Capítulo 4 - O Jogo de Lara

21 2 0
                                    


Helena não sabia mais onde o fio da razão havia se rompido. O que começou como uma tentativa desesperada de salvar seu casamento agora parecia um jogo psicológico entre ela e Lara. A cada encontro, as provocações de Lara se tornavam mais afiadas, enquanto os sentimentos de Helena se misturavam entre raiva, desejo e ciúme. A presença de Lara a desarmava de maneiras que ela nunca poderia ter previsto, fazendo-a questionar suas próprias motivações e sentimentos.

Sentada à frente de Lara, no café onde se tornaram frequentadoras regulares, Helena tentava encontrar um ponto de equilíbrio. O aroma do café fresco e o som suave da música ao fundo criavam um ambiente acolhedor, mas, em contraste, a tensão entre elas pulsava como um eletrocardiograma instável. Helena observava as mãos de Lara enquanto ela mexia na xícara, os dedos delicados brincando com a borda. Cada movimento parecia calculado, uma dança sutil que deixava Helena mais intrigada e confusa.

Ela ainda se perguntava o que havia se tornado de sua vida. Em um momento, estava determinada a reconquistar Marcos, e no outro, se via mergulhando em um jogo que a desafiava a cada instante. O que deveria ser uma conversa simples sobre seu marido tornava-se um labirinto emocional, onde cada esquina revelava um novo dilema.

– Você está começando a entender, não está? – Lara murmurou, os lábios curvados em um sorriso provocador. O olhar dela era penetrante, como se estivesse tentando enxergar além da superfície de Helena, e isso a deixava vulnerável. Helena sentia que Lara não estava apenas falando sobre Marcos; era uma provocação mais profunda, que mexia com a essência dela.

Helena franziu o cenho, a incredulidade misturando-se com a irritação. Era surreal estar recebendo dicas da amante de seu marido. Mas, ao mesmo tempo, não podia negar que Lara estava certa. Desde que começara a colocar algumas das sugestões em prática, Marcos havia mudado. Ele voltara a ficar mais próximo, mais atento. O desejo que ele demonstrava crescia, e Helena sabia que parte disso era graças à influência de Lara. Mas isso a incomodava.

– Então eu deveria o quê? Fingir que não me importo com a traição? – Helena respondeu com um tom sarcástico, ainda lutando contra o desconforto de seguir os conselhos de Lara. A ideia de agir como se nada estivesse acontecendo a deixava nervosa. Ela desejava ser forte, mas a verdade é que a fragilidade estava sempre à espreita.

Lara riu, um som leve, quase melódico, que parecia cutucar Helena ainda mais profundamente. O riso dela era um lembrete constante de que, mesmo sendo a amante, ela também tinha poder.

– Não, você precisa ser imprevisível, querida. Mostre que ele não pode te ter por completo, que ele precisa trabalhar por isso. Homens gostam de desafios, e você deixou as coisas fáceis por muito tempo.

As palavras de Lara eram como uma armadilha, uma isca que Helena sentia que deveria evitar, mas que, ao mesmo tempo, a atraía. Helena começou a refletir sobre seu relacionamento com Marcos. As noites tranquilas em que ela se moldou a cada capricho dele, sempre disposta a agradá-lo, agora pareciam um desperdício. O que ela tinha construído se sentia como uma prisão. A ideia de mudar tudo, de deixar de ser a esposa complacente, a intrigava e a apavorava ao mesmo tempo.

Ela se recostou na cadeira, cruzando os braços como um escudo. Uma parte dela queria gritar, revidar as provocações de Lara, mas outra parte estava fascinada.

– E o que mais você sugere? – perguntou, quase desafiando Lara a continuar. A própria Helena mal reconhecia a coragem que estava começando a brotar dentro dela.

Lara inclinou-se para frente, seus olhos escuros fixando-se nos de Helena, intensificando a atmosfera ao redor delas. O silêncio se estendeu por um breve momento, onde o mundo ao redor parecia desaparecer, e tudo o que restava eram elas duas, enredadas em suas emoções conflitantes.

– Jogue com o que ele deseja, mas sem ceder completamente. Faça-o te querer mais, mas nunca dê tudo. Ele precisa sentir que pode te perder a qualquer momento. – A voz de Lara era um sussurro carregado de ousadia, e Helena, mesmo relutante, começou a se perguntar se seria capaz de seguir esse conselho até o fim. No entanto, havia algo mais ali, um subtexto que a fazia hesitar. A própria Lara estava começando a ser afetada por aquela estranha dinâmica entre elas.

Enquanto observava Lara falar, Helena percebeu um brilho de emoção em seus olhos. Era como se Lara estivesse se entregando ao próprio jogo, mesmo sabendo que as regras eram perigosas. A tensão entre elas era palpável, e Helena se sentia presa em um dilema. Ela queria detestar Lara, a mulher que estava ocupando o lugar que deveria ser dela, mas, ao mesmo tempo, não conseguia negar a atração que sentia.

Helena desviou o olhar, tentando processar tudo aquilo. As provocações de Lara a deixavam irritada, mas ao mesmo tempo a faziam sentir algo que não conseguia compreender completamente. Ela se perguntou se essa sensação poderia ser uma faísca de atração, algo que ela não queria reconhecer, especialmente por ser a esposa traída. A ideia de ser atraída por Lara a apavorava, mas era inegável.

Aquele jogo estava se tornando mais complexo. A luta por Marcos agora incluía uma luta interna entre o que era certo e o que seu coração parecia querer. E, à medida que as provocações de Lara se tornavam mais frequentes, Helena percebeu que a linha entre desejo e repulsa estava se tornando cada vez mais borrada.

O dia se arrastava, e o café começava a se esvaziar ao redor delas, mas a conversa entre as duas permanecia como um feitiço. Lara, sempre tão confiante, parecia perceber a confusão de Helena e aproveitava cada momento. Enquanto Helena lutava contra a revolta e a confusão, a imagem de Lara, provocante e desafiadora, era uma presença constante em sua mente.

As duas mulheres estavam presas em uma rede de emoções, e Helena sabia que, a cada encontro, a verdade sobre seus sentimentos se tornava mais difícil de ignorar. O jogo estava apenas começando, e as regras estavam mudando a cada segundo.






                                                                        Comentário do Autor

Espero que tenham gostado deste capítulo! Como é minha primeira história, sei que posso cometer erros. Se encontrarem algum, por favor, me digam! Quero aprender e melhorar para vocês. Sua opinião é ouro! Obrigada por lerem e se divertirem com Helena e Lara!

A AMANTE (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora