UM BEIJO DE SENTENÇA

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Passaram-se algumas semanas, agora estou no meu quarto. Olhando pela janela. Meu passatempo favorito é ver quantos homens ele têm. Ouço batidas na porta, e então alguém entra.
- Eu posso entrar? - perguntou Hunter.
- Pode. - respondi. Hunter fechou a porta e caminhou até minha cama. Sentou lá e ficou encarando a porta.
- O que veio fazer aqui tão tarde? - perguntei.
- Eu queria conversar com você sobre o que aconteceu há algumas semanas atrás. - respondeu. Já faz um tempo mesmo. Fico surpreso por ele não ter tocado nesse assunto antes. - Parece que você deixou esse pequeno detalhe passar, Connor. - ele disse. Hunterson não parecia interessado em mentiras, mas sim, em descobrir algo que o deixou inquieto por dias.
- Que detalhe? - perguntei. Ele levantou-se, se aproximou de mim e olhou para mim. Eu ainda estava focado na janela.
- Você sabia que estava sendo filmado naquele dia? - perguntou. Sim, eu já sabia. Provavelmente cada sala, cada quarto, cada andar. A mansão deve estar lotada de olhos invisíveis que só o chefe tem o poder de olhar através deles.
- Eu estava? - perguntei. Ele sorriu com malícia.
- Não faça joguinhos comigo, Connor. - ele disse. Joguinhos? Eu não faço isso. - O que você disse para o Steve antes dele ter pulado? - perguntou.
- Você acha que eu o matei? - perguntei.
- Eu sei que você não matou ele, mas você não é inocente. Me conte o que aconteceu de verdade. - disse.
- Eu disse o que ele precisava ouvir. - respondi. Ele não parecia convencido. Hunter deve estar analisando cada passo meu desde o incidente. Ele acha mesmo que eu sou um assassino? Bom, vou provar para ele que não sou. - Você quer mesmo saber o que aconteceu? - perguntei. Ele não disse nada, mas seu olhos penetrantes sim, eles me confirmavam o que eu já tinha mente.

- Naquele dia, Steve tirou a sua própria vida ao se jogar da janela. Ele caiu de cabeça e sim, foi de propósito.- eu disse. Lembro exatamente o que aconteceu. Lembro das minhas palavras soarem como um doce cristalizado em seu frágil coração.
- Eu não faço ideia do que você está falando. - eu disse antes.
- Ele vai usar isso contra você no futuro. - disse Steve.
- Quem vai usar? - perguntei.
- Hunterson. Você vai morrer por causa dele. - respondeu Steve. Aquele homem sabia mais do que devia, isso é um fato.
- Ele não pode usar nada contra mim. - eu disse.
- Você não sabe, não é mesmo? - perguntou Steve. O tempo estava passando e o dia do seu abate estava próximo, eu não podia deixá-lo vencer.
- Deixe isso para lá. Steve, nós não temos muito tempo. - respondi.
- Por que você está falando isso? - perguntou Steve.
- Você me falou sobre a sua irmã antes, não vou negar, isso me comoveu. - respondi. A luz do sol invadiu a janela, com um raio belo e fortificado com bravura. Minhas pequenas mãos encontram as suas, que estavam machucadas e caídas.
- Estou disposto a ajudá-la. Ela parece ser uma criança gentil, com certeza tem um futuro promissor pela frente. Eu não gostaria de vê-la no mundo da máfia. Você gostaria, Steve? - perguntei.
- Não, nunca. Eu a amo, eu sou tudo o que ela tem. Ela não merece passar por tudo o que eu passei. - ele respondeu. Ele apertou as minhas mãos com desespero. - Por favor, ajude ela! Eu faço o que estiver ao meu alcance, eu faço tudo o que você quiser. - Steve continuou. Perfeito. Você acabou de trancar o seu futuro.
- Não preciso de muito. Apenas faça o que eu disser. Confie em mim. - respondi.
- O que você quer? Diga e eu farei. - ele perguntou. Eu fechei suas mãos e apertei levemente. Olhei para os seus olhos agoniados.
- Está vendo àquela janela? Se você pular e isso causar a sua morte, então eu irei cuidar da sua irmã. Darei tudo do bom e do melhor, eu garanto. Se você me escutar, possivelmente, em um futuro próximo, sua irmã estará em uma faculdade. Ela terá uma família e filhos lindos, tudo o que você sempre quis, não é? - perguntei.
- Por que você quer isso? Eu posso te dar outros bens, qualquer coisa. - perguntou. Isso é simples.
- Se eu matar você em dois dias, significa que o Hunter conseguiu me controlar, eu não quero isso. - respondi. Ele parecia com medo, isso significa que sua fé por mim estava esfriando, que droga. - Sabe qual é a sensação de ser controlado por toda a sua vida? É sufocante. É deplorável. Se você morrer aqui ou depois, não vai mudar o resultado do seu destino, mas vai mudar o da sua irmã. - eu continuei. Steve não tinha para onde correr agora. Eu não vou ter sangue em minhas mãos, logo, não serei aquilo que querem que eu seja.
- Como posso confiar em você? - ele perguntou.
- Porque eu entendo como é estar em um mundo nojento e cruel na infância. Tenho certeza de que a sua irmã não aguentaria nem um porcento do que eu passei. Acha que ela suportaria se um de seus rivais tirassem dela a escolha de ter a sua primeira vez com alguém que ela goste de verdade? - perguntei. Na mira. E agora você está sob o meu controle. - Você não merece viver, mas ela sim. Se o seu nome sumir, o que você acha que vai acontecer? Absolutamente nada. Você tem uma escolha. - terminei. Seus olhos agora não estavam em agonia, estavam esperançosos por sua querida irmã. Ele então soltou suas cordas dos pés, as mesmas que foram enfraquecidas por mim enquanto ele dormia. Levantou-se, ficou em frente à janela.
- Obrigado por cumprir a sua palavra. - Steve disse. Em uma fração de segundos, eu o vejo pular com felicidade. Não tem mais volta.

Quando um Mafioso é meu heróiOnde histórias criam vida. Descubra agora