O céu do Rio de Janeiro estava nublado, anunciando uma possível tempestade. O ambiente parecia refletir o estado de espírito de Miguel e Luísa. Após a revelação sobre a ligação de Rafael, eles sabiam que cada passo a partir daquele momento precisava ser cuidadoso. A atmosfera entre eles estava densa, como se ambos sentissem a presença de algo maior, algo invisível que os cercava.
— Precisamos descobrir quem são "eles" — Miguel disse, quebrando o silêncio, seus olhos firmes nos de Luísa.
— Eu não faço ideia... Rafael nunca mencionou ninguém em específico. Ele só parecia... sempre tenso. — Luísa parecia exausta, o peso do mistério e da preocupação claramente afetando sua energia.
Miguel pensou por um momento. Era evidente que Rafael estava envolvido em algo perigoso, mas como descobrir quem estava atrás dele sem levantar mais suspeitas? Ele precisava de mais informações. E tinha uma ideia de onde começar.
— Acho que está na hora de eu visitar a casa do Rafael. Talvez tenha algo lá que possa nos ajudar — sugeriu Miguel.
Luísa hesitou. O apartamento de Rafael estava trancado desde o desaparecimento dele, e ela não tinha tido coragem de ir até lá sozinha. Mas agora, não havia outra escolha.
— Tudo bem, eu tenho as chaves. Vamos lá juntos.
A decisão estava tomada. Eles precisavam vasculhar o passado de Rafael, começando pela sua casa.
O prédio onde Rafael morava era antigo, um edifício de estilo colonial no bairro de Santa Teresa. Quando chegaram à porta do apartamento, Luísa parou por um instante, segurando as chaves com força. Ela olhou para Miguel, que assentiu, oferecendo-lhe um sorriso reconfortante.
— Eu estou com você, Luísa.
Ela respirou fundo e destrancou a porta. O apartamento estava do jeito que Rafael havia deixado, como se ele pudesse voltar a qualquer momento. O ambiente estava escuro, e o som abafado de seus passos ecoava pelo espaço silencioso. Luísa acendeu as luzes, revelando uma sala de estar organizada, porém desprovida de vida.
— Ele sempre foi muito metódico com as coisas. Tudo no lugar certo... — murmurou Luísa, percorrendo os olhos pela sala com uma mistura de dor e nostalgia.
Miguel começou a investigar. Cada detalhe importava. Ele olhou ao redor, verificou prateleiras, gavetas, armários. Depois de alguns minutos, chamou a atenção de Luísa.
— Olha isso.
Ele havia encontrado um pequeno caderno de anotações escondido em uma gaveta no quarto de Rafael. A capa era simples, sem nenhum indicativo do que continha. Quando o abriu, o mistério começou a se desdobrar.
— São anotações sobre reuniões... — Miguel leu em voz alta. — "Dia 5 – encontro no Armazém 23. Assunto: pagamento pendente. Dia 10 – reunião com M. Importante, não falhar."
— Armazém 23? O que será isso? — Luísa se aproximou, olhando por cima do ombro de Miguel.
Miguel folheou as próximas páginas. Algumas anotações eram vagas, outras pareciam rascunhos de ideias, mas a maioria era confusa, como se Rafael estivesse tentando encobrir algo.
— Ele estava claramente envolvido com alguma coisa grande. Mas o que será que essas reuniões significam? — Miguel refletiu.
Antes que pudessem mergulhar mais nas anotações, o som de algo caindo na sala os fez congelar. Miguel instintivamente pegou Luísa pela mão e a puxou para trás de uma parede. Ambos ficaram imóveis, tentando escutar. Não parecia haver mais nada, mas a tensão no ar aumentou.
— Acho que precisamos sair daqui — sussurrou Miguel. — Talvez já estejam de olho em nós.
Luísa concordou com um aceno, claramente assustada. Guardando o caderno no bolso de sua jaqueta, Miguel deu uma última olhada no apartamento antes de saírem apressados.
Horas depois, já de volta ao café onde costumavam se encontrar, Miguel e Luísa tentavam processar tudo o que haviam descoberto. O caderno de anotações era a única pista concreta que tinham, e a menção ao Armazém 23 chamava atenção.
— Devemos investigar esse armazém — disse Miguel, tomando um gole de seu café. — Se Rafael esteve lá, talvez possamos encontrar mais respostas.
— Mas como vamos fazer isso sem atrair mais atenção? — Luísa perguntou, preocupada. — Se já estão nos vigiando, qualquer movimento em falso pode nos colocar em perigo.
Miguel pensou por um momento. Ela estava certa. A mensagem ameaçadora que ele havia recebido deixava claro que eles não estavam seguros. Mas ele também sabia que, sem agir, ficariam presos nesse ciclo de medo e incerteza.
— Vamos com cuidado. Podemos ir à noite, quando houver menos movimento. Se nos dividirmos, conseguiremos entrar sem sermos vistos.
Luísa respirou fundo, sua determinação renovada. Eles estavam no meio de algo perigoso, mas não podiam voltar atrás. Rafael dependia deles, e a verdade ainda estava oculta nas sombras.
Mais tarde naquela noite, Miguel e Luísa chegaram à zona portuária, onde os armazéns se alinhavam lado a lado. O Armazém 23 era um prédio antigo e desgastado pelo tempo, sua fachada escura quase invisível sob a luz fraca das lâmpadas de rua. Havia algo sinistro na forma como o local parecia abandonado, mas ao mesmo tempo, emanava uma sensação de perigo iminente.
— Está muito quieto — Luísa sussurrou, nervosa, enquanto ambos se aproximavam com cautela.
Miguel assentiu. Ele sabia que era um risco enorme, mas a sensação de que estavam próximos de algo importante os empurrava para frente.
Caminhando pelas sombras, eles se aproximaram da porta lateral do armazém. Quando Miguel tentou abrir, para sua surpresa, a porta estava destrancada. Com um olhar rápido para Luísa, ele a empurrou levemente, e ambos entraram, seus corações acelerados com a adrenalina.
Dentro do armazém, o silêncio era esmagador. Pilhas de caixas estavam dispostas ao longo das paredes, e havia uma luz fraca piscando no fundo, como se alguém tivesse estado ali recentemente. O ambiente estava carregado de uma energia inquietante, como se algo invisível os observasse.
Miguel sinalizou para Luísa ficar quieta enquanto avançava em direção à luz. Quando chegaram ao centro do armazém, perceberam que o local não estava tão abandonado quanto parecia.
No chão, havia marcas de pneus, como se algum veículo tivesse saído recentemente. E no canto da sala, uma mesa de madeira estava cheia de documentos espalhados. Eles se aproximaram e começaram a folhear os papéis.
— São registros de pagamento... — Luísa murmurou. — E aqui está o nome do Rafael!
Mas antes que pudessem absorver completamente a descoberta, um barulho ecoou pelo armazém. O som de passos. Alguém estava vindo.
Miguel puxou Luísa para trás de uma das pilhas de caixas, ambos segurando a respiração enquanto os passos se aproximavam.
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Garoto do Rio 1
RomanceEntre o brilho dourado das praias e o caos vibrante das ruas cariocas, o jovem Miguel leva uma vida tranquila, surfando nas ondas do Arpoador e vivendo cada dia como se fosse o último. Mas tudo muda quando ele conhece Luísa, uma garota misteriosa qu...