Revelações na Madrugada

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A noite no Rio de Janeiro era uma mistura de luzes e sombras. Miguel caminhava pelo calçadão da praia, os pensamentos girando como um turbilhão. Ele não conseguia parar de pensar em Luísa. Havia algo que não se encaixava. Ela era encantadora, mas ao mesmo tempo, carregava uma nuvem de mistério que o intrigava profundamente. O que estaria escondido por trás daqueles olhos profundos e daquele sorriso cauteloso?

Assim que chegou em casa, o apartamento pequeno e bagunçado, Miguel jogou a prancha no canto e se jogou no sofá, encarando o teto. O som da cidade continuava ao fundo: carros passando, risadas na rua, o eco distante de música de algum bar. Ele pensava no breve encontro com Luísa, nas respostas vagas que ela tinha dado, como se estivesse sempre prestes a revelar algo importante, mas parava antes que ele pudesse entender completamente.

Ele pegou o celular, rolando pela lista de contatos até parar no nome de seu amigo, Pedro. Pedro era o tipo de cara que sempre sabia de tudo o que acontecia no Rio, desde festas secretas até os dramas mais escondidos da cidade. Se havia algo a ser descoberto sobre alguém, Pedro poderia ajudar.

— Fala, irmão! — Pedro atendeu depois de poucos toques. — E aí, sumido! Finalmente resolveu sair do mar?

Miguel riu, embora sua mente ainda estivesse ocupada com outras coisas.

— Fala, Pedro. Estou precisando de uma ajuda, cara.

— Ajuda? — Pedro ficou curioso. — Pode falar. O que houve?

Miguel hesitou por um momento, mas decidiu ir direto ao ponto.

— Conheci uma garota hoje... chama Luísa. Ela é nova no Rio, parece que tem algumas coisas pra resolver por aqui, mas... não sei, tem algo nela que não faz sentido. Ela não parece uma turista normal. Você conhece alguém assim? Ouviu falar de alguma história parecida?

Houve um breve silêncio do outro lado da linha, e Miguel soube naquele instante que Pedro estava pensando em algo.

— Cara... Luísa, né? Não conheço nenhuma garota com esse nome que seja famosa aqui, mas me conta mais. Ela falou alguma coisa específica? Tem algo a mais que te deixou com a pulga atrás da orelha?

— Foi mais a forma como ela se comportou — explicou Miguel, tentando organizar seus pensamentos. — Ela disse que veio resolver umas coisas, mas não pareceu aberta pra falar muito sobre isso. Ficou meio na defensiva quando perguntei de onde ela era ou por que veio pra cá. E sabe aquele jeito de quem está fugindo de algo? Não sei... sinto que ela está escondendo alguma coisa.

Pedro riu baixinho do outro lado.

— Cara, vai ver ela só está fugindo de um ex-namorado psicopata. Ou de dívidas. O Rio atrai esse tipo de história. Mas, escuta... eu vou dar uma sondada por aí. Vai que descubro algo. De repente ela não é tão anônima assim quanto parece.

— Valeu, Pedro. Avisa se souber de alguma coisa.

Desligando o telefone, Miguel suspirou. Talvez ele estivesse exagerando, talvez fosse apenas sua curiosidade querendo transformá-la em algo mais do que realmente era. Mas algo dentro dele insistia que Luísa carregava mais do que apenas segredos comuns. Era quase como se ela estivesse fugindo de si mesma.

Ele tentou deixar isso de lado, mas mesmo enquanto tomava banho e se preparava para dormir, a imagem de Luísa continuava voltando à sua mente. O jeito como seus olhos se apagaram por um instante quando mencionou que "não tinha muito tempo". Aquele sorriso que nunca chegava aos olhos. O que ela estava escondendo?

Naquela noite, o sono de Miguel foi agitado. Ele sonhou com o mar, mas dessa vez o oceano estava escuro, revolto. Ele surfava sobre ondas altas, mas o céu estava sem estrelas e o som do vento trazia sussurros de vozes que ele não conseguia entender. Ele tentava manter o equilíbrio, mas a água o puxava para baixo, até que ele finalmente caiu, afundando no abismo de águas profundas. Quando tentou nadar de volta à superfície, viu o rosto de Luísa olhando para ele através da escuridão, seus olhos sérios, quase sombrios.

Ele acordou com um sobressalto, o suor frio escorrendo pela testa, o coração batendo acelerado no peito. Olhou ao redor, confuso, e percebeu que ainda estava no seu apartamento, as primeiras luzes da manhã começando a filtrar pela janela. O sonho parecia tão real que levou alguns minutos para que ele se acalmasse.

"Isso é loucura", pensou, esfregando os olhos cansados. "É só uma garota."

Mas algo dentro dele sussurrava que não era tão simples assim. Luísa não era apenas uma garota qualquer. E Miguel sabia que, se quisesse descobrir a verdade, teria que se aproximar ainda mais dela, cruzar a linha entre o que parecia seguro e o que era desconhecido.

No dia seguinte, Miguel decidiu não esperar pela resposta de Pedro. Ele tinha o telefone de Luísa, então mandou uma mensagem casual, tentando agir como se fosse apenas um convite amigável.

Miguel: "Bom dia! Tá afim de explorar mais o Rio hoje? Tenho algumas sugestões de lugares que você vai adorar."

Passaram-se alguns minutos até que a resposta chegou.

Luísa: "Oi, Miguel! Acho que vou ter um tempinho sim. Me fala onde a gente se encontra."

Miguel sorriu, sentindo uma pontada de excitação. Ela tinha aceitado. Mais uma oportunidade para desvendar aquele enigma que agora o consumia. Ele só não sabia que, ao tentar descobrir os segredos de Luísa, estava se aproximando de uma verdade muito mais sombria do que ele podia imaginar.

Agora, as peças começavam a se mover, e o jogo estava apenas começando.

Garoto do Rio 1Onde histórias criam vida. Descubra agora