Capitulo 02: O escravo novo.

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O sol ainda não havia surgido no horizonte quando Hariet despertou com a voz severa de Rilda, anunciando um dia de trabalho intenso. Novos escravos estavam a caminho da mina, trazendo consigo um ar sombrio e opressor. O coração de Hariet pesava, pois sabia que aquele seria um dia sem descanso, repleto de tarefas exaustivas. Todas as mulheres escravas se preparavam para receber os cativos recém-chegados, com a obrigação de preparar mais comida e tecer mais roupas para as almas cansadas que em breve se juntariam a elas.

O relógio mal marcava 5 horas da manhã quando Hariet já se encontrava imersa no preparo da refeição para todos. As chamas crepitavam na lareira enquanto ela mexia a panela com mãos trêmulas. Rilda, por sua vez, se dedicava a organizar as roupas, separando-as meticulosamente para a distribuição entre os novos escravos. A tensão no ar era palpável, agravada pela presença dos guardas, cuja evidência automática era a necessidade de redobrar a segurança. Era comum que os cativos recém-chegados tentassem fugir, e as consequências dessa ousadia fossem brutalmente violentas, como Hariet se lembrava com amargura dos corpos tombados dos que se aventuraram a tentar escapar.

Quando a comida estava finalmente pronta, Hariet se dirigiu à cela. Uma enorme tábua de madeira repousava sobre os ombros, sustentada por suas mãos calejadas, e panelas cheias de mingau de trigo pesavam em seus braços. Pouco a pouco, rostos desconhecidos emergiram do calabouço, escoltados pelos guardas carrancudos. Um a um, eles seguiram em fila, enquanto Hariet servia a refeição com mãos trêmulas. Sua alma doía ao presenciar o cansaço e o desespero estampados na face dos recém-chegados, mas ela não podia se permitir mostrar qualquer tipo de compaixão. Apenas cumpria seu papel, movendo-se mecanicamente, que vislumbrou dois homens saindo da cela. O primeiro possuía uma estatura imponente, uma força bruta que intimidava. No entanto, foi o outro homem que roubou sua atenção. Seus cabelos negros caem emoldurando um rosto magro, mas foi o brilho daqueles olhos castanhos claros que a cativou por um instante fugaz. Um arrepio percorreu sua espinha e, como se estivesse desafiando a própria existência, seu corpo recuou involuntariamente, cedendo o lugar para outra escrava, que a encarou com desdém enquanto servia os dois homens.

Com o termino das obrigações matinais, Hariet passou ao aposento das escravas, permitindo-se um momento de recolhimento. Enquanto suas mãos descansavam no colo, ela fechava os olhos e visualizava o rosto daquele homem de olhos castanhos. Um turbilhão de emoções que se apossou dela a levou a questionar seu próprio destino. Foi então que Rilda a interrompeu, motivada-a para ajudar a limpar a sala dos guardas e os aposentos do chefe da mina, Darius.

Relutante, Hariet seguiu Rilda aos aposentos do tirano Darius. Assim que seus olhares se cruzaram, uma expressão de perversão contornou os lábios de Darius, e um desejo doentio ardeu em seus olhos. Sua voz carregava um tom de sadismo enquanto ele chamava Hariet para perto, mencionando os hematomas deixados pelos encontros anteriores. Um calafrio percorreu o corpo dela, e a consciência de seu destino inevitavelmente a dominou. Sem opção, resignou-se, sabendo que a única maneira de escapar daquele pesadelo era permitir que ele se desenrolasse mais uma vez. A falta de resistência por parte dela deixou Darius ainda mais insatisfeito, e a violência se abateu sobre seu corpo, até que a escuridão lhe roubasse a consciência.

Quando Hariet despertou, sua visão estava turva, seu corpo dolorido e marcado por hematomas. Ela sabia o que tinha experimentado, não precisava de provas além das evidências físicas. Como se estivesse sobre um encanto, conheceu suas poucas posses e concluiu a tarefa de limpeza, mesmo que cada movimento fosse acompanhado de dor lancinante. Caminhou até a cozinha, onde a obrigação de servir a segunda e última refeição dos escravos aguardava por ela.

Enquanto distribuía as tigelas, seu olhar encontrou novamente o homem de olhos castanhos. Uma vontade avassaladora de chorar a invadiu, mas ela manteve a cabeça baixa, ocultando as lágrimas que ameaçavam transbordar. Uma chama de esperança, porém, ardia dentro dela, inexplicável e incontrolável. Silenciosamente, ela serviu, evitando qualquer contato visual. Quando finalmente suas tarefas do dia chegaram ao fim, Hariet pôde descansar. Uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, testemunha silenciosa de sua dor e enfermidade. Naquele instante, ela sentiu que não podia mais continuar vivendo aquela existência cruel. Era hora de se erguer, desafiar as correntes que aprisionavam e encontrar um novo amanhecer, onde a esperança e conseguiria vencer e finalmente prevalecer.

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