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A escuridão da cabana era densa, o cheiro de mofo impregnava o ar, fazendo cada respiração ser um esforço

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A escuridão da cabana era densa, o cheiro de mofo impregnava o ar, fazendo cada respiração ser um esforço. Jeff estava la fora, estava fumando como de costume. Hoje ele estava tranquilo, ate me arrisco a dizer que hoje ele se parecia com uma criança confusa, perdida em seu próprio mundo. Meus olhos percorriam freneticamente o lugar, cada canto, cada sombra. Havia algo aqui, uma pista, uma resposta para todo o horror pelo qual eu estava passando. Eu sabia que ele guardava segredos, mas jamais imaginaria que o mais sombrio deles estaria tão perto.

Andando pelo seu quarto eu acabei que tropeçando em algo duro, quase caindo. O coração acelerado, eu me abaixei e vi uma velha caixa de madeira parcialmente escondida sob um tecido empoeirado. Meus dedos hesitaram por um segundo antes de pegá-la. Algo naquela caixa parecia diferente. Eu sabia que não era uma pista qualquer, mas talvez algo mais profundo, mais pessoal.

Com as mãos trêmulas, abri o fecho enferrujado. Dentro, havia um emaranhado de fotos, cartas amareladas e objetos que pareciam pertencer a uma vida há muito esquecida. Ao pegar a primeira foto, eu senti um frio percorrer minha espinha.

Era ele. Mais jovem, talvez adolescente, com um olhar perdido e uma expressão melancólica. Ao lado dele, uma mulher, provavelmente sua mãe. O sorriso dela era terno, mas os olhos, como os dele, guardavam uma tristeza profunda. A foto estava marcada com o ano: 2000

Eu vasculhei mais fundo e encontrei uma série de cartas. Eu mal conseguia ler o texto desbotado, mas o que consegui decifrar foi suficiente para apertar meu coração.

"Querido jeff, sei que é difícil entender o que estamos passando, mas eu sempre estarei com você. Seu pai... ele não era um homem fácil, mas eu preciso que você acredite que, de alguma forma, ele nos amava. Eu sinto muito por não poder protegê-lo, sinto muito por não fazer mais parte dos seus aniversários, sinto muito por não estar aqui para enchugar a sua lágrima quando você chorar pelo primeiro amor, sinto muito por não ter lhe ensinado sobre o amor, sinto muito por ter lhe deixado tão jovem, tão cheio de vida, quando tudo o que você mais queria era minha presença..."

As palavras se desfaziam em manchas de tinta, borradas por lágrimas antigas, talvez. Eu senti um nó se formar em minha garganta. Por trás daquela monstruosidade, daquele assassino, havia uma criança quebrada. Uma vítima.

No fundo da caixa, havia algo que eu não esperava: um pequeno bracelete de prata, com uma inscrição: "Jeff, para sempre meu." O nome Jeff ecoou em minha mente, como se o quebra-cabeça finalmente estivesse se encaixando. O serial killer, o homem que me caçava, que destruía vidas, uma vez foi amado. Mas algo havia mudado, algo terrível havia acontecido com ele.

Eu encontrei mais fotos. Em uma delas, ele estava em um hospital, os braços envoltos em ataduras. A legenda no verso dizia: "O dia em que o perdi completamente". A última imagem era dele, mais velho, com os olhos vazios. Ao fundo, o hospital psiquiátrico era visível, um lugar onde sua mente, talvez, tenha se despedaçado para sempre.

Eu senti uma dor no peito ao perceber que por trás de toda aquela crueldade havia uma história de sofrimento. Não justificava o que ele havia feito, mas explicava parte da escuridão que agora o consumia. Ele não nasceu um monstro, o mundo o criou. E agora, essa escuridão ameaçava me engolir  também.

De repente, um rangido ecoou pelo chãode baixo. Eu congelei. Eu sabia que não estava mais sozinha.

O som de passos pesados se aproximava.

Ele estava ali.

GO TO SLEEP (VA DORMIR)Onde histórias criam vida. Descubra agora