Delency é enviada a um colégio interno por ser rotulada como "mentirosa" e logo se torna o alvo da obsessão de Jason Moretti, o filho da diretora, cuja intensidade e charme a puxam para um turbilhão de emoções e conflitos que ameaçam sua liberdade.
...
Eu fiquei ali, parada, vendo Jason se afastar com aquelas palavras ainda ecoando na minha cabeça. Testarda? Quem ele pensa que é pra me chamar disso? O que É isso? Mas o que mais me incomodava não era a palavra em si, e sim o fato de ele achar que eu precisava das pessoas. Que eu precisava dele. Que eu precisava de alguém.
Olhei ao redor, tentando controlar a raiva que subia pelo meu peito como uma onda. A floresta estava silenciosa, mas minha mente parecia um furacão. Cada palavra que ele disse estava impregnada na minha cabeça.
“Você vai acabar assim pra sempre,”
ele disse, como se soubesse tudo sobre mim, como se tivesse o direito de julgar a minha vida.
Eu não preciso de ninguém. Esse pensamento se repetia, mas de alguma forma não trazia o alívio que eu esperava. O que ele queria dizer com aquilo? Que eu ia acabar sozinha? E por que ele se importa? Ninguém nunca se importou.
As palavras dele pesavam mais do que eu queria admitir. Talvez porque, no fundo, eu soubesse que ele não estava completamente errado. Desde que eu cheguei aqui, a única coisa que eu fiz foi afastar as pessoas. Mas o que mais eu podia fazer? Elas falam de mim pelas costas, me julgam antes mesmo de me conhecer. Eu não vou facilitar para elas. São todas cruéis.
Eu ainda estava absorvendo tudo enquanto voltava para a escola, quando ouvi passos rápidos ecoando pelo corredor. Antes que eu pudesse reagir, Adelina e Nathalia apareceram correndo na minha direção, ofegantes e com os rostos preocupados.
— Delency! — Adelina disse, se aproximando, os olhos grandes cheios de preocupação. — A gente tava te procurando! Você tá bem?
Dei de ombros, tentando manter minha fachada indiferente, mas a verdade é que uma parte de mim estava aliviada por vê-las. Eu não ia admitir isso, nem sob tortura.
— Desculpa, de verdade — Nathalia começou, a voz carregada de culpa. — Aquela... Megan. Ela não devia ter falado daquele jeito com você. Ela é sempre assim, mas a gente não queria que isso acontecesse.
Ela passou a mão pelos cabelos, claramente frustrada com a situação. Eu queria soltar um comentário sarcástico, algo que mostrasse que eu não me importava com o que Megan ou qualquer outra pessoa dizia. Mas, em vez disso, só murmurei:
— Não precisam se desculpar por ela.
Adelina sorriu de leve, aliviada por eu não estar explodindo de raiva.
— A gente tava pensando... você não deveria ficar sozinha agora. Na verdade, a gente queria te convidar pra sair com a gente.
Eu levantei uma sobrancelha, surpresa.
— Sair?
Nathalia deu um passo à frente, um sorriso travesso iluminando seu rosto.
— Sim, sair. Tipo, hoje à noite. A gente vai para uma boate fora da escola. Vai ser divertido! E é exatamente o que você precisa depois de tudo isso.
Cruzei os braços, hesitante.
— Eu? Numa boate? Vocês acham mesmo que eu quero fazer isso?
Adelina riu suavemente.
— Acho que você precisa. Vai ser bom pra tirar a cabeça dessas coisas. E, quem sabe, te ajudar a esquecer essa história toda com Megan e os seguidores dela. Só... se divertir, sabe?
Eu as olhei de cima a baixo. Era evidente que elas estavam tentando fazer com que eu me sentisse incluída. Normalmente, eu rejeitaria sem pensar duas vezes, mas depois de tudo o que aconteceu... talvez eu realmente precisasse de uma distração. E, para ser honesta, a ideia de ver Megan e os outros me julgando enquanto eu estava ali sozinha era insuportável.
— Tá bom — disse, com um suspiro. — Eu vou.
Nathalia soltou um gritinho de comemoração, e Adelina deu um passo à frente para me abraçar, mas parou no meio do caminho, incerta.
— Desculpa, força do hábito — disse, rindo nervosa.
Eu não pude evitar um pequeno sorriso.
— Tá, mas só dessa vez.
Adelina e Nathalia começaram a falar sobre os preparativos, rindo e se empolgando sobre o que iam vestir, e, pela primeira vez desde que cheguei naquele inferno de escola, eu senti que talvez, só talvez, as coisas poderiam ser diferentes.
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