Caminhos Cruzados

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O calor do Rio de Janeiro parecia abraçar a cidade naquele fim de manhã, enquanto Miguel caminhava em direção ao ponto de encontro combinado com Luísa. Eles haviam marcado de se encontrar perto da Escadaria Selarón, um dos lugares mais icônicos da cidade, com suas cores vibrantes e mosaicos únicos. Miguel achou que seria o lugar perfeito para continuar o passeio e, talvez, descobrir um pouco mais sobre a garota que parecia carregar o mundo nas costas.

Quando chegou lá, avistou Luísa de longe. Ela estava parada na base da escadaria, usando um vestido branco leve que balançava com a brisa suave. Seus olhos percorriam os detalhes dos azulejos coloridos, como se estivesse tentando decifrar uma mensagem escondida nas obras de arte. Miguel se aproximou silenciosamente, aproveitando o momento para observá-la antes que ela percebesse sua presença. Havia uma serenidade estranha em Luísa, mas também uma tensão constante, como se ela estivesse sempre à beira de correr ou desaparecer.

— Achei que você não ia vir — disse ele, com um sorriso descontraído, enquanto parava ao seu lado.

Ela se virou e sorriu de volta, mas, como sempre, aquele sorriso parecia não alcançar seus olhos.

— Eu não poderia perder mais um passeio com o melhor guia do Rio, né? — respondeu, tentando soar despreocupada.

Miguel riu, mas por dentro ele estava alerta, notando cada detalhe de seu comportamento.

— Que bom que veio. Essa escadaria tem uma história incrível. — Ele apontou para os mosaicos coloridos. — Foi feita por um artista chileno, Jorge Selarón. Ele começou sozinho, transformando os degraus em uma homenagem ao povo brasileiro e à mistura de culturas.

— É lindo — comentou Luísa, enquanto seus dedos roçavam suavemente os azulejos. — Mas... por que você quis me trazer aqui hoje?

Miguel hesitou por um segundo. Era uma pergunta direta e inesperada. Ele riu de nervoso, tentando disfarçar a verdade.

— Ah, achei que você iria gostar, só isso. O lugar é cheio de vida, assim como o Rio.

Ela o olhou de soslaio, como se tentasse ver através de suas palavras. Parecia estar ponderando se deveria acreditar nele.

— Eu gosto daqui. Mas... — Ela deu um suspiro, se virando para encará-lo diretamente. — Você também está curioso sobre mim, não está?

A pergunta o pegou desprevenido. O coração de Miguel disparou, mas ele tentou manter a calma.

— Talvez um pouco — admitiu, com um sorriso leve. — Você é misteriosa, Luísa. Eu sei que tem algo que você não quer contar, e não vou forçar você a dizer nada. Mas... é difícil não ficar curioso.

Ela mordeu o lábio, como se estivesse decidindo o quanto revelar. O silêncio entre eles foi preenchido pelo burburinho de turistas ao redor, mas, por um momento, parecia que apenas os dois estavam ali, naquele pequeno espaço do mundo.

— Eu vim ao Rio por causa do meu irmão — disse ela, finalmente. Sua voz estava mais baixa, quase como um sussurro. — Ele... está desaparecido.

A revelação atingiu Miguel como uma onda inesperada. Ele não esperava por aquilo. Um irmão desaparecido? De repente, tudo começou a fazer sentido — as respostas vagas, a inquietação, o ar de mistério que cercava Luísa.

— Desaparecido? Como assim? — perguntou ele, preocupado. — O que aconteceu?

Luísa respirou fundo, como se estivesse aliviada por finalmente poder falar sobre aquilo.

— Meu irmão, Rafael, morava aqui no Rio. Ele se mudou para cá há alguns anos por causa do trabalho, mas... há algumas semanas ele simplesmente sumiu. Sem deixar rastros. Não atende o celular, não responde mensagens, e a última vez que alguém o viu foi em um bar perto da Lapa. Desde então, ninguém sabe onde ele está.

Miguel a observou atentamente enquanto ela falava. Ele podia ver a dor e a preocupação em seus olhos, e tudo o que ele pensara antes sobre ela se confirmou: Luísa estava, de fato, fugindo de algo, mas era um mistério muito maior do que ele poderia imaginar.

— Você já foi à polícia? — perguntou ele, tentando entender a situação.

Ela balançou a cabeça, com uma expressão de frustração.

— Já. Eles abriram um caso, mas disseram que ele é um adulto e que pode ter desaparecido por vontade própria. Mas eu conheço o Rafael. Ele nunca faria isso. Algo está errado. Sinto isso.

Miguel ficou em silêncio por alguns instantes, processando tudo o que acabara de ouvir. Ele não sabia o que dizer, mas sentiu uma necessidade crescente de ajudar Luísa. Talvez fosse a ligação que sentira com ela desde o começo, ou talvez fosse apenas o desejo de proteger alguém que parecia tão vulnerável.

— Eu vou te ajudar a encontrar seu irmão — disse ele, finalmente, com firmeza. — Não importa o que tenha acontecido, vamos descobrir a verdade.

Luísa o olhou com surpresa, seus olhos se enchendo de gratidão e uma emoção que ela parecia estar segurando há muito tempo.

— Obrigada, Miguel — disse ela, a voz embargada. — Eu não sei o que faria sem você.

Eles passaram o resto do dia conversando sobre Rafael, suas rotinas, os lugares que ele costumava frequentar. Cada pedaço de informação parecia importante, uma peça do quebra-cabeça que precisava ser montado para descobrir o que realmente aconteceu com ele.

Mas, à medida que o dia chegava ao fim, Miguel não podia deixar de sentir que estavam entrando em um território perigoso. Havia algo mais sombrio à espreita nessa história, algo que Luísa ainda não tinha contado — talvez porque ela mesma não soubesse, ou talvez porque tivesse medo de enfrentar a verdade.

O que quer que fosse, ele estava decidido a ficar ao lado dela. E, juntos, eles iriam até o fim desse mistério, não importava o que encontrassem pelo caminho.

Naquela noite, ao se despedirem, Miguel olhou para Luísa com uma nova compreensão. Ela não era apenas uma garota misteriosa que tinha aparecido em sua vida por acaso. Havia um propósito maior em tudo aquilo. E agora ele estava envolvido.

Enquanto Luísa se afastava, suas últimas palavras ecoaram na mente de Miguel:

— Você não sabe no que está se metendo, Miguel.

Ele sabia que a partir daquele momento, não haveria mais volta.

Garoto do Rio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora