Capítulo 3

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O tempo passava, e entre cafés, caminhadas à beira do rio e conversas sobre livros e desporto, Tomás e Afonso começaram a encontrar o seu ritmo. O que no início parecia ser uma ligação improvável rapidamente se transformou numa cumplicidade inegável. Onde antes existia timidez e incerteza, agora havia conforto e uma sensação crescente de que estavam exatamente onde deviam estar.

Uma tarde, depois de mais um passeio, Afonso e Tomás decidiram ir até ao apartamento de Tomás. Era pequeno e acolhedor, cheio de livros empilhados em cada canto, com estantes que pareciam quase a ceder de tanto peso. Afonso olhou à sua volta com um sorriso encantado.

- Isto é tão... tu! - Comentou ele, pegando num livro antigo de capa gasta.

Tomás riu, observando-o com carinho. 

- É. Não consigo deitar fora nenhum livro, mesmo os que já li várias vezes. Cada um tem uma história dentro e fora das páginas.

- Como nós! - Afonso acrescentou, abrindo o livro nas mãos e lendo uma passagem aleatória. Ele não era o leitor mais ávido, mas adorava ouvir Tomás falar sobre as suas leituras, e começava a perceber que os livros tinham um poder especial, especialmente quando lidos ao lado de alguém que os via com tanta paixão.

Enquanto Afonso folheava o livro, Tomás sentou-se no sofá, sentindo-se confortável na presença do outro. 

- Sabes, há algo que nunca te disse. - Começou ele, hesitante. Afonso olhou para ele, fechando o livro e sentando-se ao seu lado.

- O que é? - Perguntou, com um ar intrigado.

- Quando entraste pela primeira vez na livraria, pensei que tinhas entrado no sítio errado. - Confessou Tomás com um sorriso. - Não fazias o típico perfil de quem frequentava o espaço. Mas ao mesmo tempo, havia algo em ti... uma energia, uma curiosidade que me deixou intrigado.

Afonso sorriu, deslizando uma mão pelo ombro de Tomás. 

- Bem, no início, eu também estava um pouco perdido. Mas depois vi-te e... acho que tudo fez sentido. Mesmo que fosse só para te ver falar sobre livros, valia a pena.

Tomás sentiu o coração apertar de emoção. Aquela honestidade crua, a forma como Afonso falava de forma tão direta, deixava-o sempre surpreendido. Eles vinham de mundos tão diferentes, mas a conexão que tinham estava a florescer de uma forma que nenhum deles poderia ter previsto.

Sem pensar muito, Tomás puxou suavemente Afonso para mais perto, e os seus lábios encontraram-se pela primeira vez. Foi um beijo suave, mas cheio de sentimento, como se tudo o que estava por dizer fosse transmitido naquele momento. Quando se afastaram, ambos ficaram em silêncio por alguns segundos, apenas olhando um para o outro, sorrindo.

- Bem, isto foi... inesperado! - Disse Afonso com um sorriso malandro.

Tomás riu-se, corando ligeiramente. 

- Sim, mas acho que já estava na hora, não?

Afonso assentiu, ainda com a mão na cintura de Tomás. 

- E sabes que mais? Eu acho que este é apenas o início.

Os dias que se seguiram trouxeram mais momentos como aquele. Afonso continuava a aparecer na livraria, mas agora já não fingia estar à procura de um livro. Sentava-se no balcão, muitas vezes a conversar com Tomás entre clientes, ou simplesmente a observá-lo enquanto trabalhava. Para Tomás, os dias tornavam-se mais leves com a presença constante de Afonso.

Certa manhã, enquanto ambos tomavam o pequeno-almoço juntos na livraria, um ritual que tinham começado a partilhar, Afonso lançou uma ideia que fez Tomás erguer as sobrancelhas.

- Já pensaste em escrever um livro? - Perguntou Afonso, entre uma dentada num croissant.

Tomás olhou para ele, surpreendido. 

- Eu? Um livro? Nunca pensei nisso a sério. Ler já me ocupa bastante tempo. - Disse com uma gargalhada.

Mas tens tanto para dizer, Tomás. Tens tantas histórias na tua cabeça. E olha para este lugar. - Afonso gesticulou em volta da livraria. - É o cenário perfeito. Podias escrever sobre este mundo que conheces tão bem.

Tomás ficou em silêncio, considerando a ideia. Afonso, sempre cheio de surpresas, estava a abrir-lhe novas portas, novas possibilidades. 

- Talvez tenhas razão. -  Disse finalmente. - Mas... não sei se teria coragem para começar.

Afonso inclinou-se para a frente, com aquele olhar determinado que Tomás aprendera a admirar. 

- Eu vou ajudar-te. Quando te sentires perdido ou sem inspiração, eu estarei aqui.

Tomás sorriu, emocionado pelo apoio de Afonso. Sentia que, desde que o conhecera, algo dentro de si começara a mudar. Ele que sempre se considerara uma pessoa solitária, encontrava agora conforto e incentivo na presença de alguém tão diferente, mas ao mesmo tempo, tão próximo.

E assim, numa pequena livraria que parecia estar sempre a transbordar de histórias, Tomás começou a escrever a sua. Não apenas nas páginas que ia preenchendo com palavras, mas na própria vida que ele e Afonso estavam a construir juntos. Uma vida cheia de amor, cumplicidade e crescimento mútuo, onde cada capítulo prometia ser mais emocionante do que o anterior.

À medida que Tomás começava a explorar o seu novo caminho como escritor, com Afonso sempre ao seu lado para apoiar e incentivar, os dois percebiam que estavam a criar algo raro e bonito. Uma história de dois mundos distintos, que se uniam de forma inesperada, mostrando que, por vezes, é nas diferenças que encontramos o verdadeiro equilíbrio.

Era uma Vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora