Sombras em Movimento

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Os passos se tornaram mais claros, ressoando contra o chão de concreto do armazém. Miguel e Luísa se espremiam atrás da pilha de caixas, seus corações batendo acelerados. A tensão no ar era palpável, e a luz fraca lançava sombras dançantes ao redor deles.

Miguel tentou olhar por entre as caixas, mas o espaço era apertado demais para se mover livremente. A silhueta de um homem apareceu à distância, sua figura projetada na parede ao lado, iluminada pela luz fraca que piscava.

— Tem certeza de que não há ninguém aqui? — a voz era grave e autoritária, fazendo um frio percorrer a espinha de Miguel.

O homem começou a andar lentamente, inspecionando o armazém. Miguel sentiu a necessidade de agir. Ele não podia deixar que Luísa fosse descoberta. O instinto de proteção tomou conta dele, e ele se preparou para uma ação.

— Luísa, fique aqui — sussurrou Miguel, e, sem esperar resposta, ele se esgueirou lentamente em direção à luz.

Assim que se afastou das caixas, ele conseguiu ver melhor o homem. Ele era robusto, com uma expressão dura e uma tatuagem visível no braço, que sugeria uma ligação com o submundo do crime. Miguel sentiu que não era seguro permanecer ali por muito mais tempo. Precisava encontrar uma maneira de distraí-lo.

Aproveitando um momento de distração do homem, Miguel pegou uma pequena caixa que estava no chão e a arremessou em direção à porta oposta. O barulho que se seguiu fez o homem se virar rapidamente, sua atenção desviada.

— O que foi isso? — ele disse, ajustando a posição do corpo e começando a se mover em direção ao som.

Miguel aproveitou a oportunidade para se esgueirar de volta até Luísa.

— Temos que sair agora! — sussurrou Miguel, puxando-a pela mão.

Os dois começaram a se mover silenciosamente em direção à saída, seus passos medidos, quase sem som. No entanto, o homem se virou novamente e, percebendo que algo estava errado, começou a avançar em sua direção.

— Ei! Quem está aí? — ele gritou, a voz carregada de raiva.

Miguel e Luísa sentiram o medo pulsar em seus corações enquanto corriam em direção à porta. O homem estava agora atrás deles, sua presença ameaçadora ecoando pelo armazém. Eles não podiam ser pegos; precisavam escapar.

A porta estava a poucos metros, mas o caminho parecia interminável. Miguel alcançou a maçaneta, sentindo a adrenalina disparar. Ele girou a maçaneta e puxou a porta com toda a força, arrastando Luísa para fora enquanto a luz do luar inundava seus rostos.

Assim que estavam do lado de fora, Miguel não hesitou. Eles começaram a correr, deixando o armazém escuro para trás. As ruas do Rio de Janeiro estavam silenciosas, mas o medo e a urgência os impulsionavam. Eles não sabiam se estavam sendo seguidos, mas não podiam parar para descobrir.

— Para onde vamos? — Luísa ofegou, tentando acompanhar o ritmo de Miguel.

— Vamos para a casa da minha avó! É perto daqui — ele respondeu, mantendo os olhos fixos à frente. O caminho através das ruas estreitas era familiar, mas agora estava repleto de perigo.

Conforme se afastavam do armazém, Miguel sentia que a pressão aumentava. Rafael estava em perigo, e eles estavam agora no meio de algo muito maior do que imaginavam. Havia pessoas que queriam calá-los, e cada passo que davam os levava mais fundo na teia de mistérios que cercava o desaparecimento de Rafael.

Chegando à casa da avó de Miguel, eles entraram rapidamente e trancaram a porta atrás de si. O ambiente era acolhedor, com o aroma familiar de café fresco e bolo de cenoura que sua avó frequentemente preparava. No entanto, naquele momento, a casa parecia um santuário fugaz, longe da escuridão que os perseguia.

— Precisamos nos acalmar e planejar o que fazer a seguir — Miguel disse, enquanto puxava uma cadeira para Luísa, que parecia ainda atordoada.

Ela sentou, passando a mão pelo cabelo desordenado, tentando processar tudo o que havia acontecido. Os olhos dela refletiam uma mistura de medo e determinação.

— O que fazemos agora? — perguntou, a voz um pouco trêmula.

— Precisamos investigar mais sobre o que Rafael estava envolvido. O caderno que encontramos... — Miguel começou, mas antes que pudesse terminar, o telefone de Luísa começou a tocar. Ela olhou para a tela e a expressão dela mudou instantaneamente.

— É o meu pai! — exclamou, colocando a mão na boca.

— Atenda, talvez ele saiba de algo! — Miguel insistiu, mas Luísa hesitou, a preocupação estampada em seu rosto.

— Ele vai ficar preocupado se eu atender... — sussurrou.

— Precisamos saber se ele está bem. E se alguém estiver procurando por nós? — Miguel a encorajou.

Ela respirou fundo e, com um gesto hesitante, atendeu.

— Oi, pai... — começou, mas a voz dela tremia. Miguel se aproximou, escutando atentamente.

— Luísa! Onde você está? Estou preocupado! Você não atendeu as chamadas! — a voz do pai soou alta e clara, carregada de preocupação.

— Desculpe, pai. Eu... eu estou com Miguel. Estamos em segurança. É só que... — ela hesitou, mas Miguel a incentivou com um gesto a continuar.

— ... é só que encontramos algumas coisas sobre Rafael, e precisamos de ajuda.

Houve uma pausa do outro lado da linha, e Miguel podia imaginar seu pai processando a informação. Finalmente, ele respondeu:

— O que você encontrou? Onde vocês estão?

Miguel sentiu uma onda de ansiedade enquanto Luísa explicava o que havia acontecido no armazém. O tom de voz de seu pai mudava lentamente, de preocupação para algo mais grave.

— Vocês precisam sair daí imediatamente. Há pessoas procurando por vocês. Eu vou tentar chegar até vocês, mas se esconder é a prioridade — ele disse, seu tom de voz agora grave e autoritário.

— Mas e você? — Luísa questionou, angustiada.

— Não se preocupe comigo, apenas sigam meu conselho. Encontrem um lugar seguro e fiquem lá até que eu chegue — ele finalizou.

Assim que a chamada terminou, Miguel e Luísa se entreolharam, ambos cientes de que a situação estava prestes a se intensificar.

— O que vamos fazer? — Luísa perguntou, a expressão de determinação agora misturada com uma pitada de medo.

Miguel sabia que não havia tempo a perder. Eles precisavam agir rápido.

— Precisamos nos esconder e tentar entender o que está acontecendo. O caderno é a nossa única pista, mas precisamos ser discretos — disse ele, pensando em um plano.

— E se encontrássemos alguém que soubesse mais sobre a situação de Rafael? — Luísa sugeriu.

— É uma boa ideia, mas quem? — Miguel questionou, refletindo.

— O que se fosse alguém do passado dele? Uma amiga ou um contato que ele teve? — Luísa propôs.

Miguel ponderou por um momento, então um nome surgiu em sua mente.

— E se nós formos até a Clara? Ela era uma das melhores amigas de Rafael. Se alguém souber de algo, provavelmente será ela.

— Clara... sim, isso pode funcionar. Mas onde ela está agora? — Luísa perguntou, ansiosa.

— Eu tenho o número dela. Vamos entrar em contato — disse Miguel, pegando seu celular. Ele digitou rapidamente, a ansiedade crescente.

Quando a chamada foi atendida, a voz de Clara soou do outro lado, confusa e preocupada.

— Miguel? O que aconteceu? Você está bem?

Miguel trocou um olhar rápido com Luísa antes de responder.

— Clara, precisamos de sua ajuda. É sobre Rafael.

Assim que as palavras saíram de sua boca, uma onda de tensão tomou conta do ambiente. Eles estavam prestes a se aprofundar ainda mais na trama obscura que cercava Rafael e o mistério que agora envolvia suas vidas.

Garoto do Rio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora