro que eu tenha cometido, não, eu não tinha dito nada demais nos últimos dias... Então porque sinto que um raio acabou de me atingir ao ponto de não conseguir mais sentir o chão? Minhas mãos estão tremendo e a fome que antes sentia foi perdida imediatamente, dando espaço para um estômago embrulhado e lágrimas nos olhos.

"Me desculpa, querida, mas acho que nosso relacionamento não está dando certo. Acho melhor cada um seguir a sua vida e quem sabe um dia nos esbarramos, seja feliz. E sim, estou sendo covarde em terminar por telefone e não conseguir te olhar nos olhos."

Olho aquela mensagem por diversas vezes até notar que a foto dele havia sumido. Além de terminar por mensagem, me bloqueou, ótimo. Um verdadeiro cretino.

Limpo as lágrimas com as costas da mão me xingando mentalmente por sofrer por alguém tão covarde. Posso ter vindo de uma família podre, mas uma coisa que levo para sempre dentro de mim, é não abaixar a cabeça para ninguém, muito menos para um feiticeiro considerado de altíssimo grau.

Joguei o celular na cama enquanto pegava o restante do meu café recém preparado e saia do meu quarto. Ao fechar a porta, ouço o meu queridíssimo colega ao lado abrir a dele, se encostar na parede de braços cruzados e me analisar com um sorriso perfeitamente cínico.

— A gatinha acordou de mau humor hoje? — Arqueei a sobrancelha o encarando profundamente enquanto contava até dez por pensamentos. Parece que hoje a vida resolveu me testar, certo, vamos ver qual é o meu limite — Não irá dizer nada? Porque esta com os olhinhos marejados?

Toji deu um passo em minha direção enquanto eu recuei. Estava segurando meu copo com o café morno e o sanduiche pela metade que deixei de comer, engoli um seco quando o mesmo se curvou ficando próximo ao meu rosto. Eu apertava tudo com força, quase quebrando a porcelana em minhas mãos.

— Continuará me ignorando? O que houve? Perdeu aquela marra toda do início da semana? Cansou de competir com alguém tão superior quanto a você?

Mordi minhas bochechas internamente enquanto segurava o copo com força, prestes a quebrá-lo em minha mão com tamanha raiva que crescia dentro de mim. Odiava provocações desse nível e vindo de alguém como ele, o ódio duplicava.

— Me deixa em paz — Falei rangendo os dentes sentindo o choro entalado na garganta. O término inesperado, as provocações dele logo pela manhã, a frustração que venho guardando ao longo dos anos... Tudo se misturando em um grito de desespero que insisto em esconder.

— Te deixar em paz? — Soltou uma risada debochada — Você quem veio aquele dia até o meu quarto declarar guerra e agora quer que eu te deixe em paz? O que esta acontecendo? Passou os dias da semana todo atrapalhando meus momentos de relaxar e de repente nesses últimos dias você deu uma trégua, cansou de lutar?

— Cansei — Fechei meus olhos por alguns segundos para reprimir qualquer sentimento e me permitir transmitir em meu olhar uma indiferença. O que não passou despercebido pelo mais alto que endireitou a coluna e me encarou por alguns segundos surpreso — Pouco me importa quem seja a próxima mulher que irá para a sua cama fingir um orgasmo enquanto massageia esse ego de merda que você tem. Mas a única coisa que eu irei te pedir nesse exato momento é para que você esqueça que eu existo.

— Acho impossível, querida, você trabalha aqui e...

— S/n Yamazaki — Seus olhos se arregalaram e a expressão séria tomou conta do seu rosto — Esse é o meu nome, caso você ainda não saiba. Mas acho que você sabe perfeitamente sobre a rixa do meu clã e os Zenin, pois você age perfeitamente igual a eles.

Vejo Toji fechar os punhos e travar o maxilar, dei um sorriso de lado cínico. Agora tudo faz sentido, o olhar que meu ex transmitiu quando eu disse sobre o meu clã, a viagem repentina para outro país... Eu apenas estava ignorando todos os sinais que estavam bem à minha frente. Um clã que vinha sendo uma desonra para todas as gerações, obviamente a reputação estava abalada e ninguém queria se relacionar com pessoas que tinham vínculo.

— Ei, com quem você pensa que esta falando? — O mais alto me segurou pelos pulsos fazendo com que as coisas que eu segurava caíssem no chão — Você não sabe nada sobre mim, então não diga uma merda dessa.

Me debati para me soltar, mas era em vão, sua força era assustadora enquanto ele me chacoalhava. Queria apenas ficar em paz, mas o meu limite havia extrapolado, então as lágrimas finalmente escorrem pelo meu rosto. O Zenin ao notar meus soluços no meio das súplicas para que me soltasse, levou sua mão até o meu queixo me fazendo encará-lo e então nossos olhos se encontraram.

Um estalo foi ouvido pelo corredor. Paralisado e com a boca entreaberta, Toji levou a mão até a região do tapa que lhe foi dado e permaneceu a me encarar. Me agachei a sua frente para limpar a bagunça que havia feito no chão e virei as costas para o mesmo, essa é a minha reação quando o meu mundo esta desabando, agir de forma automática, como se o meu corpo tivesse sido desligado de qualquer sentimento. Eu odiei o seu toque em mim, eu odeio que invadam minha privacidade a esse ponto... Eu odeio o meu mundo.

 Eu odeio o meu mundo

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𝐅𝐈𝐑𝐄 𝐌𝐄𝐄𝐓 𝐆𝐀𝐒𝐎𝐋𝐈𝐍𝐄 | 𝐓𝐎𝐉𝐈 𝐅𝐔𝐒𝐇𝐈𝐆𝐔𝐑𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora