Rumos Opostos

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Naquela noite, Clara não conseguia dormir. Cada vez que fechava os olhos, imagens de Rafael, de Kim Na-rae e dos pontos brilhando no mapa surgiam em sua mente. O peso da missão parecia dobrar suas costas, e a ansiedade a mantinha alerta, como se o perigo já estivesse à espreita.

Ela saiu da cama e foi até a janela, olhando as luzes da cidade. O Rio de Janeiro nunca dormia, mas, para Clara, a metrópole parecia estranhamente distante naquela noite, como se ela já estivesse em outro lugar. Sabia que, no momento em que embarcassem para Brasília, Londres e Seul, tudo mudaria. Aquela sensação de estar suspensa entre o presente e o futuro a inquietava.

Na manhã seguinte, Clara, Miguel e Luísa se reuniram no pequeno café onde costumavam se encontrar, longe dos olhares curiosos. O ambiente estava silencioso, com o cheiro de café fresco preenchendo o ar. Eles mal falavam enquanto aguardavam a chegada de Marcos, que prometera trazer as passagens e os documentos necessários para a primeira etapa da viagem.

— Eu não consigo parar de pensar nessa mulher, Kim Na-rae. — Clara comentou, mexendo a colher na xícara de café já frio. — Quem ela é, de verdade? Por que Rafael estaria envolvido com alguém como ela?

— Se ela é mesmo parte de uma rede de tráfico de dados, pode ser que ele tenha se infiltrado para descobrir mais. — Miguel respondeu, tentando racionalizar a situação. — Rafael sempre foi bom em se misturar, conseguir informações.

Luísa, que estava mais calada que o habitual, finalmente se pronunciou.

— A questão é... se ela tem algo a ver com o desaparecimento dele, como podemos confiar nela? E mais, o que faremos se ela não colaborar?

Clara respirou fundo. Era a pergunta que ecoava em sua mente desde o momento em que viu a foto de Na-rae.

— Nós temos que jogar com as cartas que temos, Luísa. Se essa mulher for nossa única conexão com o último pedaço do código, não temos outra escolha. Só precisamos estar preparados para qualquer coisa.

Marcos entrou no café logo depois, carregando uma pasta de couro preta e uma expressão neutra, como sempre. Ele se sentou à mesa e abriu a pasta, revelando os documentos de viagem e uma série de passaportes falsos.

— Aqui estão as passagens para Brasília. Vocês vão primeiro para lá. — Ele empurrou os documentos em direção a Clara. — Uma vez que conseguirem o que precisam, partem para Londres. Seul é a última parada, mas também a mais perigosa. Kim Na-rae está sendo vigiada. Isso significa que vocês precisam ser sutis, mas rápidos.

Clara olhou para os passaportes falsos, sentindo um arrepio ao tocar as novas identidades que assumiriam em cada cidade. Estavam cruzando uma linha cada vez mais profunda, e ela sabia que o risco só aumentaria.

— Tudo pronto? — Marcos perguntou, seu olhar avaliando cada um deles.

Miguel foi o primeiro a assentir.

— Estamos prontos. Vamos a Brasília primeiro. Qual é o alvo?

Marcos sorriu levemente, puxando um envelope menor de dentro da pasta.

— Vocês estão atrás de um arquivo específico que está escondido dentro de um servidor governamental. O prédio é bem protegido, mas há uma brecha no sistema de segurança às duas da manhã. Vocês têm uma janela de quinze minutos para entrar, pegar o que precisam e sair.

— Isso parece impossível. — Luísa disse, franzindo o cenho.

Marcos deu de ombros.

— Se fosse fácil, Rafael já teria conseguido. É por isso que ele estava precisando de ajuda. Vocês têm a vantagem de saber quando e onde agir. Não desperdicem isso.

Clara pegou o envelope e o colocou na bolsa. A missão estava em movimento agora, e a primeira parada seria em Brasília, onde uma entrada rápida no mundo da espionagem digital os aguardava.

— Quando partimos? — Clara perguntou, já decidida.

— O voo sai em duas horas. — Marcos respondeu. — Espero que estejam preparados para o que vem a seguir.

Com os documentos em mãos e o peso das decisões sobre seus ombros, Clara, Miguel e Luísa deixaram o café e foram direto para o aeroporto. O silêncio entre eles era carregado de nervosismo e antecipação. Todos sabiam que essa viagem a Brasília era apenas o início, e que o caminho à frente estava repleto de incertezas e perigos.

No voo, Clara não conseguia parar de pensar na conversa que haviam tido com Marcos. Sentia que, em cada passo que davam, estavam mais próximos da verdade sobre Rafael, mas também mais próximos de um perigo que talvez não pudessem controlar. Ao olhar pela janela do avião, vendo as nuvens se dissipando enquanto desciam para Brasília, ela sentiu uma mistura de determinação e medo.

Eles tinham uma missão. E, a partir de agora, não poderiam falhar.

Garoto do Rio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora