Nova Aurora

Capítulo 34: A Decisão de Albert e o Alívio Inesperado

O sol nascia sobre Nova Aurora, tingindo o céu com uma luz suave, mas a vila estava longe de refletir a serenidade da manhã. As muralhas da vila, que antes se erguiam imponentes, agora mostravam as cicatrizes das batalhas recentes. Fissuras se espalhavam pelos muros, pedaços de tijolos e destroços estavam espalhados pelo chão, enquanto os poucos moradores que restavam moviam-se com passos pesados, exaustos e cobertos de poeira e fuligem. O ar, antes vibrante com o som da vida, estava agora pesado com a tensão silenciosa de um povo que sabia que sua paz era temporária.

Dentro da casa de Albert, parcialmente destruída, estavam reunidos os seus líderes da Vila. O cansaço em seus olhos de Albert era evidente, mas sua postura permanecia firme, como a de alguém que carrega o peso da sobrevivência de todos. Hariet estava ao seu lado, afivelando o cinto com suas armas, enquanto olhava para Albert com uma expressão resoluta, apoiando-o em silêncio. Urso, com o corpo marcado por cicatrizes de batalhas passadas, mantinha-se em pé, mesmo ainda sentindo a dor dos ferimentos que havia sofrido. Sofia, sempre meticulosa, estava sentada à mesa, o rosto tenso, analisando mentalmente cada risco e possibilidade.

A discussão tinha sido longa. Desde o início, Albert soubera que a oferta de Dravos era uma armadilha. Eles não estavam oferecendo proteção; estavam propondo um controle disfarçado, uma aliança que não era benéfica para Nova Aurora, mas sim um passo para garantir que a vila fosse absorvida por suas ambições. Aceitar essa ajuda significaria renunciar à liberdade que tanto lutaram para conquistar.

Albert se levantou da mesa de madeira improvisada, as mãos apoiadas firmemente na superfície desgastada. Ele olhou para cada um dos presentes, vendo o cansaço e a preocupação em seus rostos, mas também algo mais: confiança. Eles esperavam uma decisão. Sabiam que, como líder, ele tomaria o caminho que acreditava ser o melhor para todos.

"Não podemos aceitar", disse Albert, sua voz firme e clara, ecoando pelo pequeno espaço. "Se nos aliarmos a Dravos, não será uma aliança de iguais. Eles vão nos consumir, nos transformar em apenas mais um de seus postos avançados. Lutamos muito para conquistar nossa independência, e não vou entregá-la a ninguém."

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas Hariet quebrou-o primeiro, balançando a cabeça em concordância. "Albert está certo", disse ela, com a voz firme. "Aceitar a ajuda de Dravos é o mesmo que se render. Eles não nos vêem como aliados. Para eles, somos apenas uma ferramenta que pode ser usada e depois descartada. Nova Aurora precisa ser forte por conta própria."

Sofia, que havia permanecido em silêncio até então, suspirou profundamente. Seus olhos, normalmente calculistas, estavam agora cheios de preocupação. "Entendo o que você está dizendo, Albert", começou ela, medindo cuidadosamente suas palavras. "Mas estamos com poucos recursos, nossas muralhas estão fracas, e não temos gente suficiente para resistir a outro ataque. Recusar a oferta de Dravos pode nos condenar."

"Eu sei", Albert respondeu suavemente, mas com firmeza. "Sei o que estamos arriscando. Mas se cedermos agora, perderemos muito mais do que nossos recursos. Perderemos a alma de Nova Aurora."

Urso, sempre o pragmático, respirou fundo e olhou para Albert, avaliando a situação. "Você sabe que eu confio em você, Albert", disse, sua voz grave e cheia de peso. "Mas as defesas estão fracas. Se Dravos decidir atacar, não sei se conseguiremos segurar por muito tempo."

"Confio em você, Urso", Albert respondeu, encarando o amigo de longa data. "Mas também sei que somos mais fortes do que parecemos. Podemos não ter os números, mas temos determinação. E isso já nos salvou antes."

O clima na sala era tenso, cada respiração parecia pesada. A decisão de Albert, embora bem fundamentada, trazia consigo o risco de uma nova guerra. Mas, naquele momento, era a única decisão que poderia preservar o que Nova Aurora representava: a liberdade, a luta por um futuro sem servidão.