Capítulo 7

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Com o tempo, a vida de Tomás e Afonso começou a ganhar novas cores, com a livraria a tornar-se um ponto de encontro para uma comunidade vibrante de leitores e desportistas. A ideia de juntar livros e atividades ao ar livre cresceu tanto que a pequena livraria, outrora um lugar tranquilo e íntimo, estava agora repleta de energia e dinamismo.

Era uma manhã de primavera, o sol brilhava e o ar estava fresco, perfumado pelas flores que começavam a desabrochar. Tomás e Afonso estavam na livraria a preparar-se para mais um evento especial: uma caminhada literária pelos trilhos à beira-mar. Um grupo de leitores juntava-se para uma caminhada, com paragens ao longo do percurso para discutir trechos de livros escolhidos por Tomás.

- Achas que vai correr bem? - Perguntou Tomás, um pouco nervoso enquanto ajustava o cachecol ao pescoço.

Afonso riu-se e deu-lhe um abraço rápido. 

- Claro que vai! Todos adoram estas caminhadas. E além disso, quem não quer aproveitar um dia assim, com uma boa conversa sobre livros?

Tomás sorriu, mas ainda havia uma ligeira ansiedade no seu olhar. Ele adorava o crescimento da livraria, mas às vezes sentia-se um pouco sobrecarregado com as novas responsabilidades. Felizmente, Afonso estava sempre lá para equilibrar a situação, com a sua abordagem descontraída e positiva.

A caminhada foi um sucesso, como Afonso tinha previsto. Os leitores pararam em miradouros ao longo da costa para discutir as passagens selecionadas, e Tomás observou com prazer o quanto as pessoas estavam a gostar. Aquele pequeno projeto que começou como uma ideia improvável tinha-se transformado num fenómeno, e Tomás não podia deixar de sentir orgulho.

Depois do evento, de volta à livraria, os dois estavam a fechar as portas quando Afonso se virou para Tomás com um brilho nos olhos. 

- Estava a pensar... E se fizéssemos algo ainda maior?

Tomás levantou uma sobrancelha, curioso. 

- Maior como?

- Estava a pensar num retiro literário. - Sugeriu Afonso, claramente entusiasmado com a ideia. - Uma semana inteira, num lugar mais afastado, onde as pessoas pudessem ler, discutir livros e talvez até experimentar atividades ao ar livre. Algo mais profundo e imersivo.

Tomás ficou a olhar para Afonso, fascinado. 

- Um retiro literário? Isso seria... incrível! Mas também uma grande responsabilidade.

Afonso sorriu e colocou uma mão no ombro de Tomás. 

- Nós conseguimos, como sempre. Imagina só: um lugar tranquilo, no meio da natureza, sem distrações... As pessoas iam adorar.

O entusiasmo de Afonso era contagiante, e antes que Tomás pudesse realmente processar, já estava a imaginar como tudo poderia funcionar. Nos dias seguintes, os dois começaram a trabalhar no plano, procurando lugares, definindo a logística e contactando escritores para possíveis participações.

E assim, poucos meses depois, o primeiro retiro literário organizado por Tomás e Afonso tornou-se uma realidade. O local escolhido era uma casa de campo, rodeada de verde e com trilhos por entre as árvores que levavam até um rio. O retiro foi um sucesso absoluto. Durante uma semana, os participantes mergulharam nos livros e na natureza, criando laços uns com os outros e também com Tomás e Afonso, que lideravam as sessões de leitura e organizavam as caminhadas.

Uma noite, depois de um dia particularmente inspirador, em que um dos autores convidados partilhou a sua jornada pessoal com os participantes, Tomás e Afonso sentaram-se lado a lado numa fogueira ao ar livre, a observar as chamas a dançar ao ritmo do vento.

- Lembro-me da primeira vez que te vi na livraria. - Disse Tomás, sorrindo para Afonso. - Nunca imaginei que chegássemos a este ponto. Parece surreal.

Afonso riu-se, lembrando-se do seu nervosismo nas primeiras visitas à livraria. 

- Eu também nunca pensei que aquela livraria tranquila pudesse mudar tanto a minha vida. Mas aqui estamos, a fazer algo juntos que nunca imaginei.

Ficaram em silêncio por um momento, contemplando as estrelas que começavam a brilhar no céu noturno. O som suave do rio a correr ao longe misturava-se com o crepitar da fogueira, criando uma atmosfera de paz e tranquilidade.

- Sabes... - Começou Afonso, virando-se para Tomás. - Eu acho que estamos prontos para mais um passo.

Tomás franziu o sobrolho, ligeiramente confuso. 

- Mais um passo? A que te referes?

Afonso respirou fundo e, sem desviar o olhar, disse... 

- Quero que fiques comigo... para sempre. Não estou a falar só de namorar ou de viver juntos. Quero algo mais. Quero casar contigo, Tomás!

O coração de Tomás parou por um momento. Ele olhou para Afonso, atónito, e sentiu as lágrimas a formarem-se nos seus olhos. Era algo que nunca tinha imaginado ouvir, mas ao mesmo tempo, algo que sempre desejara, mesmo que não o tivesse admitido.

- Casar? - Perguntou, a voz a falhar-lhe por causa da emoção.

Afonso assentiu, com um sorriso calmo mas determinado. 

- Sim. Quero que saibas que estou comprometido contigo, que quero construir uma vida contigo, formalizar o que já temos. Porque o que temos é raro, e eu não quero perder isso. Mesmo que tenha passado pouco tempo.

Tomás riu-se, com as lágrimas agora a escorrerem livremente pelo rosto. 

- Claro que sim! Claro que quero casar contigo, Afonso!

Afonso soltou uma gargalhada de alívio e puxou Tomás para um abraço apertado, os dois rindo e chorando ao mesmo tempo, rodeados pelo calor da fogueira e pelo brilho suave das estrelas.

Naquele momento, tudo parecia fazer sentido. O percurso que começaram na livraria, as mudanças, os desafios e as alegrias, tudo os tinha levado até ali. E naquele instante, sentados juntos na noite tranquila, perceberam que a verdadeira magia não estava apenas nos livros ou nas aventuras, mas na escolha de partilharem as suas vidas, de forma incondicional e eterna.

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