O Encontro

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O sol do Rio de Janeiro parecia mais dourado naquela tarde de fevereiro, quando Miguel saiu da água, os cabelos molhados pingando e o sal impregnado na pele bronzeada. O Arpoador estava lotado, mas para ele, aquele pedaço de praia sempre parecia reservado. O mundo desaparecia quando estava em cima da prancha, cortando as ondas com a destreza de quem havia nascido para o mar. Surfava desde os nove anos e, agora com 22, a liberdade que sentia ao deslizar nas águas era sua melhor fuga da rotina intensa da cidade.

Sentado na areia, Miguel observava o vai e vem das pessoas. Grupos de amigos rindo, turistas tirando fotos do pôr do sol, vendedores de mate e biscoito Globo caminhando entre as cangas estendidas. Ele adorava aquele caos organizado, aquela mistura vibrante de cores, sotaques e sons. A cidade era um reflexo perfeito de sua vida: imprevisível, cheia de energia e, ao mesmo tempo, repleta de uma beleza selvagem que só o Rio podia oferecer.

Foi então que ele a viu.

De pé, à beira do calçadão, Luísa parecia deslocada. Seus olhos corriam pela praia como se procurassem algo – ou alguém – e o cabelo castanho escuro, solto e bagunçado, dançava ao ritmo do vento. Miguel não conseguia desviar o olhar. Havia algo nela, algo que chamava sua atenção além da beleza óbvia. Era a forma como seus olhos, levemente ansiosos, contrastavam com a expressão calma de seu rosto. Uma dualidade que despertava curiosidade.

Ele se levantou, batendo a areia do corpo, e começou a caminhar na direção dela sem realmente saber por quê. Algo o puxava, como se fosse inevitável. Conforme se aproximava, notou mais detalhes: a camiseta simples, o short jeans desbotado, e a tatuagem discreta de uma onda no tornozelo. Mas foi quando ela finalmente cruzou o olhar com ele que tudo pareceu parar.

— Oi, tudo bem? — ele disse, sem planejar a abordagem. As palavras simplesmente saíram, e ele se pegou sorrindo, esperando não parecer um completo idiota.

Ela piscou, surpresa, mas não recuou. Pelo contrário, uma sombra de sorriso apareceu em seus lábios, como se estivesse intrigada.

— Oi — respondeu ela, sua voz suave, mas firme. — Você é daqui?

Miguel riu, apontando para a prancha debaixo do braço.

— Acho que dá pra dizer que sim. E você? Parece meio perdida.

Ela olhou em volta, como se só naquele momento percebesse o caos da praia ao seu redor.

— Na verdade, estou um pouco. Acabei de chegar ao Rio e... — Ela hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. — Não conheço muita coisa por aqui.

Aquela revelação fez Miguel erguer as sobrancelhas. Ela não parecia uma típica turista, não havia aquela aura de fascinação com a cidade que ele sempre notava nos visitantes. Ela era diferente. Havia um mistério em seus olhos, uma nuvem que ele não conseguia decifrar.

— Bom, você deu sorte. Posso te mostrar as melhores partes da cidade — ofereceu ele, tentando soar casual, mas a curiosidade crescendo dentro de si. — Começamos pelo Arpoador, a melhor vista do pôr do sol.

Ela sorriu, dessa vez um sorriso completo, embora ainda reservado.

— E por que você faria isso por alguém que acabou de conhecer?

Miguel deu de ombros, fingindo desinteresse, embora soubesse que a resposta era mais complexa do que isso.

— Digamos que eu tenho um fraco por ajudar quem parece deslocado. E você definitivamente parece um pouco fora de lugar.

Ela o observou por um momento, como se estivesse tentando decidir algo. Finalmente, deu um passo para mais perto, o olhar brilhando em tom de desafio.

— Tudo bem, surfista. Me mostre o Rio.

E naquele momento, algo dentro de Miguel lhe disse que aquele encontro mudaria sua vida. Eles começaram a caminhar lado a lado pela orla, o som das ondas como trilha sonora para o início de algo que ele ainda não entendia completamente.

Enquanto caminhavam, Luísa parecia absorver cada detalhe. Às vezes, ela ficava em silêncio, como se mergulhasse profundamente em seus próprios pensamentos, mas Miguel não se importava. Havia uma conexão silenciosa entre eles, uma tensão que crescia a cada passo. E ele sabia, sem dúvida, que queria descobrir mais sobre essa garota misteriosa que o tinha intrigado desde o primeiro olhar.

O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, quando chegaram ao mirante do Arpoador. O espetáculo era de tirar o fôlego, mas Miguel se pegou mais interessado em observar Luísa do que o horizonte. Ela parecia hipnotizada pela vista, os olhos brilhando com uma emoção que ele não conseguia identificar.

— É incrível — murmurou ela, sem desviar o olhar do sol que desaparecia lentamente no oceano.

— É por isso que eu nunca me canso daqui — disse Miguel, encostando-se à mureta ao lado dela. — E então, está gostando do Rio até agora?

Ela finalmente virou o rosto para ele, e dessa vez, o sorriso que deu foi mais sincero, mais aberto.

— Acho que sim. Talvez mais do que esperava.

Miguel riu, sem saber o quanto aquela frase seria profética. O que ele ainda não sabia era que, junto com o charme da cidade e a beleza do Rio, havia uma sombra pairando sobre Luísa. E que esse primeiro encontro seria o começo de algo muito maior – e mais perigoso – do que ele jamais poderia imaginar.

Garoto do Rio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora