Nova Aurora

Capítulo 38: O Caminho do Conhecimento

O Eco da Inovação: O Fracasso que Forja a Esperança

A luz do amanhecer tingia o céu com pinceladas douradas, enquanto a névoa matinal ainda se agarrava às árvores e às muralhas de Nova Aurora, criando uma cortina úmida que flutuava sobre a terra. O ar era fresco, com um leve aroma de grama molhada e a doçura distante das flores selvagens que cresciam nas proximidades. Na área de testes, a brisa gentil movia suavemente as folhas, trazendo consigo o cheiro metálico e penetrante das ferramentas de ferro espalhadas pelo solo, misturado ao odor acre da pólvora que permeava o ambiente.

Albert estava de pé, com os olhos semicerrados, observando com atenção o horizonte rubro que antecedia o sol nascente. O vento frio acariciava seu rosto, e o peso invisível de suas decisões se fazia sentir mais pesado do que qualquer vento que soprasse sobre aquela terra. Ao seu lado, Erik, o ferreiro da vila, fazia os últimos ajustes no canhão experimental. Seus dedos, grossos e calejados, moviam-se com precisão enquanto apertava os parafusos e pinos metálicos, o som de ferro contra ferro ecoando brevemente pelo campo.

O ambiente estava carregado de tensão, e todos podiam sentir isso. Os soldados, alinhados à distância, observavam o processo em silêncio. O som de suas botas sobre o chão de pedra quebrava o silêncio em intervalos regulares, enquanto suas respirações se tornavam visíveis no ar frio da manhã.

Lena, a jovem engenheira e química da vila, observava ansiosa. Seu coração batia rápido, e suas mãos, antes firmes e seguras, agora tremiam levemente enquanto ela ajustava o ângulo do canhão, suas palmas suadas contrastando com o aço frio da arma. O cheiro de metal aquecido pelo atrito enchia seus sentidos, intensificando a ansiedade que pulsava em suas veias. Ela sabia que aquele era um momento decisivo. A sensação da umidade no ar, o gosto amargo da expectativa na boca, tudo se misturava em uma cacofonia de sentidos que a deixava alerta.

"Preparados?", Albert perguntou, sua voz soando grave e baixa. Seu tom parecia ecoar na vastidão ao redor.

Erik assentiu em silêncio, seus olhos brilhando com a expectativa do disparo, e, com um movimento firme, acionou o mecanismo.

Por um breve instante, o mundo parecia segurar a respiração. O estalo inicial do disparador foi seguido por um rugido profundo, como o trovão engolido pela terra. Em um segundo, o protótipo do canhão tremeu violentamente, emitindo um som agudo que cortou o ar como uma lâmina, e, no instante seguinte, explodiu. O impacto foi ensurdecedor.

Uma onda de choque percorreu o campo, e o som da explosão reverberou pelas muralhas. Fragmentos de metal rasgaram o ar, quentes e afiados, enquanto uma fumaça densa, carregada do cheiro ácido de pólvora queimada, tomou conta do lugar. O chão tremeu sob os pés de Albert, e uma pressão invisível, mas intensa, empurrou os corpos para trás, como se a própria terra gritasse em dor.

Os soldados mais próximos foram arremessados pelo impacto. Urso, com seu instinto aguçado, foi o primeiro a se mover. Mesmo antes da fumaça clarear, seus passos já ecoavam no terreno. Suas mãos, fortes como aço, agarraram o corpo de um soldado ferido, ainda quente e ensanguentado. O cheiro ferroso do sangue recém-derramado invadiu suas narinas, misturando-se com a poeira e o odor queimado que impregnava o ar. Sua pele sentia o calor residual dos fragmentos do canhão enquanto ele arrastava o soldado para um local seguro, sua respiração ofegante e ritmada.

Lena, por sua vez, havia congelado no lugar. Seus olhos arregalados refletiam o caos à sua frente. O barulho da explosão ainda ecoava em sua cabeça, junto com os gritos abafados dos soldados feridos. Suas mãos tremiam incontrolavelmente, e o gosto metálico de adrenalina inundava sua boca. Ela não conseguia se mover, seu corpo paralisado pelo medo do fracasso.

Albert, no entanto, estava ao seu lado em um instante. Com uma calma quase sobre-humana, ele colocou uma mão firme sobre o ombro de Lena. O toque de sua pele, fria e úmida, encontrou o calor tenso da jovem, e, naquele simples gesto, ela sentiu um peso imenso ser retirado de seus ombros.