Capítulo 10 - O Jogo do Silêncio

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O silêncio entre Helena e Lara se tornava cada dia mais insuportável. O vazio deixado pelas mensagens não respondidas parecia crescer em torno de Helena como um manto sufocante. Desde o beijo no banheiro do restaurante, ela não tinha conseguido encarar Lara de novo. O peso da culpa e da confusão a corroía por dentro, mas o desejo que sentia pela amante do marido era um sussurro constante, uma sombra que a perseguia aonde quer que fosse.

Naquela manhã, Helena acordou mais cedo do que o habitual. O céu estava nublado, o clima combinava com seu estado emocional. Marcos ainda dormia ao seu lado, seu corpo confortável e alheio a toda a tempestade que assolava a mente da esposa. Helena levantou-se silenciosamente, vestiu um roupão e foi para a cozinha, buscando refúgio no ritual de preparar café. O cheiro forte e amargo preenchia o ar, mas não fazia nada para aliviar a sensação de que algo estava se desfazendo dentro dela.

Ela olhou para o celular. Nenhuma mensagem de Lara naquela manhã. Uma mistura de alívio e decepção tomou conta dela. Era isso o que ela queria, não era? Se afastar, se esquecer, enterrar aquela situação insana antes que destruísse seu casamento de vez. Mas, ao mesmo tempo, o silêncio de Lara a corroía. Nos últimos dias, Helena se acostumara a ver as mensagens provocativas de Lara, seu tom desafiador e suas brincadeiras disfarçadas de sarcasmo. Agora, sem essas palavras na tela, havia um vazio desconfortável.

Ela sabia que não conseguiria manter isso por muito mais tempo. Lara não era o tipo de mulher que se deixava ignorar. Havia algo em seu jeito, na confiança que exalava, que não deixava espaço para a indiferença. Helena tentava se convencer de que o beijo fora um erro, um deslize que deveria ser esquecido, mas cada vez que fechava os olhos, a cena se repetia. O calor do corpo de Lara, a sensação das mãos firmes puxando-a para perto, o gosto agridoce de vinho nos lábios dela. Helena estremeceu.

De repente, o toque insistente da campainha a trouxe de volta para o presente. Ela congelou por um momento, uma sensação de déjà vu tomando conta de si. Ao olhar pelo olho mágico da porta, seu coração disparou. Lara estava ali, do lado de fora. O cabelo solto, os lábios pintados com um batom vermelho provocante, e um sorriso discreto que indicava que aquela visita não era por acaso.

Helena hesitou, o pânico a dominando. Ela não podia falar com Lara ali, na porta de sua casa, onde Marcos podia acordar a qualquer momento. Mas antes que pudesse pensar em uma desculpa, o toque da campainha soou novamente, mais insistente dessa vez. Helena abriu a porta de supetão, com o coração acelerado e a voz presa na garganta.

— O que você está fazendo aqui? — sussurrou Helena, tentando parecer firme, mas a incerteza transparecendo.

Lara deu um passo à frente, invadindo o espaço pessoal de Helena com a mesma facilidade com que invadia sua mente.

— Você está me evitando — disse Lara, o tom de voz baixo, mas carregado de algo que soava como uma mistura de provocação e frustração. — Não sou do tipo que gosta de ser ignorada, Helena.

O nome de Helena saiu da boca de Lara de uma maneira que a fez estremecer. Havia um peso em suas palavras, um subtexto que Helena não sabia como lidar. Ela olhou nervosamente para dentro da casa, certificando-se de que Marcos ainda não tinha acordado.

— Agora não é uma boa hora — respondeu Helena, tentando parecer controlada, mas sua voz traía o nervosismo.

Lara sorriu de canto, inclinando a cabeça de forma sedutora.

— Quando seria uma boa hora? Quando você finalmente parar de fingir que isso entre nós não aconteceu?

A tensão no ar era palpável. Lara não recuava, não cedia, como se estivesse decidida a forçar Helena a confrontar algo que ela não estava pronta para encarar. O coração de Helena batia descompassado, e a cada segundo que passava ao lado de Lara, o controle que ela acreditava ter estava escapando por entre seus dedos.

— Eu... eu não sei do que você está falando — Helena tentou desviar o olhar, mas Lara segurou seu braço suavemente, forçando-a a encará-la.

— Sabe sim. Você não para de pensar no beijo, não é? — Lara sussurrou, sua voz como um veneno doce que escorria pelas veias de Helena.

Helena abriu a boca para protestar, mas as palavras não vieram. Lara estava certa. Desde aquele momento no restaurante, ela não conseguia pensar em mais nada. Tentava focar em Marcos, em salvar seu casamento, mas era como se Lara tivesse se infiltrado em cada pensamento seu, minando qualquer tentativa de normalidade.

Lara deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre elas. Seus rostos estavam a centímetros de distância, e Helena sentiu a tensão crescer, uma corrente invisível que a puxava para perto. O desejo estava lá, palpável, mas o medo também. O medo de perder o controle, de se render ao que estava sentindo. O medo de cruzar uma linha da qual não poderia mais voltar.

— Helena, olha pra mim — Lara exigiu suavemente, sua voz suave, mas firme.

Helena levantou os olhos, encontrando o olhar intenso de Lara. Era como se todo o ambiente ao redor tivesse desaparecido, restando apenas as duas, envoltas em um silêncio sufocante. O corpo de Helena gritava por algo que sua mente ainda negava. A respiração pesada, o coração acelerado, o calor que subia por sua pele – tudo indicava que ela estava prestes a se render.

Lara sorriu, um sorriso de vitória, mas também de compreensão. Ela sabia que tinha ganho, mas ainda assim, não forçaria mais do que Helena estava pronta para dar naquele momento.

— Você pode continuar fugindo, Helena. Mas nós duas sabemos que isso não vai resolver nada.

Com essas palavras, Lara soltou o braço de Helena e recuou, movendo-se graciosamente em direção à porta. O jogo estava apenas começando. Antes de desaparecer, ela se virou, aproximando-se rapidamente de Helena, seus olhos brilhando com provocação.

— Quando você estiver pronta, sabe onde me encontrar — sussurrou Lara, sua voz sedutora pairando no ar.

Em um gesto ousado, Lara roubou um selinho rápido nos lábios de Helena, acompanhado de um sorriso safado que deixou sua promessa pairando no ar. E, com isso, desapareceu, deixando Helena atordoada e ansiosa

A porta se fechou lentamente, e o silêncio tomou conta da casa. Helena ficou ali, imóvel, com o corpo ainda tremendo pela tensão que dominava o ambiente. O que ela sentia por Lara era perigoso, incontrolável, e cada vez mais impossível de ignorar.

A AMANTE (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora