Vocês Não Podem Ir Embora

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Na hora do almoço, Richard e Leo entraram pela porta da frente, e o contraste entre os dois era evidente. Leo estava alegre, contando sobre a escola e o que havia feito com os amigos, enquanto Richard tinha um semblante sério, claramente absorvido pelos acontecimentos do dia. Leandra estava na cozinha, finalizando o almoço com movimentos mecânicos, como se sua mente estivesse em outro lugar. O aroma da comida preenchia a casa, mas o ambiente estava carregado de tensão.

Na mesa, todos se sentaram. Leo era o único a conversar animadamente, e a sua energia destoava completamente do ar pesado que pairava sobre a família. Ele pegou o garfo e começou a comer, falando sobre os jogos que tinha jogado com seus amigos. Liz, por outro lado, estava mais quieta do que o habitual, suas emoções presas em seu peito. Ela olhou para a mãe com olhos inquisitivos.

— Clarisse respondeu? — perguntou Liz, com um tom mais direto do que pretendia.

Antes que Leandra pudesse responder, Richard, que estava cortando o pedaço de carne em seu prato, ergueu a voz.

— Isso não é assunto para a mesa — disse ele, um pouco mais nervoso do que o esperado, sem levantar os olhos.

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Leandra desviou o olhar, sem saber ao certo o que dizer. Liz notou o desconforto, mas decidiu não insistir, embora suas mãos estivessem inquietas, apertando o guardanapo no colo. Leo, alheio à tensão, continuava comendo despreocupado.

— Pai, mas é importante, a gente não pode... — começou Liz, tentando se manter firme.

Richard cortou sua fala com um olhar severo. — Eu disse, Liz. Esse assunto fica para depois.

O ambiente ficou ainda mais denso, e Leandra trocou um olhar rápido com Liz, como se dissesse "Depois a gente fala sobre isso". Liz apenas assentiu, sentindo a frustração crescer, mas sem vontade de causar mais atrito naquele momento.

O almoço seguiu em silêncio, cada garfada era como um relógio que marcava os segundos de uma conversa que todos sabiam que estava por vir, mas que, por ora, precisava esperar.

Clarisse chegou à casa com uma expressão preocupada, seus olhos transmitiam uma mistura de ansiedade e cansaço. Assim que Leandra abriu a porta, Clarisse entrou rapidamente, perguntando:

— O que foi que aconteceu? Você parecia aflita na mensagem.

Leandra lançou um rápido olhar para Richard, que estava sentado na sala, as mãos entrelaçadas e o semblante sombrio. Clarisse notou o clima estranho, mas ainda não sabia que Liz havia descoberto sobre as mortes da família que morava na casa.

Richard levantou-se e, ao ver Liz parada perto da mesa, cruzou os braços e disse, de forma firme:

— Liz, leva o Leo até a sorveteria aqui perto. Precisamos conversar com Clarisse a sós.

Liz franziu a testa, claramente relutante. Ela era a que tinha descoberto tudo, e agora a estavam mandando sair da conversa mais importante até então. Sentiu um nó de frustração se formando em sua garganta.

— Mas eu que descobri! — Liz protestou, quase sem acreditar que estava sendo excluída.

Richard, com os nervos à flor da pele, tentou manter a calma, mas sua voz saiu mais cortante do que ele pretendia.

— Liz, eu já falei! Vai com o Leo agora. A gente precisa resolver isso entre adultos.

Liz ainda hesitou, encarando Richard com olhar desafiador, mas a expressão rígida dele não cedeu. Leandra olhou para a filha como se dissesse que era o melhor a fazer por enquanto, mas Liz mal conseguia esconder a frustração.

Leo, alheio ao que se passava, já estava animado com a ideia do sorvete. Ele correu até Liz, puxando sua mão.

— Vamos, Liz! Quero aquele sorvete de chocolate — disse Leo com um sorriso inocente.

Resignada, Liz respirou fundo e olhou para Richard uma última vez antes de concordar.

— Tudo bem — respondeu secamente, enquanto pegava sua mochila. — A gente já volta.

Com Leo pela mão, ela saiu pela porta, ainda sentindo a raiva e a impotência borbulharem por dentro. Sabia que algo importante ia ser discutido, e ser deixada de fora apenas aumentava sua frustração. Ao saírem, a porta se fechou, deixando o ambiente pesado para a conversa que viria a seguir.

Leandra respirou fundo, pegando o jornal com as mãos trêmulas antes de estendê-lo para Clarisse. Seu olhar estava fixo no rosto da irmã buscando alguma explicação.

— Clarisse... você vai ter que me explicar isso — disse, sua voz baixa, mas carregada de tensão.

Clarisse pegou o jornal, observando a manchete que falava sobre o assassinato da família que morava na casa onde agora Richard, Leandra, Liz e Leo viviam. Seu rosto empalideceu, e suas mãos começaram a tremer. Ela ergueu o olhar, trocando um breve e nervoso olhar com Richard. Leandra notou essa troca de olhares imediatamente.

— Espera... — Leandra deu um passo para trás, sentindo o coração acelerar. — Richard, você sabia disso? — A pergunta foi rápida e afiada, sua voz começando a ganhar um tom de desespero.

Richard ficou em silêncio, claramente desconfortável. Ele abriu a boca para falar, mas antes que pudesse responder, Clarisse se apressou em intervir.

— Não! Richard não sabia de nada, Leandra! — Clarisse exclamou, a voz desesperada. — Eu... eu só não queria que vocês soubessem dessa forma. Não queria que houvesse uma briga entre vocês por causa disso.

Leandra lançou um olhar incrédulo para Clarisse, seu rosto vermelho de raiva.

— Você está brincando comigo, Clarisse? — Leandra disse, a voz falhando entre a frustração e o desgosto. — Você sabia! Você nos colocou naquela casa sabendo de tudo isso, e simplesmente achou que poderíamos viver aqui como se nada tivesse acontecido?

Clarisse balançou a cabeça, tentando encontrar as palavras certas.

— Não era para vocês saberem assim. Eu ia contar... em algum momento — respondeu, sua voz fraca. — Mas eu achei que vocês estariam seguros...

Leandra a interrompeu, sua paciência finalmente chegando ao limite.

— Seguros? Você está falando sério? — Leandra deu uma risada amarga, sua mente girando com a indignação. — Clarisse, isso foi longe demais. Eu não vou ficar mais um minuto nesta casa. Ou você arranja outro lugar para a gente ficar, ou nós vamos embora desta cidade. Não vamos viver no meio desse... desse horror!

Clarisse respirou fundo, lutando para manter a compostura.

— Leandra, vocês não podem ir embora — disse, sua voz de repente mais firme, o que fez Richard e Leandra trocarem olhares intrigados.

Leandra, já no limite, cruzou os braços e encarou Clarisse com raiva e desconfiança.

— E por que não? — perguntou Leandra, sentindo o peso das palavras de Clarisse, como se houvesse algo mais escondido do que ela estava revelando.

Richard, até então em silêncio, observou a cena atentamente. Algo sobre aquela resposta de Clarisse não parecia certo, e ele sabia que, seja lá o que fosse, estava prestes a piorar.

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⏰ Última atualização: 3 days ago ⏰

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