A noite caiu sobre o Rio de Janeiro, trazendo com ela a familiar mistura de agitação e tranquilidade. Enquanto as luzes da cidade refletiam no mar e o som distante da música enchia o ar, Miguel estava em casa, sentado em sua varanda, observando a cidade que ele amava. O encontro com Luísa pesava em sua mente. Agora, ele não conseguia mais ver a garota misteriosa sem pensar no irmão desaparecido e no perigo que aquilo poderia representar.
Ele pegou o celular e rolou suas mensagens. Nenhuma nova de Luísa desde que se despediram, mas algo o incomodava. As palavras dela antes de partir ecoavam em sua cabeça: "Você não sabe no que está se metendo." Algo a assustava, e Miguel sentia que descobrir a verdade sobre o paradeiro de Rafael poderia colocá-los ambos em risco.
Com a determinação crescendo dentro de si, ele decidiu que não podia esperar. Precisava começar a investigar de alguma forma. Afinal, o Rio era sua casa, e ele sabia como se mover pelas partes menos visíveis da cidade. Pegou o telefone e ligou para seu amigo de longa data, Pedro. Pedro trabalhava em um bar na Lapa, o mesmo lugar onde Rafael foi visto pela última vez.
— E aí, Pedro. Beleza? — Miguel tentou soar casual, mas a urgência estava em sua voz.
— Fala, Miguel! O que manda? — Pedro respondeu, sempre amigável, embora cansado. O bar era movimentado àquela hora.
— Preciso de uma ajuda, cara. Você lembra de um cliente frequente aí no bar, Rafael... ele desapareceu faz umas semanas.
Houve um silêncio na linha. Pedro era desconfiado quando se tratava de informações sensíveis, especialmente envolvendo desaparecimentos.
— O que você tá querendo saber? — A voz de Pedro baixou, quase como um sussurro.
— O cara é irmão de uma amiga. Ela tá preocupada. Queria saber se alguém comentou algo sobre ele por aí, se tinha algum problema, qualquer coisa.
Pedro suspirou do outro lado da linha, e o som da música do bar preenchia o silêncio que se seguiu.
— Olha, Miguel... eu lembro do Rafael. Gente boa, sempre quieto, mas de uns tempos pra cá, ele andava esquisito, sabe? Parecia nervoso, olhando por cima do ombro. Uma vez eu ouvi ele falar no telefone sobre estar "metido em algo que não podia sair". Achei que fosse briga de trabalho ou alguma coisa assim.
— Algo em que ele não podia sair? Você acha que é sério?
— Sério o suficiente pra ele sumir do mapa. E tem mais uma coisa... ouvi uns caras comentando que ele andava com uma turma perigosa. Gente que você não quer mexer. Talvez você devesse avisar sua amiga pra deixar isso quieto.
O estômago de Miguel revirou. A intuição de Luísa estava certa; Rafael havia se envolvido em algo sombrio.
— Pedro, preciso de mais uma coisa. Me avisa se alguém por aí perguntar por ele, ou se souber de algo novo, beleza?
— Beleza. Mas toma cuidado, Miguel. Esse tipo de gente não brinca.
Ao desligar, Miguel sentiu um peso nos ombros. Se Rafael estava envolvido com criminosos, as coisas ficavam mais complicadas. Ele precisava decidir até onde iria por Luísa. A garota estava desesperada, e ele já tinha prometido ajudar, mas sabia que o caminho à frente seria perigoso.
Pouco depois, uma mensagem inesperada apareceu no seu celular. Era de um número desconhecido.
"Pare de procurar por Rafael. Isso não é da sua conta."
O coração de Miguel acelerou. Como sabiam que ele estava procurando? E quem era essa pessoa? O que exatamente Rafael havia feito?
Ele respondeu rapidamente: "Quem é você? O que quer?"
Mas não houve resposta.
Agora, as peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar de uma forma assustadora. Luísa estava certa sobre o perigo, mas ele não podia voltar atrás. Ele se levantou da varanda, determinado a conversar com ela no dia seguinte. Eles precisavam entender a gravidade da situação juntos.
Miguel não conseguiu dormir direito naquela noite. Sonhou com Rafael sendo perseguido pelas ruas do Rio, correndo por becos escuros, mas sempre desaparecendo no fim, deixando para trás apenas o eco de seus passos. Quando acordou, ainda sentia o gosto amargo da insegurança e do medo.
No dia seguinte, ele encontrou Luísa no lugar de sempre, um café na esquina de Santa Teresa. Assim que entrou, a viu sentada em uma mesa no canto, tomando um café preto e mexendo distraidamente no celular. Quando o viu, sorriu, mas o cansaço estava visível em seu rosto.
— E aí? Alguma novidade? — ela perguntou, esperançosa.
Miguel sentou-se na frente dela e suspirou.
— Sim e não. Falei com um amigo que trabalha no bar onde seu irmão foi visto pela última vez. Ele disse que Rafael andava nervoso e comentou que estava metido em algo que não podia sair.
Luísa franziu o cenho, tensa.
— Ele não me contou nada disso. Mas... faz sentido. Rafael nunca foi de esconder coisas de mim, até que ele começou a ficar mais distante. Tinha dias que eu mal conseguia falar com ele. Sempre ocupado, sempre com pressa.
Miguel continuou:
— E tem mais... recebi uma mensagem de um número desconhecido ontem à noite. Me mandaram parar de procurar por ele.
Os olhos de Luísa se arregalaram de preocupação.
— Isso significa que estamos sendo observados. — Ela olhou ao redor, como se alguém pudesse estar ali, espiando-os.
— Exatamente. Eu não sei o que o Rafael fez, mas quem quer que seja, essas pessoas não querem que a gente descubra.
Luísa ficou em silêncio por alguns instantes, processando tudo. Ela fechou os olhos e respirou fundo, como se tentasse afastar o medo.
— Miguel, acho que tem uma coisa que eu não te contei.
Ele a olhou, surpreso, e esperou.
— Antes de sumir, Rafael me ligou. Era tarde da noite, e ele parecia desesperado. Disse que "eles" estavam atrás dele e que ele precisava de tempo para resolver algo. Eu não entendi na hora, mas agora tudo faz sentido. Ele estava fugindo. — Ela hesitou antes de continuar, os olhos cheios de lágrimas. — Eu não sei o que fazer.
Miguel segurou sua mão, sentindo o peso da responsabilidade aumentar.
— Vamos encontrar ele, Luísa. Não importa o que tenha acontecido, vamos descobrir a verdade. E eu vou te proteger, não importa o que aconteça.
Ela olhou para ele, grata, mas o medo ainda estava ali, rondando seus olhos.
A partir daquele momento, Miguel sabia que estava em algo muito maior do que poderia imaginar. Mas uma coisa era certa: ele não iria desistir. A busca por Rafael havia se tornado sua própria batalha — e nada o faria parar agora.
As sombras do perigo se aproximavam, mas Miguel estava pronto para enfrentá-las.
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Garoto do Rio 1
RomanceEntre o brilho dourado das praias e o caos vibrante das ruas cariocas, o jovem Miguel leva uma vida tranquila, surfando nas ondas do Arpoador e vivendo cada dia como se fosse o último. Mas tudo muda quando ele conhece Luísa, uma garota misteriosa qu...