Capítulo 9

3 1 0
                                        

O tempo passava e, com a nova livraria já bem estabelecida no centro da cidade, a vida de Tomás e Afonso continuava a ganhar novos contornos. A rotina entre as duas livrarias era intensa, mas eles tinham criado um equilíbrio admirável entre a agitação do negócio e os momentos de pausa só para si. Apesar da correria, faziam questão de manter as suas escapadelas para a livraria à beira-mar, onde tudo tinha começado.

Era um desses fins de semana de retiro na costa que os dois mais ansiavam. O mar batia suavemente nas rochas, e a pequena casa junto à livraria estava iluminada por velas. Tinham acabado de jantar e estavam sentados juntos no sofá, rodeados de livros e com a lareira acesa, o ambiente acolhedor e íntimo. Afonso tinha a cabeça pousada no colo de Tomás, que lia em voz alta um trecho de um romance que ambos adoravam.

- Sabes... - Começou Afonso, interrompendo Tomás com um sorriso de contentamento. - Estes momentos aqui, longe de tudo, fazem-me perceber como a nossa vida mudou tanto, mas ao mesmo tempo, como o essencial entre nós nunca mudou.

Tomás pousou o livro e passou os dedos pelos cabelos de Afonso, sorrindo suavemente. 

- Sim, aqui sinto que tudo volta ao início. À simplicidade. É como se o tempo parasse, só para nos dar um espaço onde podemos respirar, apenas nós dois.

- Precisamos disto mais vezes. - Sugeriu Afonso, fechando os olhos e relaxando com o toque de Tomás. - A correria na cidade, os eventos, as lojas... É ótimo, mas às vezes é fácil esquecer o que realmente importa.

Tomás assentiu. 

- Tens razão. Talvez devêssemos criar mais tempo só para nós, longe da agitação.

Nos meses seguintes, os dois comprometeram-se a reservar mais fins de semana só para eles, a redescobrir aquele espaço à beira-mar que tanto significava para ambos. Era ali, naquela calma entre as ondas e os livros, que ambos se reconectavam com o que era essencial: o amor que tinham um pelo outro, o laço que tinham criado e que continuava a crescer, ano após ano.

Um dia, ao voltarem da sua escapadela à livraria à beira-mar, Afonso recebeu uma notícia inesperada. A federação de desporto local convidara-o para dar uma palestra sobre a importância do bem-estar físico e mental, com um enfoque especial na leitura como uma prática que unia corpo e mente. Era uma oportunidade de ouro, algo que o entusiasmava, mas também o deixava nervoso.

Tomás, sempre o porto seguro, encorajou-o de imediato. 

- Isso é perfeito para ti, Afonso! Tens essa capacidade de inspirar as pessoas a verem o desporto e a leitura de uma forma diferente. Vai ser incrível!

Afonso, no entanto, estava relutante. 

- E se não for o que eles esperam? Eu sei sobre desporto e sobre livros, mas falar para uma audiência tão grande... Não sei se estou preparado.

- Estás mais do que preparado. - Disse Tomás, com convicção. - Já ajudaste tantas pessoas a encontrar o equilíbrio entre o físico e o mental. És um exemplo para tanta gente. E eu estarei lá, na primeira fila, a torcer por ti.

Com o apoio incondicional de Tomás, Afonso começou a preparar-se. A palestra seria num grande auditório, e o evento contava com atletas, treinadores e professores de várias áreas, todos interessados em explorar a ligação entre o corpo e a mente. Na noite da apresentação, o auditório estava cheio. Tomás, sentado na primeira fila, observava Afonso enquanto ele se preparava nos bastidores.

Quando finalmente subiu ao palco, Afonso começou um pouco hesitante, mas rapidamente ganhou confiança. Falou sobre a sua própria experiência, como o desporto sempre foi uma parte fundamental da sua vida, mas como foi a leitura que lhe deu uma nova perspetiva, ajudando-o a encontrar um equilíbrio mais profundo.

- Eu costumava pensar que a força vinha só do corpo. - Disse Afonso para a plateia. - Mas depois conheci o poder das palavras, dos livros. Descobri que a verdadeira força vem da mente, da capacidade de refletir, de se adaptar, de crescer. E, para mim, foi a combinação de ambos que me deu um sentido completo de bem-estar.

O auditório estava em silêncio, absorvendo cada palavra. Tomás, observando com um misto de orgulho e emoção, sabia que aquele momento era mais do que uma simples palestra. Era um marco na vida de Afonso, o culminar de tudo o que tinham construído juntos.

No final da apresentação, Afonso foi aplaudido de pé. Quando desceu do palco, com o coração ainda a bater acelerado, Tomás correu para ele, envolveu-o num abraço apertado e sussurrou.

- Sabia que serias brilhante. Estou tão orgulhoso de ti.

Com o tempo, as palestras de Afonso tornaram-se mais frequentes, e o seu nome começou a ser associado a um novo movimento que promovia o equilíbrio entre o corpo e a mente através do desporto e da leitura. Ele e Tomás, como sempre, encontraram formas de apoiar um ao outro durante esta nova fase.

Mas enquanto a vida de Afonso tomava novos rumos, Tomás começou a sentir uma leve inquietação a crescer dentro de si. A livraria era o seu sonho realizado, e ele amava o que fazia, mas havia algo mais que começava a chamar por ele. Sentia que faltava uma nova forma de expressão, uma forma de partilhar as suas próprias histórias.

Foi numa dessas noites calmas, à beira-mar, que Tomás finalmente confessou o que tinha estado a pensar.

- Sabes, Afonso... - Começou ele, hesitante. - Sempre amei contar histórias. Mas ultimamente, sinto que há uma história dentro de mim que precisa de ser contada. Estava a pensar... Talvez seja altura de escrever outro livro.

Afonso olhou para Tomás com admiração e surpresa. 

- A sério? Tomás, isso é incrível! Sempre soube que tinhas um talento especial para contar histórias, e acho que escreveres outro livro será algo fantástico.

Tomás sorriu, sentindo-se encorajado. 

Com o apoio de Afonso, Tomás começou a trabalhar no seu livro. A escrita era, por vezes, difícil, mas também libertadora. Cada palavra que escrevia parecia trazer um novo significado à sua vida.

Afonso, claro, foi o primeiro a ler os esboços, sempre oferecendo o seu feedback sincero e encorajamento. 

- Tens um dom, Tomás. Esta história vai tocar muitas pessoas. Não pares!

E assim, numa noite tranquila, com as estrelas a brilhar no céu e o mar a sussurrar suavemente ao longe, Tomás terminou o seu segundo livro. Colocou o ponto final na última página e olhou para Afonso, que estava ao seu lado, sorrindo.

- Acabaste? - Perguntou Afonso, ao perceber o brilho nos olhos de Tomás.

- Sim. - Respondeu Tomás, com uma sensação de realização que nunca tinha sentido antes.- Acabei!

E naquele momento, Tomás e Afonso perceberam que, assim como num livro, as suas vidas estavam sempre em construção, sempre a mover-se para o próximo capítulo. Juntos, estavam a escrever uma história de amor, de crescimento e de novas descobertas, uma história que, como os melhores livros, nunca realmente terminava.

Era uma Vez...Onde histórias criam vida. Descubra agora