Jantar quase que perfeito

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         Aliviada, Marília seguiu para a sala de jantar. Ao menos sentados na mesa a chance de uma catástrofe era menor.

      Como sempre, seus pais se sentaram nas cabeceiras da mesa. Marília e Henrique se sentaram lado a lado, com João a frente deles.

        Marília olhou ao redor. Tinha como eles parecerem mais Com aquelas famílias classe média que aparecem em filmes da sessão da tarde? Só faltava um cachorro bagunceiro
agora.

     A mesa estava extremamente farta e logo todos começaram a se servir. Marília pegou uma jarra de suco de laranja e serviu seu copo e o de Henrique.

     - Obrigado - ele Sussurrou.

      Marília, como resposta, apenas curvou os lábios em um mínimo Sorriso.
 
      - Então, Henrique - começou Mauro chamando a atenção de todos - Em que você trabalha ?

     Estava demorando, pensou Marília. A próxima pergunta provavelmente seria: quais são suas intenções com a minha filha? Ah não, isso seria demais!

    - Eu sou presidente de uma empresa - respondeu Henrique confiante.

     Marília suprimiu a risada com uma tosse. A fala de Henrique havia deixado o queixo de seu pai no chão.

     - E essa empresa está dando certo? - indagou Mauro.

     - Acho que pode se dizer que sim -respondeu
Henrique com um sorriso contido.

      - Querido - chamou Ruth - A empresa dele é uma das maiores da cidade. - Eu te mostrei a matéria você não se lembra?

     Mauro permaneceu quieto por alguns segundos. Provavelmente assimilando a informação.

    - Você me mostra tanta coisa - reclamou o homem - Como é que eu vou me lembrar de tudo?

      João soltou uma risada indiscriminada, recebendo como resposta um olhar carrancudo do pai. Não que a garoto não estivesse acostumado, pensou Marília. Viver naquela casa
significava ter que conviver diariamente com a rigidez do pai.

    - E você, Mauro - começou Henrique - Marília nunca me falou o que Você faz.

      Marília suprimiu um gemido. Ai iam eles rumo a mais um discurso interminável.

   - Eu servi ao exército - respondeu Mauro.

   - Sério? - indagou Henrique parecendo genuinamente interessado - E você se alistou espontaneamente ?

    Mauro acenou.

     - Nada dignifica mais um homem do que servir ao próprio país, meu rapaz - em seguida ele resmungou - Não que os homens de hoje em dia saibam o que é isso, afinal.

    - Pai - chamou Marília com um tom sério. Ela já sabia qual rumo essa conversa tomaria.

    - E eu não estou certo? - Marília levantou os braços em um gesto de frustração - Olha aquele seu amigo, por exemplo.

      Marília balançou a cabeça. Ela se sentia tão hipócrita às vezes. Ela criticava veementemente a homofobia quando tinha uma claro exemplo disso dentro de casa.

   - O Bahia ? - perguntou Henrique visivelmente
confuso.

     Marília acenou.

    - Você conhece ele... esse Bahia ?

    Era incrível o que o preconceito fazia com as pessoas. Mauro mal conseguia falar o nome de Bahia sem que isso Soasse como um palavrão.

    - Sim - respondeu Henrique - Eu o considero um cara bem legal.

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