03.

24 5 1
                                    

A escuridão abraçava a floresta ao redor da cabana, o vento cortante balançando os galhos das árvores como sombras dançantes no breu da noite

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


A escuridão abraçava a floresta ao redor da cabana, o vento cortante balançando os galhos das árvores como sombras dançantes no breu da noite. O silêncio era interrompido apenas pelo som das minhas lagrimas, meu coração disparado como se quisesse escapar do peito.

Uma sensação de medo e tristeza tomava conta de mim conforme os dias iam se passando.
"Talvez eu nunca mais a veja" pensava comigo enquanto me encolhia sobre o colchão frio.

Nao demora muito, ouço a porta do porão se abrir, de frente a ela está ele, o causador desse meu lamento. Ele caminhava com uma calma assustadora, sua figura alta e magra se movendo com precisão. A luz, escondida parcialmente pelas frestas, iluminava seus cabelos bagunçados e os ombros curvados sob o peso de um saco preto.

— Preciso da sua ajuda, Lina. - ele disse sem tirar os olhos de mim, a voz rouca e baixa.

Em seguida me deu as costas na esperança de que eu o seguisse para fora do porão.

Eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Minha mente girava em busca de uma saída, mas ali, no meio daquele lugar deserto, tudo parecia irreal, como um pesadelo do qual eu não conseguia acordar.

— O que... o que tem aí?- Minha voz saiu fraca, quase um sussurro, enquanto observava o saco balançando nos braços dele.

Ele parou por um momento, virando a cabeça para me olhar com um sorriso fino que nunca chegava aos olhos. Um sorriso que eu aprendi a temer desde o primeiro encontro.

— Não se preocupe com os detalhes. Você só precisa me ajudar a se livrar disso.

Eu tremi ao perceber que ele não me mataria... ainda. Ele precisava de mim. Mas por quanto tempo? Eu tentei controlar o pânico que ameaçava explodir dentro de mim, tentando parecer cooperativa, esperando, talvez, por uma oportunidade de fuga.

Trêmula comecei a segui-lo até sair do porão, do lado de fora se via nitidamente que ele não tinha higiene alguma com o local onde morava, tudo estava uma bagunça, cheio de poeira e teias de aranha.
Uma verdadeira cena de filme de terror exceto pelo sofá que estava limpo e ficava de frente para uma televisão velha mas que ainda funcionava.

— Pare de reparar tanto e venha logo para cá. - Ordena encostado na porta da frente.

— Como... como você quer que eu ajude?- Eu forçei as palavras, cada uma saindo com dificuldade. Minhas mãos estavam suadas, e eu mal conseguia manter a voz firme.

Ele riu suavemente, inclinando a cabeça para o lado, um gesto quase infantil que contrastava com o horror da situação.

— Você pega o outro saco. Tem mais no carro. Vamos... quanto mais cedo terminarmos, melhor para você. Não acha?

Eu olhei para o carro estacionado ao longe, o porta-malas aberto revelando mais dois sacos pretos, do mesmo tamanho do que ele carregava. Meu estômago revirou ao pensar no que poderia estar ali dentro. Eu Sabia, no fundo, o que eram, mesmo sem ver.

Sem opções, eu caminhei até o porta-malas, o peso de cada passo quase insuportável. Estendi as mãos trêmulas e agarrei o saco, notando imediatamente o peso e a forma irregular de seu conteúdo. Eu tive que segurar a respiração para não vomitar.

— Isso. - ele incentivou. - Agora vamos. O lago está logo ali.

Eu o seguia, sentindo o chão irregular e escorregadio sob meus pés, cada movimento parecendo uma eternidade. Assim que chegamos à margem, ele largou o saco com um baque surdo, me olhando novamente, dessa vez com um brilho perigoso nos olhos.

— Agora, Lina... jogue.

Eu olhei para a água, depois para o saco em minhas mãos. Sabia que, uma vez que fizesse o que ele pedia, seria cúmplice de algo terrível, parte de uma loucura da qual talvez nunca escapasse. Mas também eu sabia que, se não jogasse, eu poderia ser o próximo saco preto a ser arrastado até ali.

Com um último olhar para ele, eu usei toda a força que tinha e joguei o saco na água. O som abafado ao tocar a superfície foi seguido por uma onda leve que se espalhou pelas águas tranquilas do lago.

Ele me observou com um sorriso satisfeito.

— Muito bem, Lina. Muito bem.

Eu não disse nada, o terror em meus olhos dizendo tudo. O ar ao redor parecia mais pesado, o silêncio, ainda mais denso.

Por alguns instantes ele não disse nada, apenas me olhava com um olhar curioso.

— Acha que eles sentem dor?. Diz apontando para o lago.

— Não acho.

— Por que?. Pergunta com ar de criança curiosa.

— Estão mortos. ‐ respondo tentando conter as lágrimas.

— Pra onde você acha que eles vão após a morte?

— Eu não sei.

— Acha que eles sentiram dor enquanto estavam morrendo?

— Não sei...talvez.

Ele começa a se aproximar.

— Bom...vamos descobrir.

Rapidamente ele me pega pelo pescoço e me joga dentro da água logo em seguida se abaixando e mantendo meu corpo embaixo da água sem me deixar respirar.
Eu me debato várias vezes e quando estou prestes a perder a consciência ele me puxa para cima.

— Sentiu dor?

Ele sorri, um sorriso irônico.

— Por que fez isso?. Questiono em meio às lágrimas.

— Elas ficam gritando.

— Elas?

— Elas. - Aponta para a própria cabeça.

GO TO SLEEP (VA DORMIR)Onde histórias criam vida. Descubra agora