Six

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Boa leitura♡

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Pov Jungkook

A cada respiração, o peso do meu próprio corpo parecia me esmagar um pouco mais. A tala no braço e na perna e as faixas apertadas em volta das costelas quebradas eram uma lembrança constante da dor que se recusava a me deixar. Era como se cada movimento, cada pequeno gesto, trouxesse à tona um novo mar de sofrimento. Minha mente não conseguia descansar, girando incessantemente entre a confusão e o medo, enquanto meu estômago vazio revirava com náuseas constantes. Cada vez que alguém tentava me convencer a comer, o pavor tomava conta de mim, e eu só conseguia recusar. A simples ideia de engolir qualquer coisa parecia impossível.

Eles me dizem que estou em um lugar seguro — continuam repetindo isso como um mantra — mas a segurança é algo distante, quase impossível de alcançar. A presença constante de pessoas ao meu redor só me faz encolher, me afastar, me prender ainda mais dentro de mim mesmo. E, no entanto, havia algo diferente quando o alfa loiro estava por perto. Não que eu confiasse nele... eu não confiava em ninguém. Mas seu olhar era menos sufocante, menos julgador. Talvez, apenas talvez, ele não fosse uma ameaça.

Eu queria gritar, queria dizer a eles para pararem de falar e pararem de chegar perto de mim, mas minha voz estava presa em algum lugar, afogada pelo medo e pela dor. Eles não sabiam o que isso significava para mim. Ninguém sabia. O vazio que eu sentia não era algo que eles pudessem preencher.

Ainda assim, eu não queria acreditar. Eu não queria aceitar que aquilo tinha realmente acontecido comigo, que eu tinha perdido tanto. Parte de mim queria lutar contra tudo, queria recuperar algo — qualquer coisa — mas, ao mesmo tempo, a outra parte de mim sussurrava que não havia mais nada a ser salvo. Eu vejo os olhares que eles trocam quando pensam que eu não estou prestando atenção. Eu sei que estou quebrado, que não sou o mesmo e nem sei quem eu realmente era antes disso tudo.

Mas quando o alfa loiro se aproxima, algo dentro de mim hesita. Ele não sabe quem eu sou, e isso me dá uma estranha sensação de alívio. Como se, por um breve momento, eu pudesse ser apenas uma sombra, alguém sem passado, sem memórias, sem a dor que me atormenta a cada segundo. E, mesmo que eu ainda me retraia, uma parte de mim começa a se perguntar... será que algum dia eu poderia ser mais do que apenas isso? Será que um dia eu irei poder deixar meu pesadelo para trás? Será que um dia irei conseguir superar e poder viver de verdade? Infelizmente eu ainda não tinha as respostas.

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Eu costumava ter sonhos. Na maioria das vezes, eram apenas borrões de imagens que faziam pouco sentido, mas, às vezes, um rosto surgia com clareza, sempre envolto em uma névoa que eu não conseguia atravessar. Eu não me lembro de como era sorrir de verdade, de sentir alegria sem que a sombra do medo pairasse sobre mim. Agora, os sonhos que tenho são diferentes. São pesadelos disfarçados, lugares escuros onde eu me vejo correndo sem nunca alcançar nada, sem nunca encontrar uma saída.

O alfa loiro, ele é uma figura que me intriga e me assusta ao mesmo tempo. Algo no jeito que ele me olha faz meu peito doer de uma forma que eu não consigo explicar. É como se ele estivesse tentando entender algo que eu mesmo não sei. E, por um segundo, meus instintos me dizem para confiar... mas como posso confiar em alguém quando até o som de passos no corredor me faz querer me encolher e desaparecer? Como posso acreditar que ele não é como os outros, que ele não vai me machucar quando tudo o que conheci foi dor?

Lembro-me de algumas noites escuras, de estar preso, das vozes que sussurravam que eu nunca seria bom o suficiente, que meu destino era sofrer, que meu corpo e minha alma pertenciam a alguém que não era eu. Lembro-me das correntes, não físicas, mas aquelas que prendiam minha mente, que me faziam acreditar que eu merecia cada golpe, cada palavra cruel. Eu tentei lutar, tentei escapar de tantas maneiras, mas cada tentativa me deixava ainda mais preso. E agora, preso em uma maca de hospital, sinto que aquelas correntes ainda estão lá, invisíveis, me sufocando.

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