Era uma Vez...

Capítulo 6

Após a decisão de Afonso de ficar, a vida voltou a fluir num ritmo harmonioso. A livraria de Tomás tornou-se quase o seu refúgio, não só para ele, mas para ambos. A rotina que partilhavam agora tinha um significado mais profundo, com a certeza de que tinham escolhido, conscientemente, estar juntos, apesar das oportunidades e desafios que surgiam.

Com o tempo, Afonso começou a explorar novos interesses. A convivência com Tomás despertou-lhe uma nova paixão pelos livros, especialmente pelos romances e histórias de superação. Ele descobriu que a leitura, tal como o desporto, exigia uma espécie de resistência mental e o prazer de percorrer uma história até ao fim tinha uma satisfação semelhante ao cruzar da meta numa corrida.

Numa noite de outono, quando as folhas caíam lá fora e o vento batia suavemente nas janelas da livraria, os dois estavam sentados juntos, como de costume. Tomás estava a rever o rascunho final do seu livro, agora quase completo, enquanto Afonso folheava um livro de fotografia que encontrara numa das prateleiras. Estavam confortáveis, num silêncio íntimo que só duas pessoas realmente ligadas podiam partilhar.

De repente, Afonso fechou o livro com um pequeno sorriso nos lábios. 

- Sabes, estive a pensar...

Tomás olhou para ele, levantando os olhos do seu trabalho. 

- Sobre o quê?

Afonso apoiou-se no braço do sofá, virando-se para Tomás. 

- Sobre nós. Sobre a livraria. E sobre como me sinto quando estou aqui.

Tomás franziu o sobrolho, interessado. 

- E como é que te sentes?

 - Completo! - Disse Afonso, sem hesitar. - Nunca imaginei que algo tão simples como isto, uma livraria, um espaço tranquilo, pudesse dar-me tanta paz. Sempre pensei que precisava de mais movimento, de mais adrenalina. Mas, desde que comecei a passar mais tempo aqui, percebi que este ritmo... este equilíbrio, é o que eu realmente precisava.

Tomás sorriu suavemente. Ele sabia que a decisão de Afonso ficar tinha sido um grande sacrifício, mas ouvir estas palavras acalmava qualquer dúvida que ainda pudesse ter. 

- Fico feliz por ouvir isso.

- E mais ... - Continuou Afonso, com um brilho nos olhos. - Estava a pensar... e se nós expandíssemos um pouco a livraria? Podíamos criar uma secção dedicada ao desporto, ao ar livre, talvez até organizar encontros para leitores que também são desportistas. Sei que não parece a combinação mais óbvia, mas aposto que há mais pessoas como eu por aí. Gente que gosta de correr, fazer exercício, mas também de se perder num bom livro.

Tomás ficou a olhar para ele, surpreendido pela ideia. 

- Isso... seria incrível! Nunca tinha pensado nisso, mas faz todo o sentido. E seria uma ótima maneira de atrair novos clientes.

Afonso riu-se, claramente animado com a possibilidade. 

- Já me imagino a organizar grupos de leitura que, no fim, fazem uma pequena corrida ou caminhada juntos.

Tomás riu-se, a ideia enchendo-o de entusiasmo. 

- Afonso, tu e as tuas ideias malucas... Mas sabes que mais? Eu adoro-as. Vamos fazer isso.

Afonso inclinou-se para a frente e beijou Tomás, sentindo-se mais seguro e confiante do que nunca. Ele não só tinha encontrado o amor, mas também uma nova paixão, uma forma de combinar os seus interesses com a vida que ele e Tomás estavam a construir juntos.

Nas semanas que se seguiram, a livraria começou a transformar-se lentamente. Afonso passou a organizar eventos que juntavam desporto e literatura, algo completamente novo para os clientes habituais da livraria. Começaram com pequenos grupos de corredores que se encontravam para discutir livros antes de uma corrida ao longo da costa. A ideia parecia improvável a princípio, mas logo começou a ganhar popularidade.

Tomás observava tudo com um sorriso no rosto. Afonso tinha trazido uma nova vida à livraria, e os dois estavam mais próximos do que nunca. Entre os eventos, os jantares caseiros e os momentos tranquilos que passavam juntos, Tomás sentia que o seu coração estava pleno. E, além disso, o seu livro estava prestes a ser publicado, algo que ele nunca teria tido coragem de fazer sem o apoio constante de Afonso.

Uma noite, depois de um dos eventos desportivos-literários, Afonso e Tomás sentaram-se no pequeno balcão da livraria, a beber uma garrafa de vinho enquanto fechavam o caixa. Estavam exaustos, mas felizes.

- Sabes... - Disse Tomás, olhando para Afonso. - Nunca imaginei que a minha vida pudesse ser tão cheia de coisas boas. Tenho-te a ti, tenho a livraria, e agora o meu livro... Sinto-me a viver num sonho.

Afonso pousou o copo de vinho e aproximou-se de Tomás, envolvendo-o num abraço carinhoso.

- Eu também. E sinto que estamos apenas no início. Temos tanto pela frente.

Tomás sorriu, encostando a cabeça ao ombro de Afonso. 

- Tens razão. E mal posso esperar para ver o que vem a seguir.

Nos meses que seguiram, o sucesso da livraria continuou a crescer, e o livro de Tomás foi finalmente publicado. Afonso, sempre o seu maior fã, organizou uma grande festa de lançamento, onde o próprio Tomás fez uma leitura pública do primeiro capítulo. Foi um momento emocionante, com a livraria cheia de amigos, clientes e familiares, todos aplaudindo Tomás por alcançar um dos seus maiores sonhos, revelados por Afonso.

Depois da leitura, Tomás ficou rodeado por amigos e leitores a pedir autógrafos. No meio da confusão, ele procurou com o olhar por Afonso. Quando o encontrou, encostado numa prateleira, a observar a cena com um sorriso orgulhoso, Tomás sentiu uma onda de gratidão. Afonso era o seu ponto de equilíbrio, a pessoa que tinha acreditado nele desde o início e que continuava a inspirá-lo todos os dias.

No final da noite, depois de todos terem saído, Tomás e Afonso ficaram sozinhos na livraria. As luzes suaves iluminavam o espaço de forma acolhedora, e o som distante das ondas do mar podia ser ouvido pela janela entreaberta.

- Conseguimos! - Disse Tomás, sentindo-se em paz.

Afonso sorriu e puxou-o para um abraço apertado.

- Sim, conseguimos. E isto é só o começo, amor.

E assim, entre livros, corridas e sonhos partilhados, a história de Tomás e Afonso continuava a ser escrita. Não apenas nas páginas de um romance, mas nos momentos do dia a dia, onde o amor e a amizade se entrelaçavam, criando algo verdadeiramente único e duradouro.